Em São Paulo já se ouviram muitos "olés"
(…) São Paulo, sem preconceito de raça,
Sem preconceito de cor,
Povo simples, mas viril,
São Paulo, seu coração está batendo,
Ao mundo inteiro dizendo,
São Paulo, é o coração do Brasil...
Sem preconceito de cor,
Povo simples, mas viril,
São Paulo, seu coração está batendo,
Ao mundo inteiro dizendo,
São Paulo, é o coração do Brasil...
(São Paulo, Coração do Brasil de David
Nasser/Francisco Alves)
Bem, nem era sobre isto que eu escreveria esta
semana, mas a curiosidade de um amigo me fez pensar melhor neste
assunto: Touradas.
Muitas pessoas não sabem, mas os gritos de
"olé" e a alegria das arquibancadas das touradas tão
comumente associadas à Espanha, já fizeram parte da vida de São
Paulo. Existiam diversas apresentações e a elas eram bem populares,
sendo acompanhadas por diversas famílias até.
Na verdade, no Largo dos Curros existia uma
arena para este esporte. Sabe onde era esta arenas? Na Praça da
República, no Centro da cidade, era esta praça que recebia os
esportistas e seus torcedores. Esta história não é bem comum, mas
é real e esta registrada em alguns livros.
A tourada surgiu no século XIII, tornando se
popular mais popular em Portugal e na Espanha no século XVII.
Aportou no Brasil no século XIX, como forma de lazer para a Coroa e
os nobres de então. Afinal, a Família Real precisava de
entretenimento enquanto vivia por estas terras!
Em São Paulo as touradas começaram acontecer em
1817 e era um espetáculo de improviso, assim acontecia nas praças,
que depois voltava a ser usada pela população, quando
desmontavam-se as armações das touradas. Mas ao tornar-se comum,
viram a necessidade de criar um espaço e assim fizeram as arenas,
que tinha espaços específicos para os diversos tipos de
espectadores, contendo arquibancadas e camarotes.
O lugar
escolhido para a construção da arena foi Praça das Milícias, que
pertencia a José Arouche de Toledo Rondon, um marechal. Mas os
espetáculos que aconteciam no Largo dos Curros era um tanto
mambembe, já que consistia mais em um tipo de balé, onde peões
imitavam os toureiros europeus. Só na década de 80 foi que
aconteceu as primeiras touradas dentro dos padrões de Portugal e
Espanha.
Dá para imaginar como se deram as coisas! Uma
produção nos moldes internacionais patrocinadas por Antônio
Aragon, um investidor espanhol, por certo abalou a Sociedade
paulistana e até os peões que tinham desejo de ingressar neste
esporte tão visado pelos nobres! Sabe-se que a inauguração das
touradas, que segundo os historiadores iniciou-se fora da data
prometida – coisas de São Paulo – foi um sucesso de público. O
engenheiro responsável pela construção da arena – na verdade um
anfiteatro de madeira – era Daniel Pedro Müller (1785-1841) , que
era um marechal de campo. Na verdade, Daniel Pedro Müller era
um engenheiro de destaque, por ser o último com formação militares
e de nacionalidade portuguesa atuante em São Paulo. Assim, foi o
responsável por estabelecer a ligação entre a tradição da
engenharia lusitana e os engenheiros práticos brasileiros formados
no Gabinete Topográfico, que era uma escola criada em 1836, por
ele. Ele era formado na Real Escola dos Nobres de Lisboa e por isto
era tão requisitado e respeitado. Por estes motivos foi escolhido
para trabalhar junto ao Governo e foi responsável por diversas obras
– inclusive esta, a arena do Largo dos Curros.
A
arena mais famosa sem dúvida foi a do Largo dos Curros, mas foram
criadas outras em Campo Belo, na Vila Mariana e na Rua Dona Antônia
Queiroz, no Brás – que apesar de constar informações em livros
éde total desconhecimento do público. Só que desde o início
destas touradas havia um movimento contrário a elas, onde várias
vozes se ouviam em críticas que foram aos poucos sendo ouvidas e o
desejo pelo sangue, que era o que entusiasmava as pessoas, foi se
arrefecendo e depois de quase 60 anos de touradas, as arenas foram
fechadas na capital e cidades circunvizinhas e seguiram rumo ao
interior e até outros Estados, que não tinham as mesmas
preocupações humanitárias que se levantava em São Paulo.
Com o fim das touradas, tornou-se um espaço para
treinamento de cocheiros e cavalos, afinal, era através destes
animais que se fazia grande parte do transporte da cidade paulista.
A Praça da República – que recebeu este nome
em 1889, com o advento da Proclamação da República – esteve
sempre na crista da onde, sendo sempre vista como importante por tudo
que já aconteceu ali. Nos anos 40, artistas plásticos e artesãos
começaram expor seus trabalhos ali, criando um novo “point”
artístico. Esta atividade diminuiu muito, mas não se extinguiu,
pois até hoje existem expositores ali e é como Praça Artística
que ela é reconhecida hoje.
A Praça da República
A Praça da República é na verdade um dos
menores distritos de São Paulo, tendo aproximadamente 50 mil
habitantes.
Conhecida hoje pela Feirinha de Domingo - que acontece também aos sábados - onde há
diversas apresentações de artistas musicais e até de circo, a
Praça da República tem sua forma original inspirada nas construções
europeias, tem um charme todo seu, que é apreciado não só pelos
moradores de São Paulo, como pelos turistas nacionais e
internacionais, que aparecem por lá para ver a vida acontecer. Com
fontes e chafariz, com belas árvores antigas, é uma opção de
passeio barata, onde pode-se comprar desde lembrancinhas a belos
presentes e comer bem, ouvindo boa música.
As barracas de artesanato representam os estados
do Nordeste e Norte. Mas não são só as artes nacionais que fazem
sucesso, ali são representados, em artesanatos, os países vizinhos,
como Peru, Argentina, além de outros continentes até, já que
vende-se brincos, colares e outros objetos de diversas nações,
criados em sua maioria por brasileiros e alguns 'hippies'
remanescentes.
*************
Ler:
São Paulo e Outras Cidades, de Nestor Goulart
Reis Filho e
Vida Cotidiana em São Paulo no século XIX, de
Carlos Eugênio Marcondes de Moura.
Glossário
Curro = o local de confinamento de touros, antes e depois de corridas
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seja bem vindo sempre aqui.Aproveite que veio e visitou e faça uma blogueira feliz:Comente!
De acordo com a Justiça o autor do blog não está livre de uma eventual responsabilidade civil ou mesmo criminal por causa de comentários deixados por leitores. Portanto faremos o controle dos comentários aqui expostos.
A Constituição Federal garante a livre manifestação do pensamento, mas veda expressamente o anonimato (art.5º, IV), por isso comentários anônimos não serão mais permitidos!
Sem contar que comentários que difamem o autor, o Blog ou o personagem descrito na matéria serão proíbidos!