quarta-feira, dezembro 05, 2012

Em São Paulo já se ouviram muitos "olés"

 Em São Paulo  já se ouviram muitos "olés"


(…) São Paulo, sem preconceito de raça,
Sem preconceito de cor,
Povo simples, mas viril,
São Paulo, seu coração está batendo,
Ao mundo inteiro dizendo,
São Paulo, é o coração do Brasil...
(São Paulo, Coração do Brasil de David Nasser/Francisco Alves) 

Bem, nem era sobre isto que eu escreveria esta semana, mas a curiosidade de um amigo me fez pensar melhor neste assunto: Touradas.
Muitas pessoas não sabem, mas os gritos de "olé" e a alegria das arquibancadas das touradas tão comumente associadas à Espanha, já fizeram parte da vida de São Paulo. Existiam diversas apresentações e a elas eram bem populares, sendo acompanhadas por diversas famílias até.
Na verdade, no Largo dos Curros existia uma arena para este esporte. Sabe onde era esta arenas? Na Praça da República, no Centro da cidade, era esta praça que recebia os esportistas e seus torcedores. Esta história não é bem comum, mas é real e esta registrada em alguns livros.
A tourada surgiu no século XIII, tornando se popular mais popular em Portugal e na Espanha no século XVII. Aportou no Brasil no século XIX, como forma de lazer para a Coroa e os nobres de então. Afinal, a Família Real precisava de entretenimento enquanto vivia por estas terras!


Em São Paulo as touradas começaram acontecer em 1817 e era um espetáculo de improviso, assim acontecia nas praças, que depois voltava a ser usada pela população, quando desmontavam-se as armações das touradas. Mas ao tornar-se comum, viram a necessidade de criar um espaço e assim fizeram as arenas, que tinha espaços específicos para os diversos tipos de espectadores, contendo arquibancadas e camarotes.
 
O lugar escolhido para a construção da arena foi Praça das Milícias, que pertencia a José Arouche de Toledo Rondon, um marechal. Mas os espetáculos que aconteciam no Largo dos Curros era um tanto mambembe, já que consistia mais em um tipo de balé, onde peões imitavam os toureiros europeus. Só na década de 80 foi que aconteceu as primeiras touradas dentro dos padrões de Portugal e Espanha.
Dá para imaginar como se deram as coisas! Uma produção nos moldes internacionais patrocinadas por Antônio Aragon, um investidor espanhol, por certo abalou a Sociedade paulistana e até os peões que tinham desejo de ingressar neste esporte tão visado pelos nobres! Sabe-se que a inauguração das touradas, que segundo os historiadores iniciou-se fora da data prometida – coisas de São Paulo – foi um sucesso de público. O engenheiro responsável pela construção da arena – na verdade um anfiteatro de madeira – era Daniel Pedro Müller (1785-1841) , que era um marechal de campo. Na verdade, Daniel Pedro Müller era um engenheiro de destaque, por ser o último com formação militares e de nacionalidade portuguesa atuante em São Paulo. Assim, foi o responsável por estabelecer a ligação entre a tradição da engenharia lusitana e os engenheiros práticos brasileiros formados no Gabinete Topográfico, que era uma escola criada em 1836, por ele. Ele era formado na Real Escola dos Nobres de Lisboa e por isto era tão requisitado e respeitado. Por estes motivos foi escolhido para trabalhar junto ao Governo e foi responsável por diversas obras – inclusive esta, a arena do Largo dos Curros.

A arena mais famosa sem dúvida foi a do Largo dos Curros, mas foram criadas outras em Campo Belo, na Vila Mariana e na Rua Dona Antônia Queiroz, no Brás – que apesar de constar informações em livros éde total desconhecimento do público. Só que desde o início destas touradas havia um movimento contrário a elas, onde várias vozes se ouviam em críticas que foram aos poucos sendo ouvidas e o desejo pelo sangue, que era o que entusiasmava as pessoas, foi se arrefecendo e depois de quase 60 anos de touradas, as arenas foram fechadas na capital e cidades circunvizinhas e seguiram rumo ao interior e até outros Estados, que não tinham as mesmas preocupações humanitárias que se levantava em São Paulo.
Com o fim das touradas, tornou-se um espaço para treinamento de cocheiros e cavalos, afinal, era através destes animais que se fazia grande parte do transporte da cidade paulista.
A Praça da República – que recebeu este nome em 1889, com o advento da Proclamação da República – esteve sempre na crista da onde, sendo sempre vista como importante por tudo que já aconteceu ali. Nos anos 40, artistas plásticos e artesãos começaram expor seus trabalhos ali, criando um novo “point” artístico. Esta atividade diminuiu muito, mas não se extinguiu, pois até hoje existem expositores ali e é como Praça Artística que ela é reconhecida hoje.

A Praça da República

A Praça da República é na verdade um dos menores distritos de São Paulo, tendo aproximadamente 50 mil habitantes.
Conhecida hoje pela Feirinha de Domingo - que acontece também aos sábados -  onde há diversas apresentações de artistas musicais e até de circo, a Praça da República tem sua forma original inspirada nas construções europeias, tem um charme todo seu, que é apreciado não só pelos moradores de São Paulo, como pelos turistas nacionais e internacionais, que aparecem por lá para ver a vida acontecer. Com fontes e chafariz, com belas árvores antigas, é uma opção de passeio barata, onde pode-se comprar desde lembrancinhas a belos presentes e comer bem, ouvindo boa música.
As barracas de artesanato representam os estados do Nordeste e Norte. Mas não são só as artes nacionais que fazem sucesso, ali são representados, em artesanatos, os países vizinhos, como Peru, Argentina, além de outros continentes até, já que vende-se brincos, colares e outros objetos de diversas nações, criados em sua maioria por brasileiros e alguns 'hippies' remanescentes.

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Ler:
São Paulo e Outras Cidades, de Nestor Goulart Reis Filho e
Vida Cotidiana em São Paulo no século XIX, de Carlos Eugênio Marcondes de Moura.
Glossário
Curro = o local de confinamento de touros, antes e depois de corridas



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