sexta-feira, dezembro 27, 2019

Gratidão. Afinal, agradecer é preciso - sobre 2019 e Detox Literário

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Bem, bem, 2019 está indo embora. Mas não foi uma ano só de tristezas e perdas. Foi de conquistas. Aprendizados. Promessas. Esperanças. Desafios Literários. Feitura de Originais... Ops, Desafios Literários!
Vamos conversar sobre esse tema?
Bem. Em 2019 conheci o Desafio Literário do site Entre-Contos. Interessante, com regras muito parecidas com os jogos de futebol e dividido em Três Fases.  Os textos eram enviados com pseudônimos, para que os participantes ficassem tranquilos ao comentar. Comecei na primeira rodada da Liga. Era um tema de suspense e comecei com "A Passagem Secreta". Recebi comentários interessantes. Alguns até vibrantes.
Na segunda rodada, confesso que participei só para não diminuir quorum, entretanto enviei um texto que considerei denso e falava sobre Narcismo Materno com requinte de crueldades: "Mater Malum - A Mensageira do Mal", Conto que me garantiu subir para a série B. Na terceira rodada enviei o texto "Desejos Impuros", que quase me manda de volta para a série C.


Na quarta e última rodada, concorri com o Conto "A Pecadora". Foi uma experiência interessante.
Agradeço aqui aos criadores do projeto e aos responsáveis por Fabio Baptista e Gustavo Araújo.
Vale lembrar que há muitos bons textos publicados no site e vocês estão convidados para fazer uma leitura e, se desejar, comentar.
Abraços,
da amiga Elisabeth Lorena Alves


quarta-feira, agosto 07, 2019

SER MULHER - Um dedo de prosa e uma Poesia

Hoje, com TPM e tudo, parei para agradecer por ser mulher.
Ser mulher é gerar, gerir, ensinar, divertir. Mulher pode não ser a Fonte de tudo, mas supre a alma com amor.
Sim, mesmo as que Escolhem não parir. Mesmo as que não pariram por escolha de outros. Somos um amontoado de dúvidas e uma montanha de respostas.
E gosto de ser assim, livre e dependente, poderosa e carente, não interessa o momento, eu amo ser gente...
E para comemorarmos juntas o prazer de ser mulher, trago um poema de Gilka Machado, que nos deixou há quase 40 anos, mas que muito antes de partir escreveu um verdadeiro Hino à Mulher.
Espero que gostem!
Abraços e fui...

Ser mulher, vir à luz trazendo a alma talhada
para os gozos da vida; a liberdade e o amor;
tentar da glória a etérea e altívola escalada,
na eterna aspiração de um sonho superior...

Ser mulher, desejar outra alma pura e alada
para poder, com ela, o infinito transpor;
sentir a vida triste, insípida, isolada,
buscar um companheiro e encontrar um senhor...

Ser mulher, calcular todo o infinito curto
para a larga expansão do desejado surto,
no ascenso espiritual aos perfeitos ideais...

Ser mulher, e, oh! atroz, tantálica tristeza!
ficar na vida qual uma águia inerte, presa
nos pesados grilhões dos preceitos sociais!

Originalmente publicado em 1915, no livro "Cristaes Partidos"

domingo, julho 07, 2019

Precisamos falar de Violência Familiar e Narcisismo Perverso

Narcisismo Materno e Paterno existe sim!
Acorda!
Não é porque a SUA Mãe é boa que todas são.
Tem muita Mãe que mata seus filhos.
Umas com armas.
Outras com torturas Físicas.
Mas há o pior tipo: As que matam psicologicamente seus filhos, dextroem a auto-estima, a confiança no outro. Essas, silenciosamente, acobertam crimes contra suas próprias crias e, pior, criam defeitos aos olhos da Sociedade...
As pessoas acostumaram-se aMenosprezar sequelas emocionais como se elas fossem menores que as cicatrizes físicas. Engano!
É exatamente esses que deixam as piores sequelas. A dor física é passageira e tratável, o sofrimento imposto de forma silenciosa avolumam-se em prejuízos psicológicos.  E eles que são permanentes...
Pense nisso!
Nem toda mãe é boa!

sexta-feira, maio 31, 2019

Gatilho - Narcisismo Materno e Coach e os perigos que a junção desses podem causar...

 Estou pensando em Narcisismo Materno e Coach e os perigos que a junção desses podem causar...

Eu conheço isso de perto.
Perdi uma amiga. Para o suicídio.
Vítima de Mãe Abusiva, que exercia seu direito de humilhar e maltratar silenciosamente a filha, essa senhora com Transtorno Narcisismo Perverso, por anos sufocou e maltratou aquela que deveria amar e proteger.
O sofrimento foi tanto que até Gardenal e Hidantal essa menina tomava. Para todos a Dama Infernal era um amor de pessoa. Os vizinhos, os amigos ocasionais e todas as pessoas que, desprovidas de atenção e empatia, se aproximavam da família via uma mãe maravilhosa que cuida sozinha dos filhos.
Desde sempre dizia para a filha que ela era fruto de violência sexual e, longe das pessoas, passava isso "na cara" da menina toda hora. Dia após dia, ano após ano, infância, pré-adolescência, adolescência e vida adulta. Todos os dias. Mas era mentira. A filha foi gerada com amor - ao menos pelo pai,que era apaixonado pela manipuladora maligna que acabou grávida. Quando ela descobriu a gravidez, abandonou o homem sem dizer nada. E depois, quando encontraram-se, mudou a idade da filha, atribuindo a paternidade ao marido da época.
Apanhar de fio quente, ferro e outros materiais que feriam e deixavam cicatrizes eram situações frequentes, aos outros, quando questionavam as marcas, tinha a resposta pronta: ela tem ataque, tem o costume de se ferir durante eles.
Minha amiga não tinha ataques.
Quando ela trabalhou comigo na Prefeitura, como prestadora de serviços, passou mal e o médico disse que era resultado de anos tomando antidepressivos e remédios para doenças que ela não tinha. Essa atitude de obrigar outras pessoas se medicar sem necessidade é uma das características de algumas NP (narcisistas perversas). Criar histórias fantasiosas para explicar seu desprezo ou ódio por um filho também. Ser socialmente aceita como uma mãe maravilhosa é uma das características mais marcantes, não quer nunca que alguém descubra sua maldade.
Depois que minha amiga descobriu que não tinha ataques, parou com as medicações e começou o acompanhamento com Psicólogo. E de primeira encontrou um que acreditou na sua história. O tratamento é demorado, obviamente, principalmente no caso dela que sofreu por anos.
Entretanto um filho do cão apresentou à essa minha amiga um "tratamento revolucionário" que tiraria ela de sua depressão instantaneamente, assim que ela passasse pelos "12 passos para a limpeza interior" em busca da resposta de seu sofrimento, liberando-a de sua "autopercepção limitante" e abrindo sua mente para a visão do ela poderia encontrar dentro de si em "uma viagem de autoconhecimento".
Eu disse- lhe: "Amiga, isso é babaquice, charlatanismo pseudo-científico e pura Programação Neurolinguística sem valor cientifico e sem resultados". Ela desistiu.
O filho do cão encontrou-a depois e fez a cabeça dela.
Então, aos trinta anos minha amiga iniciou sua busca pela cura através do "Tratamento Coach".
A primeira coisa que lhe disseram:
"Você é responsável por seu sofrimento, você faz com que sua mãe lhe tenha ódio."
Para um filho, que mesmo sofrendo, sente a falta de afeto materno, que nunca teve, isso parecia certo.
Minha amiga escreveu a frase na porta do guarda-roupa, dando assim para sua mãe nefasta a legitimidade do tratamento narcisista: a filha pede para sofrer, ela vai fazer com que sofra.
Obviamente, como um narcisista não respeita privacidade, a velha maldita leu e multiplicou seu ataque.
Que o "terapeuta coach" justificou dizendo: " na busca pela cura o seu eu interior vai fazer com que você provoque mais a sua mãe, aumentando o sofrimento de vocês duas". Sim, ele disse que a Narcisista sofria quando maltratava a filha e que ela precisava pedir perdão.
Minha amiga pediu. A NP viu nisso uma oportunidade de colocar mais uma vez os irmãos contra a filha. Chamou todos para um almoço de domingo, que minha amiga preparou e fez com que ela repetisse em frente deles todas as "balelas coachianas" que ela tinha dito antes: "que ela era quem forçava a mãe bater nela. Que a mãe fez ela tomar remédio por defesa. Que era seu lado obscuro e masculino que provocavam na mãe as reações negativas porque elas eram pólos positivos e negativos. Que sua essência humana tinha sido corrompida por ser fruto de violência. Que ela era ingrata e invejava inconscientemente a mãe". A única coisa boa que houve do encontro foi que o irmão mais velho disse que ela não era fruto de violência. Todos os tios diziam que ela era filha de um ex-noivo da mãe. Minha amiga não prestou atenção, sua cabeça estava perdida de teorias vazias, sua mente perturbada e como o coach disse que a Psicologia era uma pseudo-ciência ultrapassada há muito tempo ela tinha abandonado a Terapia Médica.
As coisas só pioraram. Seu desabafo trouxe legitimidade e verdade para as atitudes da víbora, que mais uma vez aumentou o grau de sofrimento.
Vale dizer aqui que só minha amiga cuidava da velha, todos os filhos adorados casaram-se e foram viver longe. O mais velho em outro Estado.
E foi o mais velho que começou a estranhar as coisas. Ele tinha sido criado pelos avós paternos que odiavam a Narcisista, falavam horrores e acabaram contando quem era o pai da minha amiga e que ele, quando soube da criança, foi falar com ela e ela tinha mudado a idade dela e sem mostrar nada de documentos, disse que o pai era outro.
O rapaz foi atrás do homem. Ele ficou feliz em saber da existência da filha e revoltado por saber que ela tinha crescido pensando o pior dela.
Infelizmente, chegaram tarde.
Minha amiga tinha escrito uma carta que era uma reprodução fiel das "tagarelices coachianas' e tinha tomado muito remédio. Socorrida, foi levada para o hospital, mas chegou lá com órgãos importantes já falidos. Viu o rosto do pai, do irmão e partiu sem saber a verdade.
No seu enterro só a família do irmão, o pai que ela nem conheceu e a esposa dele. Nem eu pude ir, estava internada por causa de um acidente.
A Narcisista Perversa? Bem, vive seu falso luto eterno, isso na presença de quem não a conhece, para mim disse apenas: "foi tarde, não sabia amar a mãe. E esse é seu destino, mãe é sagrada". Eu respondi: "Sim, mãe é sagrada, mas ser mãe é uma coisa que se aprende, não se torna milagrosamente quando um ser nasce. E você apenas gerou, mãe você não é de ninguém".
Segui meu caminho, com minhas muletas e minhas dores. As pessoas não entendem os filhos de narcisistas, para elas, o filho está só sendo rebelde…
E os coachs também não entendem. Para eles é só um nicho de Mercado, fácil de explorar.
Iraci Ciritelle, Vera Marta Reis e outras 1,1 mil pessoas
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domingo, abril 21, 2019

Mário Hashimoto

Não acredito que ele está morto.
E hoje, se aqui estivesse, estaria fazendo 72 anos. Também não dá para acreditar que ele envelheceu...
Quem é ele?
Mário Hashimoto. Levei anos para entendê-lo. A água fazia o curso normal ou subia o barranco, ele continuava na dele, bonachão, complacente.
Duas vezes por semana aparecia no consultório. Tinha uma única exigência: Não marcar nenhum cliente para depois das 19:00.
Era seu horário sagrado: Atender pessoas que não podiam pagar pelo tratamento dentário. Pegava cada caso perdido e transformava em sorriso perfeito.
E não ligava muito para agradecimentos não. Preferia a amizade.
Encontrou algumas verdadeiras e, como todo benfeitor, encontrou muita ingratidão e esquecimento. Aceitava os amigos, era indiferente com os ingratos, tratava a ambos com educação e simplicidade.
Homem culto, jamais desprezou os incultos, pelo contrário, admirava a sabedoria dos que não tinham estudado.
Fiquei muitas vezes até meia-noite no consultório com ele. Só ele, eu e o paciente da vez, a pessoa que ele escolhera para ajudar.
Sabia que o sorriso era uma das formas de refazer as raízes do amor próprio. E como falava sobre isso, como insistia para que as pessoas se amassem mais.
Nunca o vi nervoso. Nem quando o documento de seu carro se extraviou e ele não pode vender.
Não se irritava com as cobranças de horários dos outros sócios, apenas vivia sua missão.
Convivemos alguns anos juntos, fora do ambiente de trabalho. Tinha seu próprio jeito de ajudar o próximo, de entender os aflitos e de respeitar quem sofria.
Um grande homem. Daqueles heróis que existem e mesmo de uniforme, passam despercebidos. Seu heroísmo estava em atender com amor aqueles que por qualquer motivo acabaram perdendo o sorriso, já que era desnecessário, pois perderam antes o motivo de sorrir.
Muitos idosos esquecidos em asilos, menores rejeitados em internatos e angustiados que viviam perdidos, ele socorreu com sua caneta de alta rotação,  Seu boticão e seu olhar meigo.
Era cristão. Daqueles que seguem a Cristo e não homens. Foi o primeiro japonês que vi se confessar cristão.

O conheci quando eu tinha 18 anos e convivi com ele com idas e vindas até os meus 32 anos.
Não o revi mais, depois que voltei do Rio. Nos tornamos amigos de Orkut. Depois veio meu acidente e como nunca partilhei sobre isso na Internet, não nos revimos mais.
Em 2017  ele partiu. Deixou-nos. Mas, sua história, seu testemunho de vida, sua boa obra ficaram com todos os que de uma forma ou de outra, conviveram com ele.
Obrigada, Mário por seu respeito e amizade, por seus ensinamentos, por me ensinar a gostar de boa música, por me incentivar a ajudar ao próximo. Obrigada, acima de tudo, pelos ensinamentos que você me deu com seus atos, eles ficaram comigo e comigo seguirão sempre.
Feliz vida eterna, amigo. Parabéns!

domingo, abril 14, 2019

Gatilho... Um pouco de minha história com a NP

Esse post é para quem conhece o que é Narcisismo Materno ou Família Narcisista. E é para quem quer entender, sem ler em tratato psicológico.
Se você acredita que Toda Mãe é Boa e quer continuar acreditando, fuja de minhas postagens marcadas como Gatilho.
Se ficar aqui depois do aviso, é por sua conta e risco...
Faz tempo que não posto sobre mim...
Hoje eu gostaria de falar um pouco sobre minha vivência como filha de NP. E, sei que esse é um post para afastar muita gente que conhece a adora minha genitora...
Infelizmente, quando um filho de pais abusivos procura ajuda, ele espera apoio, mas, não encontra, principalmente, porque tem muita gente que prefere conciliar que resolver problemas. No caso de famílias abusivas, se alguém ajudar, pode livrar um filho até da morte. O caso dos irmãos João Vitor e do menino Bernardo são exemplos de Abusos Narcisistas que alguém tentou conciliar e, não deu certo, todos os trê estão mortos e seus assassinos daqui a pouco estarão em liberdade...
Buscar apoio e sempre a pior fase. Até porque ela é cíclica. Vivi isso por anos, esperando apoio externo.
Tinha de minha avó, que me salvava quando as coisas ficavam terríveis, mas ela morreu quando eu tinha entre 8 e 9 anos.
Daí em diante, fiquei sozinha no mundo. Fiquei sem ser ouvida e entendida até os 16 anos.
A família que me deu e dá apoio moral, espiritual, emocional e muitas vezes financeiro, é uma família normal e feliz, uma senhora sem estudo nenhum, um dia olhou nos meus olhos e disse: "essa menina sofreu tanto". E me deu colo e ensinou seus filhos me acolherem. Sempre fugi para lá quando as coisas ficavam ruim e eu não tinha piso.
Quando eu desempregava e não tinha como alugar uma casa, ela me aceitava na casa dela. E conversava comigo, ria das minhas asneiras. Nunca disse que minha np era certa. Nem a minha e nem a de outros filhos de np que ele aceitou em casa e amou muito.
Sabe fazer o café como você gosta? Fazer pão caseiro porque você chegou? E sempre dizer que você é importante e que vale a pena? Eu tinha isso com eles. Com todos os 5 filhos dela, com o marido.
As pessoas diziam-lhe que eu mentia sobre meu sofrimento, um dia ela me disse: "Só conte sua dor para quem entende seu sofrimento. As pessoas gostam de saber onde tem a ferida não é para curar, e para jogar álcool e você sentor dor."
Como disse, tia Cândida, que era uma desconhecida, que, junto com sua família, me resgatou na rua, em um dia que minha cunhada me colocou fora de casa, não tem estudo nenhum. Tio João, o marido dela, entrou na Escola depois de aposentado, portanto, também, não tinha estudo. Ambos vieram de famílias amorosas. Na verdade, até os irmàos dos fois me aceitaram quando eu apareci... Foi entre eles que aprendi a me aceitar, a me ver - embora eu ainda hoje me veja desfocada em algumas situações. Afinal, as feridas impostas pelas np's são cicatrizes fáceis de abrir... E foi essa senhorinha quem me ensinou que antes de confiar, tenho que "ler" as pessoas. Que nem todo mundo que exige respeito e amor, ama e respeita.
Não sei porque sempre voltava ao convívio com a np... Sempre voltava. Sempre sofria. Sempre chorava. Mas, sempre tive um lugar para voltar.
Hoje meu contato com essa família linda é pela internet. Estou no grupo da família no whatsapp e Facebook, tenho todos como amigos aqui no Face.
Agora, quero falar porque frisei tanto que essas pessoas não tinham estudo.
Primeiro:  Minha np odeia gente sem estudo. Ela faz amizade com gente assim só para mostrar o quanto é magnânima. Uma mulher estudada, com filhos formados - que ela não formou, mas isso é um detalhe - que aceita conversar com simples mortais. Ela sempre desprezou minha avó, porque minha vómãe foi para a Escola de Alfabetização quando eu nasci, dizia que iria me ensinar ler - aprendi só, mas, vendo ela estudar na sala.
Segundo: Porque muitas vezes esperamos apoio de quem pode entender por estudar e para estudar, é óbvio, a pessoa precisa ler. Mas, não é assim, a empatia não se adquire lendo, ela é um processo de osmose, a pessoa sensível contacta sua dor e sentindo, coloca-se no seu lugar, apreende o significado de seu sofrimento.
Infelizmente nossa Sociedade está exigindo muito edtudo e desvalorizando o conhecimento empírico e é nesse ambiente que existe as experiências reais que você pode buscar para fazer com que outros entendam o Narcisismo. Basta perguntar: "Toda mãe que você conheceu é boa?" "Já ouviu falar de mãe que matou seu filho?"...
Com minha dor e experiência aprendi que muitas pessoas confundem educar com massacar, quando você conta que, por exemplo, sua mãe cantava, enquanto, pisando entre seu cabelo e pescoço, lhe surrava, as pessoas aceitam. Sim, a np cantava enquanto me batia... E as pessoas diziam no outro dia: " Nossa, como sua mãe cantou ontem! Que lindo!
Minha np batia sem deixar marcas visíveis. Já comentei várias vezes que ela nunca gritou. Ela gosta de manter a posse de mulher maravilhosa, que pisa na terra para fazer favor. Acho que o desprezo dela pelos mais pobres foi o que me fez gostar tanto de trabalhar com essas pessoas... Talvez, no fundo, era um jeito de eu me redimir com o mundo... A propósito, minha avómãe e avôpai, eram muito simples e solidários com os outros, ninguém passava fome perto deles, todos saiam com uma braçada de verdura, sacola de fruta, arroz, feijão, farinha e  carne  da nossa casa.
Bem... desculpem se me alonguei.
Bom domingo

quarta-feira, abril 03, 2019

Conto: Dizem que os cães vêem as coisas







Vamos falar de Contos?
          Um dos gêneros literários que mais me atrái é sem dúvida o CONTO. O Conto é uma espécie de Literatura que, mesmo sendo considerada de leitura rápida, prende o leitor e faz ele buscar mais, pensar e viajar. Bem, quem me conhece sabe que comecei minhas leituras com clássicos: Dom Casmurro; a Bíblia; Um certo capitão Rodrigo e outros livros que achava nas coisas de minha tia Ivan ou no lixo. Érico Veríssimo foi um dos que achei no lixo. Como também a Literatura Japonesa, praticamente tropecei em Yukio Mishima e suas Confissões. Mas, a bilioteca da tia, o lixo e a Faculdade me deixaram um vácuo enorme: Moreira Campos.
          Moreira Campos é um escritor que poucos falam, mas, de escrita elementar e, talvez, por isso, incompreendida. Entretanto, uma segunda olhada para seu legado literário daria aos leitores algo mais. E, com certeza, a ilusão de escrita concisa se desfaria. O autor de "Vidas Marginais" trabalha a palavra com certeza e sensibilidade, um verdadeiro engenheiro do verbo, desenha suas personagens com precisão estética, sem estender-se em detalhes, mas, sem perder a poesia. Sim, o Conto de Moreira Campos é marcadamente poético, como definia Monteiro Lobato, ao afirmar, em carta, ao amigo Godofredo Rangel: ''Sou partidário do conto, que é como o soneto na poesia."
           Para a escrita pouco difundida do escritor de "Dizem que os cães vêem as coisas", o Conto era sim, marcadamente "a narração de uma situação passageira na vida de uma personagem, com seu meio normal, só ou em relação com alguém", como vaticinou Silvio Romero, porém, sem perder essas características, amplia as nossas possibilidades de leituras. Entretanto, ao afirmar que sua escrita é poetica, não estou dizendo que seja romântica. Muitos de seus Contos são marcadamente cruéis, como "Os Doze Parafusos"...
          
           
José Maria Moreira Campos era cearense, de corpo, alma e coração, mas, sua escrita é ampla, multifacetada, nacional. É considerado um dos grandes escritores do seu Estado Natal e isso não é um desmérito, como pensam alguns estudiosos da Literatura, ao abominarem as marcas regionais das obras de alguns autores - não é o meu caso, para mim é uma arte saber trazer para a Escrita o seu ambiente, suas características pessoais, mas, não estamos falando de mim.
        O Conto que escolhi para mostrar a vocês poderia acontecer em qualquer lugar. Espero que gostem. 
E até mais...



Dizem que os cães vêem coisas

Moreira Campos

             Ela chegou diáfana, transparente, no vestido branco que lhe descia até os pés calçados pelas ricas sandálias de pluma. Ninguém lhe ouviu os passos. Sentou-se à beira da grande piscina, cruzando as pernas longas. Chegou antiqüíssima, atual e eterna, com a sua cara de máscara. Moldada em gesso? Apenas uma presença, porque pousou como uma sombra. Mas por um fragmento de tempo, um quase nada, reinou entre todos um silêncio largo, que se estendeu pelo vasto terreno murado da mansão ensombrada pelas árvores, dominou a enorme piscina e emudeceu as próprias crianças pajeadas pelas babás de aventais bordados, e vejam que as crianças são indóceis.
              Um presságio.
              Fragmento de tempo apenas, porque o homem gordo, de ventre imenso, saltou dentro da piscina com o copo de uísque na mão. Espadanou água por todos os lados, a piscina transbordou. Muitos se molharam, outros saltaram da cadeira de lona.
              - Bruto! – disse alguém íntimo, sem que ele se aborrecesse, bêbado.
              A onda de água despejou-se sobre Ela, que não se moveu: era trespassável e transparente. Floco de névoa pronto a esvoaçar. Permaneceu parada, a cara imóvel, nenhum ricto. Apenas parecia consultar no pulso um relógio invisível, para marcar o tempo.                  O homem de ventre enorme já estava à beira da piscina, gotejante e trôpego, para uma nova dose de uísque, os dedos graúdos catando no balde os cubos de gelo. Mulheres seminuas, o cordão do biquíni, as nádegas reluzentes de sol e gotas dágua. As rodas, as conversas, os garçons que circulavam, as bandejas de salgadinhos.
              Uns óculos escuros sofisticados no sutiã mínimo:
              - Por favor.
              O garçom atendia, solicito, perdendo os olhos ávidos nos seios mal contidos, oferecidos e inatingíveis.
              - Obrigada.
              O garçom mantinha a dignidade, ereto. A menina chegou e segurou a mãe pelo queixo:
              - Mãe-ê, quero uma coca-cola.
              A mãe não lhe dava atenção em flerte com o recente campeão de vôlei, uma estrutura de tórax (a mãe da menina contrariava-se apenas com o tufo de pêlos que ele tinha no peito, quase imoral). A menina impacientava-se:
              - Mãe-ê, uma coca-cola.
              - Deixa de ser chata!
              O campeão levantou-se para apanhar o refrigerante. Em roda mais distante conversavam os homens graves: a última medida do governo, a crise econômica.
              - O país vai à bancarrota.
              - Vai o quê?
              - A bancarrota.
              - Fazia tempo que eu não ouvia essa palavra.
              - Mas vai.
              Aceitava-se a bancarrota sem muita convicção. Na grande varanda, as senhoras grisalhas e indesnudáveis, pulseiras tilintantes na flacidez dos braços, discutiam os novos valores morais e comentavam o recente desquite.
              - A menina dela não tem um ano de casada.
              - É a segunda que se separa.
              - Como?
              - A segunda.
   maitre, porque era solene) curvou-se ao seu ouvido. Ela se livrou do violão, levantou-se e bateu palmas chamando todos para o almoço à americana, as mesas sob as árvores. Cada um apanhou o seu prato, formaram-se as filas, o homem gentil cedeu lugar a umas nádegas rijas, cortadas sempre pelo cordão do biquíni:


           Aniversário da dona da mansão, que se acompanhava ao violão com graça, aplaudida pelos que estavam em volta. O garçom (ou
              - Faz favor.
              - Obrigada.
              Os cães de raça latiam e uivavam desesperadamente nos canis (e dizem que os cães vêem coisas). Foi preciso que o tratador viesse acalmá-los, embora eles rodassem sobre si mesmos e rosnassem. A distância, a piscina quase olímpica, agora deserta: toalhas esquecidas. O vidro de bronzeador, o cinzeiro sobre a mesinha cheio de pontas de cigarro marcadas de batom.
              As filas. Alguém tangeu o gato que lutava com um pedaço de osso. Lenita fez o prato do marido, preparou também o seu. Mordia a fatia de peru com farofa, quando se lembrou do filho:
              - Cadê o Netinho?
              Certa angústia na voz. Chamou o marido, gritou pela babá, que se distraía com as outras na varanda. Olhos espantados e repentino silêncio talvez maior de qualquer outro. Refeições suspensas, uma senhora mantinha no ar o garfo cheio. Tentavam segurar Lenita. oEla se desvencilhava:
              - Cadê o Netinho? Cadê?
              As águas da grande piscina eram tranqüilas, apenas levemente franjadas pelo vento. Boiava sobre elas uma carteira de cigarros vazia. Mas a moça que se aproximava parecia divisar um corpo no fundo, preso à escada. Voltaram a afastar Lenita, o marido a envolveu nos braços possantes, talvez procurando refúgio também. O campeão de vôlei atirou-se à piscina e veio à tona sacudindo com a cabeça os cabelos longos: trazia sob o braço um corpo inerme, flácido, de apenas quatro anos e de cabelos louros e gotejantes.
              O médico novo, de calção, tentou a respiração artificial, e boca-a-boca (os lábios de Netinho estavam arroxeados), e levantou-se sem palavras e sem olhar para ninguém. Lenita soltou-se e agarrou-se ao filho:
              - Acorde, acorde! Pelo amor de Deus, acorde?
              Conseguiram afastá-la mais de uma vez, quase desmaiou. A amiga limpava-lhe com os dedos a sobra de farofa que se grudava ao seu rosto. Os cães de raça voltavam a a latir desesperadamente, e dizem que os cães vêem coisas.
              Lenita ficou para sempre com a sensação do corpo inerte e mole entre os braços. Uma marca, uma presença, que procurava desfazer com as mãos. Cabelos louros e gotejantes. Às vezes, ela despertava na noite:
              - Acorde, acorde!
              A presença também daquele instante de silencio que pesara sobre a piscina. Um pressentimento apenas? Precisamente o momento em que Ela chegara, transparente e invisível, e se a senhora à beira da piscina, cruzando as pernas longas, antiqüíssima, atual e eterna.
_____
Fonte: CAMPOS, José Maria Moreira. Dizem que os cães vêem coisas. Fortaleza: Edições UFC, 1987.

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