segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Literatura Feminina e Guaianases - A Mulher do Telegrafista


O texto abaixo é de José de Souza Martins.
Foi postado anteriormente na Folha de São Paulo. E trata de uma moradora antiga de Guaianases. Entra nessa postagem a ideia de mostrar as Mulheres da Literatura que foram esquecida com o tempo e nunca são citadas em livros didáticos.
Francisca Júlia, além de poetisa, ligada ao Simbolismo e Parnasianismo, foi a percursora da Literatura Infantil Brasileira, Sua influência didática foi muito importante para a formação literária básica de muitos jovens do Ensino Público e Privado. Por isso só ela já não poderia ser esquecida, porém, com o tempo seu nome foi caindo no ostracismo.
Em uma reunião acadêmica ao ser citada, algumas pessoas começaram discutir que sobre sua vida pessoal e sua morte e que por essa ter acontecido no mesmo dia que a de seu marido, mostrava a sua fraqueza de espírito. Isso em um ambiente de estudo da Empatia e Sororidade. Sua Depressão advinda do fato de viver com um homem doente - tuberculoso, não foi sequer levada em consideração. E, pior, esse não deveria ser um motivo para o afastamento de seu nome das discussões da importância feminina.
Sem vaidades intelectual, Francisca Júlia negou-se a entrar para a Academia de Letras. O fato da não aceitação não elimina sua conquista. 
Ainda falaremos dela por aqui...
Abraços e fique com essa bela escrita do Professor José de Souza Martins.


Publicado em O Estado de S. Paulo [Caderno Metrópole],
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011, p. C6.


A mulher do telegrafista



                                                       Victor Brecheret, “Musa impassível”

Em 1909, Francisca Júlia da Silva, com 38 anos, nascida em Xiririca, hoje Eldorado Paulista, casou-se na capela do Lajeado com Filadelfo Edmundo Munster, telegrafista da Estrada de Ferro Central do Brasil. Lajeado era o que veio a ser Guaianases, um lugarejo que devia o nome à imensa pedreira de onde era retirada a brita para forrar os dormentes da ferrovia. Francisca Júlia fora para o Lajeado quando sua mãe, professora primária, em outubro de 1908, recebeu transferência de Cabreúva para lá. Foi padrinho da noiva o poeta Vicente de Carvalho. Noiva que em Cabreúva fora professora de piano e que tivera como aluno Erotides de Campos, então com 10 anos de idade. Ele viria a ser o prodigioso autor de composições como a lindíssima “Ave Maria”. Da desilusão de um frustrado noivado em Cabreúva, Francisca Júlia carregou até quase o fim da vida o alcoolismo.
Pouco tempo antes do casamento com o telegrafista, Francisca Júlia fora convidada a ingressar na Academia Paulista de Letras, que se formava. Recusou. Alguns anos depois, seria homenageada com um busto na Academia Brasileira de Letras. Quem era, afinal, a mulher do telegrafista do Lajeado? Francisca Júlia era a maior poetisa do parnasianismo brasileiro, reconhecida e aplaudida por escritores como Olavo Bilac. Publicara seus primeiros poemas em jornais de S. Paulo. Em diferentes momentos recolheu-se à vida doméstica, coisa que fez também depois do casamento. Era uma mulher bonita, de viso triste, reflexiva. Sua poesia é densa de competência linguística. Trabalhava com maestria a língua portuguesa. Em seus versos é claro o empenho em fazer de nossa língua instrumento de elaborada criação estética.
Com a descoberta, em 1916, de que o marido estava tuberculoso, tornou-se depressiva e mística. Filadelfo morreu em 31 de outubro de 1920. Após o enterro, Francisca Júlia tomou uma overdose de narcóticos e morreu na manhã do dia seguinte. Seria sepultada no Cemitério do Araçá, no dia de finados. Ao seu funeral compareceu a fina flor da intelectualidade como Guilherme de Almeida, Paulo Setúbal, Mário de Andrade (que criticara sua poesia), Oswald de Andrade, Di Cavalcanti...
São os intelectuais de São Paulo que decidem propor ao governo do Estado a feitura do túmulo da poetisa, o que tramita no legislativo por iniciativa do senador estadual Freitas Vale, da famosa Vila Kyrial, na Rua Domingos de Morais, lugar de encontro de artistas e escritores. Victor Brecheret esculpe para o túmulo, em mármore de Carrara, a bela “Musa impassível”, título de um poema de Francisca Júlia. A obra está hoje na Pinacoteca do Estado, restaurada. Uma réplica em bronze substitui-a no túmulo do Araçá, como a murmurar: “Em teus olhos não quero a lágrima; não quero
em tua boca o suave e idílico descante”.
Professor Emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e ciências Humanas
 da Universidade de São Paulo

Voltando...
2020




Deixo aqui um Poema dessa grandiosa figura literária....



Supremo


Os teus olhares feitos de carinho,
De Extrema-Uncção, de mysticos luares,
Têm na expressão, ó santa dos Altares,
A velludosa maciez do arminho.


E no doce brilhar – áureo caminho –
A profundeza intérmina dos mares…
Têm na expressão, ó Santa, os teus olhares
A velludosa maciez do arminho.


São puros como as Hóstias dos Sacrários,
têm o brilho divino de Stellarios,
quando me fitam numa uncção extrema.


São rútilos santelmos guiadores,
são as dhulias lithurgicas das dores,
da minha Crença immácula e suprema!


Fonte: Internet Biblioteca Digital




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