sábado, junho 22, 2013

Jane em Paricatuba - O passado marcado no presente de um futuro incerto


Paricatuba –  O passado marcado no presente de um futuro incerto
Eu não quero contar a história destas ruínas, isto acontecerá em outro texto, mas quero sim falar ou pelo menos tentar descrever o que é estar no presente dentro das ruínas de um passado bem desconhecido.
As ruínas de Paricatuba localizam-se na Vila de Paricatuba, Careiro, interior do Amazonas. Foi um prédio que serviu desde hospedaria, passando por escola e um presídio, leprosário, por fim um posto de saúde. Logo depois deu-se o abandono.
Thais Waughan convidou-me para fotografar as ruínas depois que soube da minha paixão pela arquitetura. Eu não sabia que elas existiam e o que de fato me esperava, mas chegando ao local percebi que era muito mais que uma construção em ruínas, havia ainda no local a imponência da beleza arquitetônica.






Confesso que eu fiquei olhando alguns muitos minutos para todo aquele mundo que nos aguardava e estava ali diante meus olhos jovens em relação a sua história (1898). Thais me falou a mesma coisa, falou-me que a primeira vez que esteve lá não conseguia fotografar, os detalhes apareciam diante seus olhos mas ela queria ver mais, enxergar mais. Gostar do passado é algo bem pessoal mesmo, pois meus olhos de 42 anos veem o que os dela com apenas 22 anos vê e o encantamento com a coisa é o mesmo



E assim entramos no local. Li um pouco sobre o que acontecera ali e em cada cômodo que aparecia tentava decifrar o que havia funcionado. O local cheio de vegetação, raízes belíssimas (adoro raiz), a suntuosidade da fachada mesmo depredada mantém-se bela e imponente como se fizesse questão de manter a beleza para quem a visita.
O local era marcado por muitos corredores, gosto de corredor, apesar de não ser mais tão utilizado hoje, dava para ver entre a vegetação o caminho que era percorrido por muitos. Havia uma área enorme que parecia uma quadra e depois ao ver a planta em um site percebi que era o centro da edificação que concentrava uma área grande semelhante a área dos presídios e sanatórios antigos.
Muitos insetos, folhas, plantas, samambaias, aranhas. De repente meu instinto socorrista vem me encontrar, alertando-me sobre cobras, escorpiões, vidros, mosquitos que transmitem doenças, mas meu instinto arquitetônico, aventureiro e fotógrafo disse para ele ficar quieto pois eu estava de folga, eles tomariam conta de mim com todo cuidado.


 Logo após passado este conflito interior, encontramos um local cheio de musgos, cogumelos (amo), samambaias e outro salão. Este mundo pequeno adora ser retratado mas dá muito trabalho retrata-lo na sua beleza minúscula. Mais a frente nossas pernas sentem teias de aranha e vamos atrás delas, tem teia, tem aranha! Encontramos uma, muito bem feita, brilhante e dona aranha estava em casa também, mas eu acabei assustando-a e ela foi embora, não queria foto.

 Dentro de um tijolo uma teia bem feita que parecia um algodão, uma samambaia solitária e muitos azulejos soltos. Seguindo entramos em outra salão onde havia traves improvisadas, dava para sentir as crianças de hoje jogando bola naquele local enorme. Logo na entrada um vestido branco e novo, dá uma certa aflição, um crime? Ou uma aventura?
Neste salão havia em todas as paredes árvores que nasceram sob suas paredes, as raízes se desenham nas paredes até alcançarem o chão , fazendo um verdadeiro jardim suspenso. Joguei-me no chão para fotografá-las com mais precisão e de lá eu pude ver como a natureza invadiu o concreto, amarrou as paredes com suas raízes e que seria lamentável retirá-las de lá.


 Caminhando encontramos a cozinha com a passagem de alimentos de um cômodo ao outro, restos de louça sanitária, e um emaranhado de raiz que parecia uma cela. E por falar em cela, encontramos as celas com seus portões grossos de ferro enferrujados. Ao entrar uma sensação de que a porta se fecharia e não conseguiria sair mais de lá, que coisa estranha! Parecia de fato um presidio, daqueles de filmes americanos onde Dr. Lecter (Silencio do inocentes) era detido, um sentimento incomum eu senti ali dentro, parece que vi o passado ou percebi em pouco tempo.
Mais corredores mostravam a extensão da obra, a lateral era tão bonita quanto a fachada.


   Em outro salão observei que o local tinha alguns restos de telhado e que a luz do sol incidia e fazia reflexos nas paredes. Thaís fala:
- Bem que poderia aparecer um fantasma para a gente fotografá-lo.
- Verdade, além de fotografá-lo iria ser nosso guia turístico aqui dentro – respondi.
Mas o fantasma não apareceu infelizmente e só tínhamos as luzes para fazer efeitos de “luz que vem do céu” como as histórias de UFOS que começa com uma luz, se é para abstrair prefiro acreditar nos espíritos de luz.


 Mas quem sabe os fantasmas não estavam nos olhando, nos acompanhando e vendo como aquele lugar tem magia, tem poder de encantamento, como restos de uma obra contam sua historia para quem não a conheceu e não viveu aquela época. Eu poderia imaginar o século passado com suas mulheres vestidas com aqueles vestidos lindos, os cavalheiros arrumados, as crianças que ali estudaram, os presos que ficaram confinados e os hansenianos que eram segregados das sociedade.
Tudo fruto da imaginação que consegue perceber no presente os fatos dos passados e a incerteza do futuro. Pessoalmente eu não mexeria mais ali, não reconstruiria, a natureza fez sua ocupação, tomou-a para si depois do abandono, seria um crime ambiental desalojar aquelas raízes enormes, que emolduram as paredes, que abrigam seres vivos, que assistem as crianças brincando de bola. que aceita visitantes que vem fotografá-la. Fizemos muitas fotos, de vários ângulos, com as folhas no chão, o ambiente de concreto a moldura se fez.


Senti uma energia boa, não tive medo, mesmo por que não tenho medo de fantasmas, mas Paricatuba mostrou-me algo que sempre tive vontade de ver: ruínas de alguma obra. O passado contando sua história sem guias turísticos, somente através de azulejos, paredes, caminhos e corredores, enormes corredores, corredores com alma e vida nas folhas das árvores.O homem abandonou a edificação, mas a natureza soube tomar conta com maestria.





Jane Eyre Uchôa e Thaís Waghaun




 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Escrito por Jane Eyre em 21/06/13
Fotos; Thais Waghaun e Jane Uchoa

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