sexta-feira, janeiro 11, 2013

Eugenia Social em São Paulo



Eugenia Social na São Paulo de 1900...
Eugenia. Definição:  A história da eugenia, disciplina que “adquiriu um status científico e objetivou implantar um método de seleção humana baseado em premissas biológicas”(p.10) é colocada, pela autora, como um tema relevante para o historiador, se bem que desconfortável, porque  poderá contribuir a uma reflexão sobre a atitude, que percebe dominar no mundo contemporâneo, de valorização excessiva da beleza física, esta cada vez mais uniformizada, e da ideia de saúde, intimamente ligada à questão da boa aparência e da eficiência para o mercado.
Como todas as grandes cidades, São Paulo também cresceu muito nos final dos anos mil e oitocentos e início dos mil e novecentos. Este crescimento populacional foi de 20 vezes mais à população já existente e o crescimento foi resultado das mudanças iniciadas no final do século anterior e que afetaram o Brasil.
Com o fim da escravidão e a debandada dos negros que se deu rumo as cidades, começaram a existir todos os tipos de problemas comuns aos grandes centros, era o acúmulo de sujeiras, aumento das doenças, criação e expansão dos cortiços. As senhoras ricas e suas famílias tradicionais, reparavam na forma como os negros andavam nus da cintura pra cima e sem sapatos, por não possuírem estas peças.

Os brancos que se julgavam os verdadeiros donos do Brasil, não gostavam de dividir as ruas e calçadas com os mulatos e negros que andavam pela cidade e reclamavam com qualquer autoridade, fosse ela o delegado ou o prefeito. O clima não era o ideal para a boa convivência e as pessoas, de ambas as raças, não se sentiam seguras para circularem livremente e, muitos, evitavam até o contato verbal.
O sistema de trabalho era  o industrial e a maioria dos negros alforriados trabalhavam no que hoje denominamos mercado informal,  era o que conseguiam fazer para manterem suas vidas com o mínimo que conseguiam.
Vale lembrar que com o fim do trabalho escravo, os negros alforriados foram lançados nas ruas sem nenhum soldo ou direito trabalhista pelos anos de trabalhos forçados que tinham ''dado'' aos antigos senhores escravocratas. Os negros foram alforriados, mas não receberam com isto plenos poderes de cidadania. Na verdade foram abandonados à sua própria sorte, sem direito a saúde, segurança, habitação, trabalho digno e remunerado, sendo deixados para morrer a míngua, embora eles não tivessem este interesse.
Com o dinheiro novo entrando nas casas, as pessoas resolveram reformular o visual e a cidade, mas não apenas no aspecto físico, com transformações na arquitetura, e, sim, no aspecto humano, e a saída era a interiorização destes seres que incomodavam os ex-senhores de escravos e os ditos estudiosos e janotas.
O povo não aceitava partilhar rádio, bonde, iluminação elétrica, telefone e outras novidades com os ''invasores'',  vagabundos e malandros, fama dada aos trabalhadores negros de então.
O mais incrível de tudo isto é que com a modernização da época, com a necessidade de mais trabalhadores, a maioria dos industriários não pensaram em contratar os negros como empregados, apoiaram a migração europeia e assim São Paulo começou receber navios e mais navios de italianos – estes vieram em grande quantidade – e europeus. Na verdade esta solução era mais étnica que industrial, e o discurso da sociedade era sobre progresso e não sobre o descaso e discriminação. Bem, é sempre assim, os políticos quando discursam que algo é ruim para os menos favorecidos, que tal evento é necessário para o bem de todos, pensam no seu próprio bem.
No caso de São Paulo a intenção por trás do desejo da expansão industrial era o ''branqueamento'' da população paulistana e brasileira. Afirmavam que a cultura europeia era civilizada e que valia pena o ''investimento'' em pessoas de tão nobres conhecimentos. Isto lhes serviria, como pensavam, numa forma de superar a situação com os negros e que estes se extinguiriam com o passar dos tempos. Isto por acreditarem que os negros não sobreviveriam às dificuldades que se avizinhavam. E as dificuldades que se avizinhavam eram grandes, indo da falta de alimento, a saúde e educação. Viver em condições insalubres era arriscar a vida de forma direta, pois a água para beber e preparar o alimento,  era vizinha dos esgotos dos cortiços. As chamadas, hoje, viroses, enfraquecia a saúde da população negra e mestiça, matando alguns e contaminando outros, o que tornava os prognósticos fáceis de serem feitos e de se cumprirem.
Os nobres, que com o final do Império, não se importando qual regime estava no poder, agora estavam presos a cargos públicos, não aceitavam os paulistanos nativos, que eram em sua maioria de caipiras, mestiços e negros e não aceitavam estas pessoas como cidadãos brasileiros e os acusavam de serem os malfeitores da cidade. Assim como tornaram os indígenas em um problema social, agora transferiam, ou alargavam a linha para os escravos alforriados e seus descendentes.
Com a chegada dos italianos às indústrias, os trabalhos considerados degradantes foram deixados para os negros. Assim os negros tornaram-se responsáveis por limpeza de bueiros, coletas de lixo, carroceiros e outras atividades como estas. Aqueles que não conseguiam esta espécie de trabalho se contentavam com o trabalho de mascate. A fama da inépcia para o trabalho era comum a todos estes brasileiros natos. Considerados preguiçosos, não conseguiam emprego e assim acabavam, de fato, perdidos nas ruas, em trabalhos poucos recomendados e pessimamente remunerados.
A cultura dos negros, vinda do continente africano, mestiça, adquirida das misturas dos indígenas e caipiras, que já se miscigenavam com todos os fazeres que chegavam do interior do Estado, não eram sequer consideradas como arte, representações de cultura ou de lazer, assim sendo não era benquistas pela Sociedade que rejeitava estas pessoas com toda a força. Infelizmente, nos primeiros anos da República, esta população era excluída e até odiada e, claro, eram vistos como cidadãos de segunda classe.
Fora a segregação econômica, havia também a separação territorial. Onde moravam os italianos, não moravam os negros que  eram desprezados pelos europeus recém-chegados, todos influenciados pela a opinião dos governantes sobre os ''brasileiros  natos” e passaram a tratar estas pessoas com medo e desprezo.
Para resolver o problema importaram a solução da Europa também. Começaram a abrir as ruas e com isto destruíram os prédios antigos para ''desafogar'' os centros, soprando para longe a arquitetura antiga que dava a cidade paulista um ar provinciano tão odiado pelos brancos que ansiavam pelo progresso. Vale lembrar que este ar provinciano não incomodava os chamados não europeus e os quase não europeus, como afirmam os historiadores, estes corriam atrás de conseguir o pão de cada dia com sua labuta e pouco importava o que acontecia além de suas necessidades. Na verdade as pessoas ditas ''especiais'', não consideravam as demais exatamente por este motivo, a “falta de civilidade”.
Com esta situação gritante, deu-se início a eugenia social e territorial. Acreditando nos males que os ''inferiores'' poderiam causar aos de “alta linhagem”, trazendo as infecções e contágios próprios da ralé, os médicos e cientistas da época davam o embasamento científico necessário para esta política de limpeza étnica que tomava conta dos grandes centros. Os brancos acreditavam que não só os negros, mas todos os nãos europeus, por serem pobres e tão diferentes deles, poderiam causar problemas sociais e morais irreparáveis, o desvirtuamento da moralidade e dos bons costumes da sociedade.
Aos poucos os imigrantes tornaram-se um problema social tão ruim quanto os problemas iniciais que eram os negros, mestiços e caipiras. A cidade agora estava mais cheia de pessoas com interesses próprios e diferentes dos interesses dos governantes. Agora a pobreza, em si, era um problema de difícil solução, pois havia muitos “sanitaristas” envolvidos no processo de “limpeza da sociedade”, centralizada nas regiões do Vale do Anhangabaú, Largo do Rosário e bairros próximos, considerados pelos governantes, bairros marginalizados. Limitar os espaços coletivos era acatado como necessário e não era visto de forma maléfica.
Anos mais tarde os imigrantes, agora,  também, marginalizados, aceitavam viver e se relacionar com as outras pessoas marginalizadas: os negros, mestiços e caipiras. Mesmo havendo leis que proibiam a proliferação dos cortiços, estas casas amontoadas com um banheiro por andar ou por edifício, estas eram desrespeitadas e assim os cortiços aumentavam a olhos vistos.
E foi justamente a união destes povos que deram força as lutas dos povos, agora, com a influência dos italianos, as pessoas não eram desrespeitadas em sua vontade, pois conseguiram a ajuda dos europeus que vieram para o Brasil prestar serviço nas fábricas, e estes também estavam lutando contra o governo para não serem, elas próprias, deportadas.
Que fique claro, embora os imigrantes fossem vistos com desconfiança, eles ainda tinham algum respeito por parte dos brancos e governantes.
Foi durante estes anos que surgiu a obrigatoriedade da vacina, incentivada pelo sanitarista Osvaldo Cruz, mas esta é outra história.
Trocando em miúdos, a eugenia tão conhecida de nossa era, tão criticada quando foi aplicada pelos Estados Unidos da América e pelos Nazistas, é algo que sempre existiu, sendo que em alguns casos, como em São Paulo, esta pratica criminosa era considerada progressista e se referia mais precisamente à limpeza territorial. 

Elisabeth Lorena  Alves - Alguém que não gosta de ficar parada, mas que estaciona frente a um bom livro e sonha com as palavras. Posta no Elisabeth Lorena Alves -  www.eliselorena.blogspot.com.br e na Revista Biografia - www.sociedadedospoetasamigos.blogspot.com.br 
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