quinta-feira, março 29, 2012

Música, divina música - Adeus Millôr

Adeus Millôr Fernandes!



Bem, as pessoas adoram criticar que blogueiros e outros  participantes de redes sociais se pegam falando de quem nos deixa -  falando bem, na maioria das vezes. Acho que se a gente malhar o pau nos que nos deixam, eles aceitem mais... Mas eu não falar de Millôr Fernandes é no mínimo ridículo, amo suas crônicas, como amo Stanislaw Ponte Preta, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa e Sinclair. Todos estes fizeram parte de minha alfabetização na infância e na vida adulta, pois depois de aprender a ler, aprendi entender a Poesia. Poesia esta que há em qualquer texto bem escrito, mesmo que seja ferino como muitas vezes era Millôr.
Hoje posto aqui ctrl+c e ctrl+v claro, o texto Música, divina música, deste cronista maravilhoso, deste educador e crítico político que fará falta a nós e nossos filhos, pois poucos foram os que tiveram acesso a ele em vida e neste país sem memória, poucos conhecerão sua destreza com a nossa Língua.
Meus sentimentos, neste país que cada dia fica sem História!

Biografia

Música, divina música!


Tanto duvidaram dele, da teoria daquele jovem gênio musical, que ele resolveu provar pra si mesmo, empiricamente, a teoria de que não existem animais selvagens. Que os animais são tão ou mais sensíveis do que os seres humanos. E que são sensíveis sobretudo ao envolvimento da música, quando esta é competentemente interpretada.

Por isso, uma noite, esgueirou-se sozinho pra dentro do Jardim Zoológico da cidade e, silenciosamente, se aproximou da jaula dos orangotangos. Começou a tocar baixinho, bem suave, a sua magnífica flauta doce, ao mesmo tempo em que abria a porta da jaula. Os macacões quase que não pestanejaram. Se moveram devagarinho, fascinados, apenas pra se aproximar mais do músico e do som.

O músico continuou as volutas de sua fantasia musical enquanto abria a jaula dos leões. Os leões, também hipnotizados, foram saindo, pé ante pé, com o respeito que só têm os grandes aficionados da música. E assim a flauta continuou soando no meio da noite, mágica e sedutora, enquanto o gênio ia abrindo jaula após jaula e os animais o acompanhavam, definitivamente seduzidos, como ele previra.

Uma lua enorme, de prata e ouro, iluminava os jacarés, elefantes, cobras, onças, tudo quanto é animal de Deus ali reunido, envolvidos na sinfonia improvisada no meio das árvores. Até que o músico, sempre tocando, abriu a última jaula do último animal - um tigre.

Que, mal viu a porta aberta, saltou sobre ele, engolindo músico e música - e flauta doce de quebra. Os bichos todos deram um oh! de consternação. A onça, chocada, exprimiu o espanto e a revolta de todos:

- Mas, tigre, era um músico estupendo, uma música sublime! Por que você fez isso? E o tigre, colocando as patas em concha nas orelhas, perguntou:
- Ahn? O quê, o quê? Fala mais alto, pô!

MORAL: OS ANIMAIS TAMBÉM TÊM DEFICIÊNCIAS HUMANAS.
Millor Fernandes

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