domingo, fevereiro 07, 2021

Tias solteiras

 Tias solteiras?



Hoje lendo um texto do Carpinejar sobre mulheres solteiras olhei para a minha família. No texto ele fala que há trinta anos ou mais as mulheres que não se casavam eram tratadas como enfermas, seres incompletos que não podem cumprir sua função social de casar e biológica de parir. 

E se ela fosse muito bonita o inferno era pior - essa parte Carpinejar não abordou, mas eu conheço na família.

Em minha família materna casar não era obrigatório - embora minha avó tenha casado obrigada pelo padrasto - nós tínhamos algumas tias-avós que tinham vida própria depois que "plantaram" os pais na última morada. E meu avô descobriu cedo que só teria um convívio decente com minha avó se a deixasse ser livre. Tiveram filhos e netos. E desde que me dei por gente minha avó tirava "férias de meninas". Iam para Alagoas, Pernambuco e além ver parentes. Não levavam maridos, filhos ou netos. Voltava feliz, revigorada

 Trabalhava feito burro de carga,  costurava, plantava, colhia, vendia, cozinhava para a família. E o mesmíssimo fazia meu avô. E faziam tão bem e tão igual que eu nunca diferenciei qualquer comida dos dois. 

Das sete filhas que viveram - tiveram onze, e as gêmeas morreram no berço - cinco casaram. Uma divorciou e para os de fora foi um escândalo. Essa voltou feliz para o rol das solteiras da família e ainda ficou grávida depois. Nossa família levou de boa. Os filhos do casamento e esse "sem pai" por opção dela, são hoje homens feitos. Minhas duas outras tias solteiras não tiveram filhos. Mas nós as mimamos com carinho e fomos protegidos por elas. 

Tia Ivana nos ensinou bordar,  crochetar, pregar botões porque "não é só quem casa que veste roupa e tem que comer", mas usando o mesmíssimo argumento nos incentivava a ler e os clássicos. Ela nunca nos disse que eu com cinco anos não podia ler Machado, embora tenha incentivado meus avós a comprar livros infantis. 

Minha tia Flora nos ensinou com exemplo e trabalho que mulher pode trabalhar e fazer o que bem entender. Inclusive poupar para viver uma velhice segura.

Das netas de minha avó só eu fiquei solteira e olha que os "bem intencionados" tentaram me empurrar maridos. Não aceitei nenhum. Tentei até casar mas minha rede não era boa, faltava intelecto a alguns contemplados. Voltei para minha decisão anterior. 

Se recebi crítica apesar de estar longe dos anos de ignorância?  Recebi sim. Algumas disfarçadas de elogio: "você é inteligente"; "tão bonita"; "tão esforçada" e outros mais. Fiz ouvidos de mercador e sigo feliz. Livre, leve e feliz.



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