terça-feira, janeiro 13, 2009

As viúvas da Índia - Water o filme

Assista “Water”

O filme começa com a seguinte citação:
“Uma viúva deve sofrer prolongadamente até sua morte, auto-contida e casta. Uma esposa virtuosa que se mantém casta quando seu marido morre vai para o céu. Uma mulher que é infiel a seu marido renasce no ventre de um chacal”.
As Leis de Manu
Capítulo 5 versículos 156-161 Dharamshastras (Textos Sagrados Hindus)
Por aí você já pode imaginar o que te espera...

As Viúvas na India


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O filme Water, o último da trilogia política da cineasta Deepa Mehta (os outros são Fire e Earth), sobre a vida das viúvas na india retrata o dia a dia das mulheres que se tornam vítimas da viúvez.

Se já ouviu falar da situação dessas mulheres mas ainda não conhece de fato, precisa assistir o filme.

Perto da realidade destas mulheres temos a devida noção de nossa realidade, que por mais difícil que seja, jamais chegará aos pés do que elas vivem.

Existe até “Dia Internacional das Viúvas”, instituído pelas Nações Unidas, justamente para lembrar ao mundo as crueldades cometidas contra essas mulheres. E não são só indianas que vivem nestas situações, alguns outros países também abandonam suas viúvas.

water_india.jpg“Water” não é um filme revolucionário em sua linguagem, mas é uma história muito bem contada e extremamente comovente.Depois de assistir você vai precisar de algum tempo para voltar a realidade.

O filme é uma obra de ficção e retrata a realidade de muitas mulheres até o dia de hoje. Ele se passa em 1938, na India Colonial, onde os poderosos -britânicos e indianos- vêem a ascenção de Mahatma Gandhi, com suas idéias de liberdade e de mudança das tradições arcaicas às quais os indianos ainda se agarravam. As viúvas já não eram forçadas a queimar numa fogueira, com a morte do marido, mas ainda tinham que pagar, vivendo em total ostracismo e miséria, por toda vida.

Tudo começa com a morte do marido de Chuyia, uma menininha esperta de oito anos de idade, que nem entende que é casada.


Ao se tornar viúva, Chuyia tem suas pulseiras quebradas, seu cabelo raspado, perde todas suas roupas e é vestida com um sari branco, que será sua única veste, para diferenciá-la, afinal, ela agora é uma pária, “impura” e não pode ter contato com outras mulheres e crianças. Sim, as mulheres são vistas como culpadas pela morte de seus maridos!

Os pais deixamas filhas viúvas nas casas de viúvas hindu, onde deve viver o resto dos seus dias em penitência, mesmo sendo ainda crianças quando se casaram e perdem seus companheiros.

Em 1938, e ainda hoje, em muitas lugares da India, a viúva é vista como um peso e como uma mulher sexualmente perigosa. A família do noivo quer vê-la distante - isto para se apossar das propriedades do seu marido, e não tem interesse em assumir a responsabilidade de sustentá-la. A mulher indiana deixa de ser responsabilidade de sua própria família ao casar-se. A família sente-se liberada de qualquer responsabilidade em relação a ela, já que pela cultura o único responsável por ela é o marido que faleceu.

Por todo preconceito e superstições que cercam uma mulher viúva, ela também não consegue trabalho para se sustentar e acaba tendo mesmo que viver nessas Casas de Viúvas, que nada mais é que prédios abandonados e em ruínas por toda vida. Para se “purificar”, precisa abandonar qualquer vínculo com prazer e viver em sofrimento. Dorme no chão, repete canções e orações seis horas por dia, e não pode, sequer, comer frituras, consideradas alimentos “quentes”. Estima-se que existam 20 mil viúvas, mendigando, apenas à beira do rio Ganges.

casadasviuvas2.jpgNo filme, vamos conhecendoaos poucos as mulheres com quem Chuyia deverá conviver. A velhinha que aparece na foto ao lado, está na casa desde os sete anos e cujo único sonho é comer, novamente, os docinhos que provou na sua festa de casamento, que ocorreu 1 mês antes da morte do marido. Shakuntala, uma mulher de meia idade, esperta, inteligente e que sofre ao perceber que está envelhecendo e está sempre dividida entre a revolta pela sua situação e o medo por não se comportar como deveria, aumentando muito assim seu sofrimento.

Tem a poderosa Didi, que comanda a casa e tem regalias que as outras não têm, e a belíssima Kalyani. Aos 17 anos de idade e que lá chegou aos oito, é a única mulher que tem a permissão para usar cabelos longos e que, sustenta o “luxo” de Didi e a Casa de Viúvas, sendo levada de barco, no escuro da noite, pelo eunuco gulabi, para prostituição.

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A chegada de Chuyia, o aparecimento de um lindíssimo indiano nacionalista, o amor de Kalyani, a revolta de Shakuntala e a ascenção de Ghandi, mexem com a Casa de Viúvas… mas não espere que haja algum milagre... Como em quase tudo na vida, só se vence o prteconceito e a crueldade com muita luta e muitos mártires.

Um pouco da realidade atual

Milhares de fantasmas rondam por Vrindaban. Mulheres vestidas na maioria de branco, sem sapatos e sem cabelos. Velhinhas encurvadas com os olhos cobertos por cataratas, mas também jovens, em alguns casos com filhos. Seus maridos morreram, e com eles perderam seu lugar na sociedade. Refugiam-se e vagam por esta cidade no norte da Índia, uma das mais sagradas porque aqui cresceu o brincalhão deus Krishna.

As viúvas são de mau agouro na Índia. Às vezes se diz que são a causa da morte do marido. Segundo o Código de Manu, uma das escrituras sagradas mais antigas, uma mulher nunca será independente. “Uma viúva deve sofrer muito antes de morrer, deve ser pura de corpo, pensamento e alma”, diz o texto. O Skanda Purana vai além: “Um homem sábio deve evitar as viúvas, mesmo suas bênçãos, como se fosse o veneno de uma serpente”

O pior de tudo é que para se defender a Sociedade argumenta que estão em Vrindaban porque querem dedicar seus últimos dias a louvar a deus. Como se isto fosse resolver a questão da pobresa e sofrimento destas mulheres.

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Trailler de “Water”

Segundo o censo de 1991, 8% de todas as mulheres da India são viúvas, o que significa cerca de 34 milhões de pessoas. Como o costume é o casamento das meninas muito novinhas, 50% das viúvas têm menos de 50 a

nos de idade.

No grupo acima de 60 anos, 64% das mulheres são viúvas, enquanto que apenas 6% dos homens são viúvos. Essa diferença brutal de gênero existe por causa da alta incidência de viúvos que se casam novamente, enquanto que um novo casamento, na prática, continua sendo uma opção bastante improvável para as mulheres.


Apesar dos números, sabe-se pouco sobre a vida dessas mulheres, na India. A marginalização as torna invisíveis. O que sabemos é que elas vivem em completa pobreza, desemprego, sem acesso aos meios de produção, sem educação formal e sofrendo por superstições que ainda estão bastante arraigadas na cultura indiana.

Já em 1956, um ato hindu estabeleceu

que as viúvas devem ser consideradas iguais a todas as mulheres, mas a tradição fala mais alto.

Por causa de todas privações que passam, as viúvas têm um índice de mortalidade 85% maior que as mulheres casadas. Apesar das péssimas condições dessas Casas de Viúvas, muitas preferem viver nelas do que ficar com a família do ex-marido, sendo constantemente abusadas sexual e fisicamente.


O que se sabe é que ass Casas de Viúvas são empreendimentos mercenários e existem denúncias de que, apesar das mulheres viverem em completa miséria, os administradores fazem muito dinheiro, pedindo ajuda financeira e vendendo serviços sexuais das jovens viúvas.

Sati

Existem ainda informação sobre o ritual das viúvas. Que se chama Sati e, esporadicamente, ainda é praticado em algumas regiões mais tradicionais, ainda que esteja proibido por lei.


Ele tem origem no sacrifício de Sati, a primeira esposa do deus Shiva, que se matou, numa demonstração de fidelidade ao amado que estava sendo humilhado.


Ainda que a prática do sati tenha caído em desuso, a sorte das viúvas indianas ainda é trágica o suficiente. Entende-se que elas não trouxeram sorte para a família, uma vez que os maridos morreram.

Devemos pensar nas mulheres como nossas iguais e lutarmos pela liberdade mundial. Afinal isto não é Cultura é Crueldade!

Elis


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