domingo, setembro 27, 2020

Dica de Cinema na Pandemia: "Já não sou eu quem vive"

 


A *Ruana Oliveira fala tanto que eu fui olhar só um episódio, mais  por amizade que por curiosidade.  E adivinhem!

Quatro episódios  de "Já não sou eu quem vive" já foram devidamente consumidos,  ops, assistidos. 

Vão lá assistir também. 

Um testemunho de Fé em meio a Pandemia. E de quebra você conhecd um pouco da rotina de quem tem #Lupus. 

Quebra de estigma e novos conhecimentos junto a um testemunho de Fé, Amor e Amizade caem bem para um fim de semana chuvoso em #Manaus. 

Atores bem convincentes e histórias tão cotidiana que em alguns minutos não é a vida da Estefanie Maia, é a história de nós todos.

Só tem um defeito: Episódio curto. E mesmo sendo curto, não deixa a desejar.

Promessa que vai ter "blogagem" dessa série no meu blog. Promessa.

Isso aqui é só a entrada.

Assistam. 

Nunca lhes pedi nada! - Pedi sim, eu sei, mas finge aí que é a primeira vez.

Abraços e tchau.

❤❤

Vou  ali fazer café da minha prole.

Beijos.

#Lupus

#Covid19

#CinemaAmazonas

#CinemaCristão

#Feliz7Play

...

*Ruana é a preparadora de elenco mais linda de Manaus.

terça-feira, setembro 22, 2020

Leiturinhas... Papo furado e dica de aula em vídeo

 Estou relendo Medéia,  pessoal. 

Uma edição traduzida do grego  e tem partes que até parece outro livro.

Lembro de uma professora de Literatura que diz que tem edições de "Crime e Castigo " que praticamente não parece uma obra dd Dostoiévski. 

Vou colar o link por aqui porque ela falando sobre ele e sua obra é muito gratificante. Espero que curtam como curtir. 

Até mais...

Abraços saudosos.

Serviços

  Crime e Castigo.  Aula-Entrevista com Helena Vássina.

quarta-feira, setembro 02, 2020

Meus primeiros contatos com o Autismo...

As pessoas geralmente não gostam de mim e eu sinceramente, não me importo com isso. Mas, há crianças que me amam...
E, quando era mais jovem um menino se aproximou de mim e me abraçou.
A família dele me desprezava até a alma, era aquele tipo de gente que acredita em qualquer história ruim sobre uma moça solteira que não quer casar.
Me evitavam. E eu desconhecia a existência do menino. Depois descobri o porquê...
Bem, mas voltemos ao dia que o conheci...
Eu ia andando pela rua e ouvi meu nome e, não era um chamado, era fofoca mesmo. Apertei o passo, entrei por uma rua lateral, para evitar as pessoas que vinham atrás de mim e continuei meu caminho, lendo o livro. De repente alguém me agarrou pelas pernas.
Um susto e um alívio. Era um menino, loirinho, de cabelo escorrido, com um olhar enorme de surpresa e me abaixei.
Como disse, desconhecia a criança. Mas ao olhar, percebi que ele tinha algo diferente. Perguntei seu nome e ele respondeu um amontoado desconexo de balbucios e palavras parecidas de outro idioma.
Disse meu nome e percebi sua inaptidão vocal...
Até aí so tinha conhecido o Nenezão, que no lugar do Autismo recebeu diagnóstico e fama de débil mental. Eu amava o Nenezão e conhecia o padrão vocal dele. O garoto ali era um estranho, mas me olhava como se eu fosse alguém que ele gostasse. 
Comecei conversar com ele para ver se entendia o padrão de comunicação emitido por ele - fala, gestos manuais e faciais, isdo enquanto olhava para os lados para achar um responsável.
Ainda nào conhecia códigos de segurança, mas imaginei que ele viera atrás de mim quando "dobrei" a rua e quando ele aceitou o colo - que foi rápido até. Voltei pelo mesmo caminho. Ele babava um pouco, meu vestido de ir para a igreja ficou inutilizado, mas nem percebi na hora.
Quando fui voltando comecei ouvir um nome. Era o mesmo de meu primo Mecha... Perguntei ao menino se era o nome dele e ele não respondeu. 
Cheguei à rua. E vi algumas pessoas batendo nos portões e vindo da Avenida. Foi o pai que me reconheceu e me viu com a criança.
Correu em minha direção.
O problema é que o menino não foi com ele. E com ninguém!
Ficou agarrado a mim, sem me soltar. Ao ver seu desespero, disse se poderia levá-lo até a casa deles, que era perto, uma subidinha só de onde eu estava. Voltamos, eles sem graça, pedindo desculpas e eu contando a história que começara no caminho, para entretê-lo enquanto não achava ninguém.
Não, eles não passaram a gostar de mim. Não eram desse tipo de pessoa que acredita que se cuida bem dos filhos deles, pode ser perdoado. Mas ganhei um amigo e por 10 anos o revi. Ele parecia adivinhar meus horários, era eu passar e ele estava no portão. Primeiro ele jogava objetos, depois já me chamava com aquela voz gutural.
Cresceu sem estudo, as pessoas o amavam do modo delas, mas tinham receio dd dxpor ele e naquela época o povo também achava que ou era surdo-mudo, ou era débil mental, ou era down e ele não csbia nessas definições populares. Foi por causa do Nenezão e por causa do Emersom que comecei estudar sobre transtornos de aprendizagem. O Nenezão eu ensinei se enturmar, ensinei as crianças colocá-lo nas brincadeiras. Ao Emersom  não consegui ensinar nada porque a família realmente acreditava na inabilidade dele. Mas descobri que ele gostava de bolo e até cheguei, muitas vezes, ir até a casa dele fazer bolo de chocolate, cuca de banana e pudim, que ele pedia. Sim, descobri o padrão de comunicação dele!
Infelizmente, anos depois, ao descobrir algumas fofocas que denegriram minha imagem, o convívio com ele se tornou impossível.
Sempre fico triste quando o imagino parado no portão me esperando...

segunda-feira, julho 20, 2020

"As Mulheres na Bíblia", Eunice Faith Priddy - Desafio Leia Mais no Facebook

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A imagem pode conter: texto que diz "/oulheres na Biblia Um estudo devoci sobre 50 mulh EUNICE FAITH PRID"
Olá, pessoal.
Fiquei devendo minhas duas últimas escolhas para o Desafio Leia Mais no Facebook.
Meu sétimo e último livro foi "Mulheres na Bíblia", da escritora, missionária e radialista franco-americana Eunice Faith Priddy. Um livro de mensagens sobre mulheres que resume suas pesquisas sobre o Universo feminino na Bíblia.  
Por ser um livro com Mensagens veiculas anteriormente em programas radiofônicos, são textos sucintos e que resumem os principais fatos sobre essas mulheres. É bom saber que não é só sobre as heroínas bíblicas. Algumas antagonistas também fazem parte da coletânea e são representadas de forma seca, sem maiores profundidades, porém, não sem deixarem suas marcas na escrita de Eunice.
Indico, tanto para as mulheres cristãs como para as que não são seguidoras do Evangelho. Afinal, muitas dessas mulheres são apontadas como sua devida importância para a História Bíblica. 
Meu exemplar ganhei no Natal de 2011 e tem uma dedicatória linda de minha amiga-irmã Jane Uchôa. 
Espero que experimentem essa leitura maravilhosa e rápida.
Abraços,
Elisabeth Alves


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"Mulheres na Bíblia"
Eunice Faith Priddy
Ed, Pão Diário
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Cartão Saraiva tem 5% de Desconto

sábado, julho 18, 2020

"Edifique-se", de Sérgio Carlos da Silveira - Desafio Leia Mais no Facebook

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Olá, de novo.
Vamos falar sobre a minha Quinta escolha no Desafio de Capas de Livros do Facebook
E a escolha caiu sobre "Edifique-se", do meu amigo Sérgio Carlos da Silveira. Sim, foi uma escolha muito pessoal. Seu segundo livro, o primeiro de Mensagens, com textos para reflexão e edificação, com foto de capa da Let´s Click
Tive o prazer de ajudar na organização, fui convidada para fazer o Prefácio e me orgulho sim de participar ativamente de todo o projeto.
Não foi meu primeiro Prefácio, mas foi o mais importante porque sei para que o livro foi escrito e sei qual o destino para a renda dele.
O livro ainda segue à venda pela editora APMC,  e principalmente agora com a Pandemia trancando todos em casa, se alguém adquirir, muitas famílias serão atendidas com cestas básicas de alimentos e de higiene.



Serviços
Edifique-se
Sergio Carlos da Silveira
São Paulo, 2016

sexta-feira, julho 17, 2020

"A ressurreição de Cristo", Og Mandino - Desafio Leia Mais do Facebook

A imagem pode conter: 1 pessoa, texto que diz "Um Romance do Autor de o Malor Vendedor do Mundo o Maior Milagre do Mundo EDICAO RESSURREICÃO DE CRISTO OG MANDINO"


Olá, pessoal!
Voltei para dividir com vocês minha sexta escolha de Capa no Facebook.
Escolhi o Romance "A Ressurreição de Cristo", de Og Mandino.
Um livro que tive acesso no início da vida adulta. Um amigo querido de Poá, São Paulo, me fez o empréstimo. A Capa era essa mesmo que ilustra a postagem, porém, como boa leitora, entreguei o livro na mesma época. Sem marcas de uso e sem manchas das lágrimas que verti ao ler esse delicioso texto.
Se indico? Claro que sim!
Classificado por alguns como livro de auto-ajuda, esse é apenas um delicioso Romance de Suspense que retrata uma época específica, situações ímpares de um encontro impensado de um ateu com os primeiros cristãos.
É sim um livro sobre Fé, sem ser realmente evangelístico. Linguagem singular, de fácil entendimento e cabe bem nos gostos de muitos jovens de hoje, que curtem uma confrontação de ideias e uma Fantasia leve. já que o livro mescla essas ideias de forma agradável.
No site da Saraiva tem  uma sinopse mais profunda.
Aqui digo apenas que o livro é bom e pode ser considerado tanto Metahistória quanto Metalinguagem, já que o centro da história é a certeza de um autor em querer provar que a Ressurreição é uma farsa e desse ponto surge o até então inimaginável. Mas não direi mais.
É um livro que vale a pena 'entrar cru" na leitura e descobrir suas delícias e possibilidades.
Abraços,

Elisabeth Lorena Alves

Serviços
"A ressurreição de Cristo", 
Og Mandino 
Ed Record
Estante Virtual


Literatura Russa lhe interessa?

Desafio de Leitura Russa
No espaço Literatura Russa para brasileiros  está acontecendo  desde Janeiro um Desafio de Leitura que consiste em ler um livro dos autores que fazem parte do calendário literário exposto lá.
Trouxe a listinha, vai que alguém além de mim queira participar...
Bem... Minha leitura Novembro está adiantada, já que reli "Crime e Castigo" esse ano, embora só tenha feito comentários no Facebook...
Bem. Estou dentro.
Quem se habilita a me seguir nessa empreitada maravilhosa ou não...
Abraços,  meus lindos

quinta-feira, julho 16, 2020

"Olhar de Lanceta", de Elói Alves - Desafio Leia Mais no Facebook


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Olá de novo...
E ainda na série de publicações do Desafio Leia Mais no Facebook, minha escolha hoje é particularmente especial. "Olhar de Lanceta", é o livro de hoje e é um livro que amo, não por ser o livro do Elói Alves , meu irmão biológico. Isso tem muito pouco a ver com minha escolha.
Recomendo, leio e considero especial  por ser um pequeno compêndio de estudos da Sociedade Cultura que faz os olhos voltarem-se para um lugar perdido no mundo: Guaianases. 
O equivalente contemporâneo paulista da Nazaré de Jesus, lugar que não produzia profetas.
Talvez eu tenha que falar de muito mais coisas que um bairro imenso perdido nas beiradas da Zona Leste Paulistana e que só é lembrado em época de Eleições. Mas me nego.
Quero apenas dizer que o livro que traz Seis Ensaios pode ser lido  em uma sentada, já que tem menos de cem (100) páginas. 
E mais não posso falar, só dizer que é um livro que você que gosta de Literatura, de Análise Literária, de Estudar a Sociedade deve visitar e revisitar sempre porque apesar do tamanho e   da pouca pretensão, sempre que o relemos encontramos algo novo.  
Considerados por alguns como Literatura Marginal, para mim o livro é apenas um afronta contra os que usam da literatura e Cultura para oprimir os mais pobres e menos privilegiados. E essa afronta não é única.
O autor tem muitos outros livros e já é uma figura proeminente no cenário educacional paulista, já que muitos professores usam suas obras para incentivar o Alfabetismo Literário dos jovens de Ensino fundamental e médio. 
Se o lerem, comentem em minhas redes sociais sobre suas reflexões.
Abraços.
Elisabeth


Serviço
"Olhar de Lanceta"
Elói Alves
APMC
Peça pela página da editora
APMC

quarta-feira, julho 15, 2020

"Caminhos da Alma", de Joao Braga Neto - Desafio Leia Mais no Facebook

 Olá, de novo.
E o livro de hoje lá no Facebook é "Caminhos da Alma", do escritor e homem público João Braga Neto. O livro é de Poesias e é um presente para a alma e Cultura. 
Os Poemas são de temática diversas e ali você, leitor, encontra o caminhoneiro, o pai e esposo, o homem público e o ser humano João Braga Neto fazendo suas análises críticas sem ser panfletário. 
A imagem pode conter: céu, nuvem, crepúsculo, atividades ao ar livre e natureza, texto que diz "Caminhos da Alma João Braga Neto ."

Sim, é um livro que leva à reflexão, apesar de divertir e situar o leitor no mundo.
Recomendo exatamente pela grandeza dos textos.
Recomendo porque me abriu os olhos para outras realidades. Sim, eu que sempre vi o outro com empatia, deixava de lado alguns por desconhecer suas verdades. Com o crescimento a gente aprende isso: reconhecer verdades diferentes das nossas e respeitá-las.
E "Caminhos da Alma" tem essa capacidade de nos abrir os olhos para outros cenários e outras possibilidades de vida. Reconhecer outras dores, mais cruéis que as nossas, mais dilacerantes e não menos verdadeiras.
Um livro sobre a vida, com certeza, sem ser cruel, é cortante porque nos faz ver que há mais a ser visto e revisitado por esses brasis que fazem o nosso Brasil.
Em tempo, não é minha primeira indicação. Já escrevi sobre ele aqui e até deixei um dos poemas. Visite lá e comente.
Abraços.
E aguarde o de amanhã...


Serviços
"Caminhos da Alma"
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terça-feira, julho 14, 2020

"Vidas Secas", segundo dia de Desafio de Livros na linha do Tempo




A imagem pode conter: xícara de café e bebida


Olá, de novo, sobre o Desafio que falei aqui ontem, minha escolha hoje foi "Vidas Secas", de Graciliano Ramos. 
Um dos mais belos livros que li na vida. Belo e triste. Lúcido e verdadeiro, um retrato de muitos dos homens comuns e tristes que haviam e infelizmente há por aí sem saber se defender por desconhecer seus direitos e deveres, sem amor próprio e invisíveis com suas dores só notadas em tempo de discórdia e de eleição... 


Meu exemplar, presente de minha amiga Leide, é todo marcado. Sobre os sentimentos do Menino Mais Novo, as inquietações do Menino Mais Velho, as certezas da Baleia, a fuga da dor de Fabiano e Sinhá Vitória. O respeito dele pela inteligência da esposa.
Porque mudou minha vida?
Bem, minha principal função social sempre foi Ensinar e "Vidas Secas" me faz ver como é importante armar de conhecimento o Jovem e Adulto que me procura, seja na Igreja, Escola, Associação, Rua... Ensinar é meu dever, mostrar-lhes que há muito mais a ser conquistado  que assinar um cheque recebido por serviços prestados ou verificar um número para por em cédula ou urna.
Conhecer por conhecer, ler para se divertir e aprender mais, assistir filmes e conseguir usar o conhecimento prévio para entendê-lo. Entender que sua Empiria também é conhecimento e que pode ser utilizada em busca de novos horizontes.
"Vidas Secas" para mim sempre foi e ainda é o retrato da alma sem voz...
Por Elisabeth Lorena Alves.


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"Vidas Secas"
Graciliano Ramos
Record, Rio de Janeiro

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segunda-feira, julho 13, 2020

Desafio Livros na linha do Tempo - Primeiro Livro, Bíblia

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    Sobre esse tema, manipulação da Fé para controle social indico um filme "O Livro de Eli", que vai lhe ajudar e muito a entender o que estou dizendo.
    Não ando mais a fim de seguir o Facebook e faz anos já, mas ainda existem lá algumas pessoas que não migraram para as redes sociais mais particulares - Telegram, WhatsApp e outros tipos de mensageiros online - assim, ainda sigo por lá. E agora está acontecendo um Desafio para encher a linha do tempo de livros.  E fui convidada pela escritora Regina Caires a participar. 
    Lá a regra é não falar sobre o livro, só colocar a Capa e o Convite do livro que mudou sua vida, um por dia pelo período de 7 dias. Mas não acho justo e por isso vou tentar escrever por aqui para justificar minhas escolhas. Hoje é meu primeiro dia e escolhi a Bíblia Sagrada. E não, não fotografei a capa do meu exemplar, ele está muito manchado do tempo e manuseio, mas tirei da capa de rosto. Que ainda é a única parte pouco anotada.
    Como a Bíblia mudou minha vida?
    Bem, a Bíblia foi o primeiro livro que li todo muito cedo. A "Bíblia Sagrada" e "Dom Casmurro",  constam em minha memória como o primeiro livro. A Bíblia já li ao todo sete vezes e Dom Casmurro quase isso também. Mas a Bíblia não tem influência em mim só por eu ser evangélica. A Bíblia para mim, quando criança, era meu livro de Histórias. Lia a história do Profeta Elias e imaginava que o monte era atrás da Igreja União Pentecostal de Guaianases. Tinha um morro logo atrás e eu não tinha noção do que era exatamente uma montanha, então, a opção era sempre o inatingível morro atrás da igreja. 
    Na minha inocência imaginava que se eu subisse lá poderia  encontrar ainda os vestígios do fogo que destruíra a oferta do profeta. Mas não era só essas histórias. Minha tia Ivan me dizia coisas sobre a História do Mundo quando eu lia as passagens de Ruth, Ester, Zípora e outras histórias de mulheres que a Bíblia traz. 
    Vou confessar uma coisa aqui, Jezabel era a inimiga de Israel, mas eu achava ela forte. E ainda vejo, só que hoje percebo nela algumas características narcisistas também, o que quebra o encanto. Eu sei, é um flerte estranho para uma cristã, mas eu nunca fui muito de olhar só um lado das coisas em livros e histórias foras da minha realidade. O que é estranho já que no convívio real sou muito passional, tipo "sangue no olho" mesmo e só muita oração para fazer com que eu me controle. Aquilo de contar até Cem, esquece, não 'rola' comigo.  Bem, mais continuemos com a Bíblia...
    Apesar das alegações que muitos fazem sobre o machismo e patriarcado serem criados pela Bíblia, eu vejo nela muitas histórias interessantíssimas de mulheres. Mães solos que criaram filhos para serem importantes. Mulheres que tinham tudo para serem execradas, mas reagiram e se tornaram grandes defensoras de si e dos seus. Mulheres  engenheiras - sim na Bíblia existe relatos de mulheres que tiveram poder político - religioso e interferência em governos, mulheres que fundaram cidades, mulheres que influenciaram a história de homens e de povos.
    O que os críticos fazem é anular as boas histórias e se apegarem ao uso indevido feito sobre esse Livro de Fé e de Histórias, sem realmente quererem mudar vidas, já que se você não diz que a manipulação feita por alguns homens por séculos foi para manter a obediência civil - e não religiosa, está também manipulando e fazendo mal uso e também incorrendo em erro.


Serviços:
Livros
Bíblia Sagrada
Vários Autores
Tradução João Ferreira de Almeida
Sociedade Bíblica do Brasil
Você encontra em qualquer Livraria

"Dom Casmurro"
Machado de Assis
Várias Editoras

Filme
"O Livro de Eli"
Original "The Book of Eli
de  Allen e Albert Hughes
Roteiro: Gary Whitta
Está na grade da  O Livro de Eli | Netflix
(Só abre se sua Conta Netflix estiver logada)

quinta-feira, julho 09, 2020

ɐıɔɐɹɔoɹnq, Eduardo Galeano

Minha dica de leitura hoje pelo Facebook foi um texto de Eduardo Galeano que circula em quase todos os textos sobre Ensino de Jovens e Adultos para pontuar em cada um desses artigos uma ideia diferente. Em tempo, não é uma crítica, é uma informação.
Eu, como esses autores, também gostei do texto e até vou ler o livro todo, mas entre inseri-lo no TCC de minha cliente e postar no Facebook, escolhi a segunda opção. No Artigo o texto destoaria da intenção que estou detalhando, já a rede social e parede de banheiro, salvo as devidas proporções, servem para o registro.
Porém, quis deixar registrado aqui, que é minha escrivaninha - quase sempre empoeirada pelo abandono. E sei que alguém aqui vem ler e degustar essas pequenas porções de respiro no mar de lama que a internet tem se tornado nos últimos tempos...
Aí vai, Burocracia. De ponta cabeça, efeito que achei aqui.



ɐıɔɐɹɔoɹnq,
de Eduardo Galeano

Sixto Martinez fez o serviço militar num quartel de Sevilha.

No meio do pátio desse quartel havia um banquinho. Junto ao banquinho, um soldado montava guarda. Ninguém sabia por que se montava guarda para o banquinho. A guarda era feita porque sim, noite e dia, todas as noites, todos os dias, e de geração em geração os oficiais transmitiam a ordem e os soldados obedeciam. Ninguém nunca questionou, ninguém nunca perguntou.

E assim continuou sendo feito até que alguém, não sei qual general ou coronel, quis conhecer a ordem original. Foi preciso revirar os arquivos a fundo. E depois de muito cavoucar, soube-se. Fazia trinta e um anos, dois meses e quatro dias que um oficial tinha mandado montar guarda junto ao banquinho, que fora recém pintado, para que ninguém sentasse na tinta fresca.
Fonte: "O Livro dos Abraços"

terça-feira, julho 07, 2020

EAD . Uma reflexão sobre estudo de emergência

Fico triste pelos professores e pelos pais quando vejo amigos sem saber como lidar com as aulas online e distribuição de material.
Aos pais, Como professora  digo: EAD hoje realmente não é assim apenas, com um monte de atividades para cópia.
Sim, pais,  Deveria ter aulas online, porém é o professor que paga a internet que o bolso dele permite. Além do mais em nossa formação não há uma Disciplina de Didática de Aula Virtual ou por qualquer outra tecnologia que não seja giz/canetão e lousa.
Na verdade o estudo para o professor já está defasado.
 Imagine que eu fiz só uma aula de Psicologia da Educação e era a 2. Cobrar dos professores uma habilidade que eles não possui é desgastante porque de novo nós, professores, estamos sendo cobrados por algo que não nos compete. 
Se o caso é com seu filho, verifique o material disponibilizado e procure aulas alternativas na internet e lhe dê acesso.
Outra coisa. Quanto a prender atenção e manter interesse,  fique em paz, esse é nosso maior problema em sala de aula, pais e mães,  e se chama "curva de atenção". Nós professores temos que mudar o ritmo da aula de tempos em tempos para diminuir as idas ao banheiro e ao bebedouro...
E atenção:
O Ensino distante não deve ser revisto por um único motivo: ele nunca foi visto ou estudado pelos professores que estão na ativa...
Aos professores,  digo: Força, queridos.

sexta-feira, junho 19, 2020

Análise da revisão do livro de Lucas Cassule

#LiteraturaAfricana



#Luanda

Hoje revisei um texto de um escritor recente de Luanda.

Ok, Sabrinesco não é meu forte. Mas, Análise deveria ser, é um de meus interesses desde antes da Academia.

Bem, então vamos lá:

Gramática - Satisfatório. Levem em consideração que apesar de sermos falantes do mesmo idioma, o português de Luanda tem diferença de nosso vernáculo. Do nosso e do português de Portugal...

Estrutura: Perfeita.

O Ponto de equilíbrio nada mais é que a construção de uma perfeita Anagnórise. Você jamais saberá até que o segredo se desfaça.

Contemporaneidade: A estrutura social está posta de forma perfeita, levando em consideração a vida da personagem:  Um homem feliz que busca diversão. (Mas que isso não posso dizer sem dar uma quebra geral de perspectiva).

Ambiente: Perfeito.

Ruído para aceitação do Desfecho: Sútil, totalmente bem colocado no texto.

Desfecho: Perfeito, com mudança de fortuna (Peripeteia)  -  Que eu amo).

Anote aí esse nome: Lucas Cassule.

Esse é o Cara!

E mais não falo, só peço, fiquem atentos por esses dias!

PS. Foto meramente ilustrativa de meu estado de origem 


Em Espanhol

#Literatura africana

#Luanda

Hoy revisé un texto de un escritor reciente de Luanda.

De acuerdo, Sabrinesco no es mi fuerte. Pero Análisis debería ser, ha sido uno de mis intereses desde antes de la Academia.

Bueno, entonces aquí vamos:

Gramática: satisfactoria. Tenga en cuenta que a pesar de ser hablantes del mismo idioma, el portugués de Luanda es diferente de nuestra lengua vernácula. De los nuestros y los portugueses de Portugal ...

Estructura: Perfecta.

El punto de equilibrio no es más que la construcción de una anagnosis perfecta. Nunca lo sabrás hasta que se conozca el secreto.

Contemporaneidad: La estructura social está perfectamente configurada, teniendo en cuenta la vida del personaje: Un hombre feliz que busca divertirse. (Pero eso no lo puedo decir sin dar una ruptura general en perspectiva).

Entorno: Perfecto.

Ruido de aceptación de resultados: Sutil, totalmente bien ubicado en el texto.

Resultado: Perfecto, con un cambio de fortuna (Peripeteia) - Que me encanta).

Escribe ese nombre allí: Lucas Cassule.

¡Ese es el chico!

Y ya no hablo más, solo pido, ¡estad atentos estos días!

PD. Foto meramente ilustrativa de mi estado de origen.

terça-feira, maio 26, 2020

Que tal William Shakespeare nessa Quarentena?

Que tal um poema do bardo?
Inspiração em quarentena: 5 personalidades que inovaram durante ...


William Shakespeare foi um escritor constante e sua contribuição literária é incontestável. Tanto para a literatura inglesa quanto para os estudos literários em todos os continentes.


Inglês, nasceu em Stratford-upon-Avon, em 1564, e lá também morreu em 1616. Embora tenha vivido em Londres, cidade onde se casou com Anne Hathaway, e onde nasceram seus três filhos. Muito mais não se sabe sobre ele. E apesar de sua obra ser extensa sabe-se que muito do que escreveu não chegou até nós ou chegou sobre outras autorias , já que muito se contesta alguns de seus trabalhos que foram não assinados em vida.


Além das muitas peças, William escreveu muitos poemas livres e sonetos.


Deixo-os com alguns.





Abraços e se cuidem.











"Amor quando é amor não definha
E até o final das eras há de aumentar.
Mas se o que eu digo for erro
E o meu engano for provado,
Então eu nunca terei escrito
Ou nunca ninguém terá amado."


SONETO LXXXVIII


Quando me tratas mau e, desprezado,
Sinto que o meu valor vês com desdém,
Lutando contra mim, fico a teu lado
E, inda perjuro, provo que és um bem.


Conhecendo melhor meus próprios erros,
A te apoiar te ponho a par da história
De ocultas faltas, onde estou enfermo;
Então, ao me perder, tens toda a glória.


Mas lucro também tiro desse ofício:
Curvando sobre ti amor tamanho,
Mal que me faço me traz benefício,


Pois o que ganhas duas vezes ganho.
Assim é o meu amor e a ti o reporto:

Por ti todas as culpas eu suporto.





Curiosidade…


William Shakespeare






Sabiam que William Shakespeare também enfrentou isolamentos por causa de problemas com a Saúde Pública?


Pois isso é fato e o escritor foi um dos primeiros nomes a usar sua habilidade literária em períodos de isolamento. Quando, no século XVII, a Inglaterra sofreu com diversos surtos de peste bubônica, a solução política para evitar o contágio foi o fechamento de locais com grandes aglomerações, o que afetou principalmente bares e teatros - lugares em que artistas como Shakespeare se apresentavam.

Assim, sem poder fazer novas apresentações, inglês aproveitou o tempo para a escrever.

O resultado dessa inserção criativa no isolamento foi obras como o Rei Lear, que foi apresentada para a família real inglesa em dezembro de 1606. O ambiente negativo e temeroso acabou refletindo nessa obra que é uma das histórias mais sombrias de Shakespeare. É corrente a crença que também Macbeth e Antonio e Cleópatra foram escritas durante o período em que os teatros estavam fechados.

segunda-feira, maio 11, 2020

sábado, abril 25, 2020

Mulher-Dama, texto de Regina Ruth Rincon Caires



Olá. Vim aqui rapidinho para contar-lhes de um texto que li no Entrecontos esses dias, "Mulher-Dama", a autora ao inseri-lo no Desafio Envelhecer usou por pseudônimo o nome Guadalupe e, quando li, lembrei-me de Marcos Rey, Marianinho e Lu. Não, não é uma Fanfic. É texto próprio da autora, Regina Ruth Rincon Caires

Uma história maravilhosa, triste, rica de crítica sutil. A narrativa é cativante e vai levando o leitor de forma coercitiva e tentando convencê-lo de seu ponto de vista, que na verdade é só uma narração dos fatos e, no entanto, parece algo mais. Você precisa ler. 

Durante a leitura eu imaginava a Bruna Lombardi, travestida de Lu, contando-nos o fato. Sabe, aqueles lábios vermelhos, pintados com extremo cuidado, deixando a voz sair doce e aveludada, serpenteando no ar e indo aos nossos ouvidos. 

A crítica fica bem marcada na posição das pessoas em relação aos atos da personagem principal. Os atos que nos homens são aceitos, na mulher passam claro, como se ela não pudesse ser humana e tal. A violência que a personagem sofre é invisível, o amor que ela tem é o seu defeito, como se o marido violento fosse santo só porque não traiu - ou porque seus erros não vieram a público na pele dos filhos. 

Mais não conto, deixo por conta de sua curiosidade e leitura. 

Corram lá e leiam. Texto excelente. 

Abraços e fui.



quinta-feira, abril 09, 2020

Um pouco sobre Literatura Amazonense

Amazonas tem Poesia e das boas.
Bem, eu sou muito suspeita para defender esse ponto de vista já que sou apaixonada pela Literatura Amazonense, porém, posso defender minha paixão. E minha paixão por Literatura e pelo Amazonas é fácil de apresentar ao mundo. Thiago de Mello é um bom caminho, sem ser o único, de mostrar a riqueza literária desse grande Estado.
Sua Poesia é viva e  forte, cheia de força e sempre tem algo mais para nos ensinar.
Hoje escolhi uma das mais belas e até conhecidas: "Para os que virão".

𝕻𝖆𝖗𝖆 𝖔𝖘 𝖖𝖚𝖊 𝖛𝖎𝖗ã𝖔
Thiago de Mello
#LiteraturaAmazonense
Como sei pouco, e sou pouco,
faço o pouco que me cabe
me dando inteiro.
Sabendo que não vou ver
o homem que quero ser.
Já sofri o suficiente
para não enganar a ninguém:
principalmente aos que sofrem
na própria vida, a garra
da opressão, e nem sabem.
Não tenho o sol escondido
no meu bolso de palavras.
Sou simplesmente um homem
para quem já a primeira
e desolada pessoa
do singular – foi deixando,
devagar, sofridamente
de ser, para transformar-se
– muito mais sofridamente –
na primeira e profunda pessoa
do plural.
Não importa que doa: é tempo
de avançar de mão dada
com quem vai no mesmo rumo,
mesmo que longe ainda esteja
de aprender a conjugar
o verbo amar.
É tempo sobretudo
de deixar de ser apenas
a solitária vanguarda
de nós mesmos.
Se trata de ir ao encontro.
( Dura no peito, arde a límpida
verdade dos nossos erros. )
Se trata de abrir o rumo.
Os que virão, serão povo,
e saber serão, lutando.

quarta-feira, abril 08, 2020

Poesia Feminina - Vozes esquecidas

Poesia Feminina

Ibrantina Cardona

Vozes esquecidas. 

Diferentes de silenciadas, há vozes que foram sendo deixadas fora das discussões modernas. Nem mesmo o Feminismo fala sobre algumas mulheres artistas. Principalmente as escritoras. Pensei em de vez em quando falar delas aqui. Se bem que já falei de Francisca Júlia aqui no Blog e na Revista Biografia, quando colaborava com eles. E você  pode ler quando quiser.
Hoje falo rapidamente de Ibrantina Cardona. Uma mulher que venceu a invisibilidade e as implicâncias sociais e a própria imprensa que a classificava como alguém que, escrevia alguma coisa, como se sua Poesia fosse obra da futilidade da esposa do Jornalista e empresário de tipografia, Francisco Cardona. Sua obra literária e seu trabalho em Revistas eram constantemente relevados. Entretanto Ibrantina não era mulher chegada aos afazeres domésticos, viva mais pela leitura e edição de revistas e livros.
Antonio Arruda Dantas fez extensa pesquisa sobre ela e lançou até um livro sobre a escritora, lançado pela Editora Pannartz. Livro que infelizmente está em falta no Mercado Editorial.
Bem, vamos ver sua Poesia:

Sub umbra


(À memória de minha mãe)
E morre tudo assim, ao sopro de um momento,
Na sombra glacial dos tristes desenganos...
A crença, as illusões, o amor, o sentimento,
E tudo que ennobrece a nós, frágeis humanos.

A lucta, sempre a lucta! E ao peso de alguns annos
De tanto amargo estudo, esvae-se-nos o alento...
E frívola Sciencia, à sombra dos arcanos,
De duvida complica o nosso pensamento.

No curso da existência ephemera, illusoria,
Augmenta-se, ó loucura! O inferno do supplicio,
Buscando dia a dia um átomo de gloria.

Depois, quando a materia, ao fundo precipício
Do Nada, tomba emfim, apenas a memória
Nos lembra desta vida o inutil sacrifício!


Em: Senhorita, anno 1,n.5, 1920?

terça-feira, março 31, 2020

Conto - À beira do pouso - Hugo de Carvalho Ramos

A Literatura será sempre uma caixinha de surpresas.
Andando por aí encontrei um Conto de Hugo de Carvalho Ramos e resolvi partilhar com vocês.
Hugo de Carvalho Ramos (Vila Boa de Goiás atual Cidade de Goiás, 21 de maio de 1895 — Rio de Janeiro, 12 de maio de 1921) foi poeta e contista e sua obra permanece entre nós. Para que vocês conheça a sua poesia podem ir no Antonio Miranda, tem algumas lá...
Quanta beleza!

A Beira do Pouso

Hugo de Carvalho Ramos


Contavam casos. Histórias deslembradas do sertão, que aquela lua acinzentada e friorenta de inverno, envolta em brumas, lá do céu triste e carregado, insuflava perfeita verossimilhança e vida animada.


Pela maioria, contos lúgubres e sanguinolentos, eivados de superstições e terrores, passados sob o clarão embaçado daquela mesma lua acinzentada e friorenta de inverno, no seio aspérrimo das solidões goianas.


Acocorados à sertaneja sob a copa desfolhada do pouso – um jatobá gigantesco – aquentavam fogo, a petiscar baforadas grossas dos cigarrões de palha, ouvidos atentos ao narrador.


A cangalhada, vermelha à luz da fogueira e rebuçada em ligais, amontoava-se em forma de toca ao pé da árvore, resguardando o carregamento, e, na necessidade, dado o mau tempo, todo o pessoal. Uma neblina leve e hibernal, esgarçada e refeita aos raios mortos da lua, embuçava ao fundo a campina, onde cincerros de tropa badalavam intermitentes.


E, sob aquele céu frio e austral de maio, estiolava-se ressequida a vegetação tenra e rasteira dos campos goianos.


O arrieiro, mestiço traquejado e serviçal, na sua voz grossa e arrastada de cuiabano, arrematava o final dum conto de lobisome.


O silêncio – pesado – restabelecera-se debaixo da impressão sinistra daquela narrativa; e o Aleixo – um caburé truculento amigo da boa pinga e frequentemente mudando de patrão pelo seu gênio teimoso e arreliado, – puxando para si o cuité fumegante de congonha e chupitando uma golada, começou então assim:


– Naquele tempo viajava eu escoteiro, no meu jaguané de fama, por estas estradas da minha terra; isso, noitão cerrado e vésperas da Paixão. Manhãzinha, Deus servido, devia bater em Santa Rita pra negócio de precisão e a lua só pela madrugada despontaria. Marchava apressado, tendo a cortar todo um estirão de oito léguas bem puxadas para alcançar o arraial. Vai senão, ali nas alturas do Bugre, ouço passos cadenciados à minha frente. Olhei, o lugar era ensombrado, o caminho muito estreito e solapado não tinha desvio; e, como lhes dizia, não havia luar. Assim na sombra, assemelhou-se-me a dois homens baixos, conduzindo qualquer coisa, a modo de trouxa, num varão.


“– Naturalmente soldados em diligência para Santa Leopoldina –, calculei. Num claro de mato, achegando o animal, vi perfeitamente: eram dois negros acurvados, num andar ora lento, ora apressado, que levavam ao ombro uma rede de defunto. Cravei as esporas no meu bicho pra ganhar a dianteira – que eu não arreceio um cabra de maus fígados, mas tenho uma ojeriza dos diabos a tudo que me cheira defunto; e isso, desde aquela estopada onde o Policarpo viu que um jacaré não sai à toa da bainha e que eu, apesar de simples camarada, não guardo desfeita para depois. O bicho fiel certamente estranhou as rosetas, tanto que meteu num trote bruto de pôr tripas pela boca afora do peão mais desabusado. Os pretos excomungados, sacolejando a rede, começaram a trotar lá adiante.


– Olá – gritei. – Param vocês aí com o defunto e abram-me passagem. – Os carregadores nem pio, antes continuaram, arremedando, a correr duro, vergados sob o varão, cabisbaixos e macambúzios. Achei esquisito. Joguei o jaguané a galope: galoparam também, ganhando distância, a desaparecer no sombreado espesso das árvores. Qual, isso é ainda efeito da beijoca que dei ali atrás ao frasco de cachaça, ia pensando. Noutro claro, porém, lá tornei a enxergar os dois pretos condutores, arqueados e silenciosos debaixo da carga maldita. Iam depressa, tanto como o meu punga. O carreiro apertava, aprofundando-se; não tinha por onde atalhar. Demais, um travo de zanga subia-me à garganta.


– Eu lhes amostrarei, canalhas; estão caçoando comigo, seus bêbados, pois esperam aí. – Varei o meu bicho nas chilenas e ele disparou à toda, que o terreno era um seu tico movediço, mas o animal, apesar de cansado, era de fiança.”


– E pegou-os?


– Qual o quê, seu Zé; os demônios abriram numa carreira de curupira, a fazer mais estrépito que o casco do meu bicho! Assim andamos bom pedaço, o carreiro mais estreito e solapado, o arvoredo mais fechado e carrancudo, o sítio mais escuro. Afinal, não ganhava nem perdia, e o pingo a resfolegar já bambo. Sofreei a marcha. Os pretos, bufando alto debaixo da carga, regularam logo a sua andadura pela minha. Pus o sendeiro a passo: eles, do mesmo modo, pausados, em cadência, recomeçaram o movimento primitivo, a passo, desocupados. Decididamente esquisito, mesmo muito esquisito. Parei o pingo. Os pretos, imitando, pararam. Fiquei ali imóvel longo tempo, os olhos neles grudados, sem tino, enquanto que o minguante principiava a tingir de açafrão a copa folhuda das árvores, e lentamente ia abaixando a sua luz amarelada sobre o carreiro. Acoroçoado, reencetei a marcha; eles fizeram o mesmo, e assim continuamos por mais de hora, eu calado, apertando nos dedos o cabo encerado do jacaré, eles arcados, pausados, o fardo ao ombro, em cadência de soldados. De supetão – desfiava eu o creio-em-deus-padre de trás para diante mais uma vez – o carreiro desembocou num campo largo, coalhado de luar. A lua deu de chapa nos dois carregadores. Adivinham, se podem, o que vi então, todo apalermado, assombrado mesmo.


– O cuca – aventurou tímido um.


– Qual! Uma vaca.


E perante o assombro descomedido daquelas feições rústicas e encardidas de sol, o Aleixo arrematou com pachorra:
A
– Pois isso mesmo, os dois pretos arcados, eram seus quartos escuros e a rede de defunto, a barriga malhada. Como o carreiro era fundo e apertado, ela não tivera por onde torcer; o escuro, a solidão daqueles lugares e – pra tudo dizer – o medo, fizeram o resto.


A companhia respirava aliviada.


O plenilúnio acinzentado e friorento de inverno, envolto em brumas, lá do céu triste e carregado, insuflava vida e animação às personagens fantasmagóricas daquelas histórias primitivas.


Cincerros badalavam intermitentes e sonoros na campina ao fundo, onde a neblina hibernal do sertão, esgarçada e refeita aos raios mortos da lua, abafava o horizonte.


Fumegando, a chocolateira fuliginosa e aromatizada de congonha passou de mão em mão, transbordando os cuités.


A fogueira – em brasa – tremeluzia.


Um outro tomou a palavra.

segunda-feira, março 30, 2020

Porquinho da Índia e Quarentena

E hoje vamos de novo com Poesia?
Que tal uma infanto-juvenil de nosso Manuel Bandeira?
Gosto desta poética mais dócil, com olhar mnemônica, voltado para nossas memórias mistas que o eu-lírico  reescreve um fato com outros olhos.
O porquinho da Índia da infância,  independente e voluntarioso dos brinquedos infantis é res significado com uma imagem da mulher adulta e chega até o leitor com esse misto de ternura e rebeldia tão característico de um grande poeta.
Curte aí  que eu curto daqui e seguimos juntos,  porém distantes, nossa Quarentena.


           Porquinho da Índia

Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele pra sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...

— O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.

domingo, março 29, 2020

Pensei em Cecília Meireles - E "Motivo" é uma poesia que me seduz...



Tem dias que amanheço assim, pensando em Poesia apesar das dores da reabilitação.
E entre lágrimas, risos e um copo de água, as palavras me abraçam, principalmente neste momento em que abraçar se tornou algo perigoso. Então, ser abraçada por Cecília Meireles é maravilhoso!
Trouxe para você ler comigo.
"Bora lá?"



 Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada
.

quarta-feira, março 18, 2020

Minha Leitura: Fernanda e Fernando - Machado de Assis

 Minha leitura de hoje é clássica e linda. Um Conto de amor de Machado de Assis. Divido com vocês  este texto primoroso, na íntegra. Mantenho a fonte e designer  da postagem oficial para que tenha ideia do primor com que foi tratado no ambiente em que encontrei. Vale lembrar que apesar de ser uma obra de domínio público devemos respeitar os colaboradores de nossa Arte Literária que  publicam em seus blogues e sites estas preciosidades. 
Vamos ler?



Fernando e Fernanda




Texto-fonte:
http://www2.uol.com.br/machadodeassis/

Publicado originalmente em Jornal das Famílias, 1866.




 Tinham os mesmos nomes. Cresceram juntos, à sombra do mesmo amor materno. Ele era órfão, e a mãe dela, que o amava como se ele fora seu filho, tomou-o para si, e reuniu os dois debaixo do mesmo olhar e dentro do mesmo coração. Eram quase irmãos, e sê-lo-iam sempre completamente, se a diferença dos sexos não viesse, um dia, dizer-lhes que um laço mais íntimo podia uni-los.

Um dia, tinham ambos quinze anos, descobriram os dois que se amavam, e mais do que se amam irmãos. Esta descoberta foi feita durante uma troca de olhares e um contato de mãos.

— Fernanda! disse ele.

— Fernando! respondeu ela.

O resto foi dito nessa linguagem muda e eloqüente, em que o maior ignorante faz prodígios de retórica, retórica do coração, retórica universal.

Mas o amor, sobretudo o amor calouro, como era o dos meus heróis, tem o inconveniente de supor que todo o resto da humanidade está com os olhos tapados e os ouvidos surdos, e que ele pode existir só para si, invisível e impalpável.

Ora, não sendo assim, apesar da boa fé de Fernando e Fernanda, aconteceu que a velha mãe deu pelas coisas logo dois dias depois da primeira revelação.

Esperavam os três a hora do chá, reunidos em torno de uma pequena mesa, onde Madalena (a mãe de ambos) punha em ordem uns papéis. Os papéis diziam respeito a várias reclamações que Madalena devia fazer, por parte de seu finado marido, à fazenda pública.

Isto se passava em uma província do norte, e Madalena preparava-se, no caso de ser preciso, a vir pessoalmente ao Rio de Janeiro, apresentar as suas reclamações.

Nesse serviço era a boa velha ajudada pelos dois filhos, a legítima e o adotivo; mas estes, sem quebra do respeito que votavam à mãe comum, esqueciam-se muitas vezes do que faziam, para confundirem por longo tempo os olhos, que, na frase chistosa de H. Murger, são os plenipotenciários do coração.

Em uma dessas ocasiões, Madalena, com os olhos baixos, reunindo os papéis que lhe eram mais necessários, disse a Fernando que lhe fosse buscar um maço de documentos esquecidos no gabinete.

Fernando não atendeu à ordem.

Madalena repetiu as palavras, segunda vez, sem levantar os olhos.

Igual silêncio.

Madalena levantou a cabeça e ia pela terceira vez dizer a mesma coisa, quando reparou no êxtase em que estavam Fernando e Fernanda.

Então, erguendo a voz, repetiu a ordem a Fernando.

Este estremeceu, levantou-se e foi buscar o maço de documentos.

Daí a pouco serviu-se o chá; porém Madalena, que era, sempre, tanto ou mais gárrula que os dois namorados, mostrou-se durante o chá de uma completa taciturnidade.

Isto causou estranheza à filha e ao filho, mas não lhes inspirou suspeita alguma, pela simples razão de que nem ele nem ela conheciam ainda bem o alcance e a natureza do sentimento que os dominava.

Explicarei a razão desta ignorância em corações de quinze anos. Nem Fernando nem Fernanda tinham prática do mundo; não viam ninguém; nada sabiam além do amor fraterno e filial em que foram criados.

Um velho padre, parente afastado de Madalena, ensinara-lhes a ler e a escrever várias línguas e a história sagrada; mas o modo por que era feito o ensino, a tenra idade em que eles começaram a aprender, a cor legendária que eles viam nos textos sagrados, tudo isso contribuía para que a idéia do amor dos sexos nunca se lhes apresentasse no espírito de um modo claro e positivo.

Deste modo o episódio de Rute, verdadeira página da poesia rústica, era lido pelos dois sem comentário do coração, ou do espírito.

Nem por curiosidade aconteceu perguntarem nunca o fim dos meios empregados pela irmã de Noemi em relação ao rico homem Booz.

Eva, o fruto, a serpente, eram para Fernando e Fernanda a mesma serpente, o mesmo fruto, a mesma Eva, ocultos nos princípios da humanidade pelas névoas da legenda religiosa.

Quanto ao Cântico dos Cânticos, o padre-mestre julgou dever suprimi-lo na Bíblia em que aprendiam os dois jovens parentes. Esse padre-mestre, apesar de insistir no caráter alegórico do livro de Salomão, segundo a versão católica, julgou não dever dá-lo em leitura ao espírito de Fernando e Fernanda.

Resultou de todo este cuidado que o coração juvenil dos dois namorados nunca teve idéia clara do sentimento que os unia tão intimamente. Era a natureza quem fazia as despesas daquele amor sem conseqüências.

No dia seguinte ao da cena que narrei rapidamente, Madalena chamou os dois namorados em particular e interrogou-os.

Os cuidados de Madalena eram mui legítimos. Apesar do recato com que tinham sido educados os dois filhos, ela não podia saber até que ponto a inocência deles era real. Sondar-lhes o espírito e o coração parecia-lhe um dever imperioso. Fê-lo com toda a habilidade; Fernando e Fernanda, confessando uma afeição mais terna que antiga, nada sabiam, todavia, do caráter e do mistério dessa afeição.

Madalena, para quem o amor de Fernando por Fernanda não era mais do que o sonho de sua vida realizado, beijou-os, abraçou-os e prometeu-lhes que seriam felizes.

— Mas, acrescentou ela, explicando como podia as coisas, é preciso que o meu Fernando se faça homem; tome um bordão de vida, para cuidar da sua... irmã; ouviu?

E tratou de consultar a vocação de Fernando, consultando também o padre-mestre, não sem comunicar-lhe as descobertas que fizera.

O padre-mestre contrariou-se um bocado com a tal descoberta. Em seus projetos secretos a respeito de Fernando, que era a um tempo discípulo e afilhado, entrara o de fazê-lo entrar para um seminário e depois para um convento. Queria, disse ele a Madalena, fazer de Fernando uma coluna da Igreja. Era um menino inteligente, mostrava entusiasmo pelas letras sagradas, podia, com os desenvolvimentos que se lhe desse ao espírito, tornar-se o S. Paulo do novo mundo.

Madalena declarou-lhe que era necessário tirar daí o pensamento. O padre-mestre resignou-se.

Depois de muito discutirem, em presença de Fernando, resolveu-se que o rapaz estudasse medicina.

Em conseqüência foi determinado que fizesse os preparatórios e seguisse para a corte para continuar os estudos superiores.

Esta resolução entristeceu Fernando. Foi comunicá-la a Fernanda, e ambos se desfizeram em lágrimas e protestos de uma afeição eterna.

Mas quis a felicidade que Madalena precisasse ir ao Rio de Janeiro para cuidar dos papéis de suas reclamações. Assim toda a família se pôs a caminho, e daí a alguns meses estavam todos, menos o padre-mestre, definitivamente instalados na capital.

Fernando seguiu os estudos necessários à carreira escolhida.

A idade, a maior convivência na sociedade, tudo revelou aos dois namorados a razão de ser da afeição mais terna que sentiam um pelo outro.

O casamento apareceu-lhes no horizonte como uma estrela luminosa. Daqui vieram os projetos, os planos, as esperanças, os edifícios de felicidades construídos, e destruídos para dar lugar a outros de maiores proporções e mais imponente estrutura.

Eram felizes. Não conhecendo nenhuma das misérias da vida, viam o futuro pelo prisma da própria imaginação e do próprio desejo. Parecia-lhes que o destino ou as circunstâncias não tinham o direito de impedir a realização de cada um de seus sonhos.

Entretanto, tendo Fernando concluído os seus estudos, foi decidido que iria à Europa estudar e praticar ainda por dois anos.

Era uma separação de dois anos! E que separação! A separação do mar, a mais tremenda de todas as barreiras, e que aos olhos de Fernanda era como que o perigo certo e inevitável. A pobre menina dizia muitas vezes a Fernando:

— Quando fores meu marido, proíbo-te que ponhas pé no mar!

— Não ponho, não, respondia Fernando sorrindo, o navio é que há de pôr a quilha.

Anunciava-se agora uma viagem. Cedo começavam os sustos e as desgraças de Fernanda.

A pobre menina chorou muitas lágrimas de pesar e até de raiva por não poder impedir que Fernando partisse.

Mas era preciso.

Fernando partiu.

Madalena procurou o mais que podia animar o rapaz e consolar a filha. Ela própria sentia rasgarem-se-lhe as entranhas ao ver partir aquele que por dois motivos era seu filho; mas tinha coragem, e coragem filha de dois sentimentos elevados: — o primeiro era que se devia completar a educação de Fernando, que ela tomara a seu cuidado; o segundo era que para marido da sua Fernanda devia dar um homem completo e apto a alcançar os mais honrosos cargos.

Fernando compreendia isto, e soube ser corajoso.

Não entra no meu propósito contar, cena por cena, dia por dia, os acontecimentos que preencheram o intervalo da ausência do jovem médico pela ciência e doente pelo amor.

Corramos folha e entremos logo no dia em que o navio em que saíra Fernando se achou de novo no porto da capital.

Madalena recebeu Fernando como se recebe a luz depois de uma longa prisão em cárcere escuro. Indagou de muitas coisas, curiosíssima pelo menor incidente, e risonha de felicidade a todas as narrações do filho.

— Mas Fernanda? perguntou ele depois de algum tempo.

A mãe não respondeu.

Fernando insistiu.

— Fernanda morreu, disse Madalena.

— Morreu! exclamou Fernando levando as mãos à cabeça.

— Morreu para ti: está casada.

A previdente Madalena começara do menor para o maior. Com efeito, para Fernando melhor fora que Fernanda tivesse morrido do que se tivesse casado.

Fernando desesperou ao ouvir as palavras de sua mãe. Esta veio com imediatos conselhos de prudência e resignação. Fernando a nada atendia. Formara durante tanto tempo um castelo de felicidade, e eis que uma simples palavra derrubara tudo. Mil idéias lhe atravessaram o cérebro; o suicídio, a vingança, voltavam a ocupar-lhe o espírito, cada qual por sua vez; o que ele via no fundo de tudo era a perfídia negra, a fraqueza do coração feminino, a zombaria, a má fé, ainda nos corações mais virgens.

Enfim, Madalena pôde tomar a palavra e explicar ao desditoso mancebo a história do casamento de Fernanda.

Ora, a história, a despeito de sua vulgaridade, deve ser contada aqui para conhecimento dos fatos.

Fernanda sentira, e sinceramente, a ausência de Fernando.

Chorou longos dias sem consolação. Para trazer-lhe algumas distrações ao espírito, Madalena resolveu levá-la às reuniões e introduzi-la entre as moças da mesma idade, cuja convivência não podia deixar de ser-lhe útil, visto que lhe tranqüilizaria o espírito, sem varrer-lhe da memória e do coração a idéia e o amor do viajante.

Fernanda, que até ali vivera uma vida modesta e retirada, achou-se de repente ante um mundo novo. Sucediam-se os bailes, as visitas, as simples reuniões. Pouco a pouco a tristeza foi desaparecendo e dando lugar a uma satisfação completa e de bom agouro para Madalena.

— Bem, pensava a velha mãe, deste modo Fernanda poderá esperar Fernando, sem murchar-lhe a beleza da mocidade. Estas relações novas, esta nova convivência, tirando-lhe a tristeza que a acabrunhava, dar-lhe-á mais força ao amor, em virtude do espetáculo do amor alheio.

Madalena raciocinava bem até certo ponto. Mas a prática demonstrou que a sua teoria era errada e não concluía como o seu coração.

O exemplo alheio, longe de fortificar Fernanda na fidelidade ao amor jurado, trouxe-lhe um prurido de imitação; ao princípio, simples curiosidade; depois, desejo menos indiferente; mais tarde, vontade decidida. Fernanda desejou imitar as novas amigas, e teve um namorado. A algumas ouvira que não ter um namorado, pelo menos, era dar prova de péssimo gosto, e de nenhum espírito; e Fernanda não queria de modo algum ficar neste ponto atrás das suas companheiras.

Entre os rapazes que a requestavam havia um certo Augusto Soares, filho de um rico capitalista, que era o seu primeiro mérito, sendo o segundo a mais bem merecida fama de néscio que ainda coroou uma criatura humana.

Mas os néscios não trazem na testa o dístico de sua necedade; e, se é certo que Soares não podia encadear duas frases sem ferir o senso comum, também é certo que muitas mulheres perdoam tudo, até a tolice, em ouvindo tecer um gabo às suas graças naturais.

Ora, Soares começava por aí, o que foi meio caminho andado. Fernanda, vendo que o rapaz era da mesma opinião que o seu espelho, não indagou de outras qualidades; deu-lhe o sufrágio... não do coração, mas do espírito. O coração veio mais tarde.

Ter um preferido, como objeto de guerra para os mais, e ver assim mais requestada a sua preferência, era trilhar o caminho das outras e ficar na altura do bom tom. Fernanda, desde o primeiro dia, mostrou-se tão hábil como as outras.

Mas quem pode lutar com um néscio em ele tomando ao sério o seu papel? Soares era ousado.

Não tendo consciência da nulidade do seu espírito, obrava como se fosse um espírito eminente, de modo que conseguia aquilo que nenhum homem avisado fora capaz de conseguir.

Deste modo, ao passo que a ausência de Fernando se prolongava, iam calando no espírito as declarações reiteradas de Soares, e o coração de Fernanda foi pouco a pouco cedendo o amor antigo ao recente amor.

Veio a comparação (a comparação, que é a perdição das mulheres). Fernando amava com toda a sinceridade e singeleza do seu coração; Soares amava de modo diverso; sabia entremear uma declaração com três perífrases e dois tropos, destes que já cheiram mal, por andarem em tantas bocas, mas que Fernanda ouvia com encanto porque era uma linguagem nova para ela.

Finalmente, um dia declarou-se a vitória de Soares no coração de Fernanda, não sem alguma luta, à última hora, e que não era mais do que um ato voluntário de Fernanda para tranqüilizar a consciência e deitar a sua traição para as costas do destino.

O destino é o grande culpado de todas as más ações da humanidade inocente...

Um dia Soares, tendo previamente indagado das posses de Fernanda, foi autorizado por esta a pedi-la em casamento.

Madalena não deu logo o seu consentimento; quis antes consultar Fernanda e ver até que ponto era séria a nova resolução de sua filha.

Fernanda declarou amar deveras o rapaz, e fez depender a sua vida e felicidade de tal casamento.

Madalena julgou dever guiar aquele coração que lhe parecia transviado. Foi luta vã: Fernanda estava inabalável. Depois de três dias de trabalho, Madalena declarou a Fernanda que consentia no casamento e mandou chamar Soares para dizer-lhe a mesma coisa.

— Mas sabes tu, perguntou a boa mãe à sua filha, sabes a que vais expor o coração de Fernando?

— Ora! há de sentir um pouco; mas depois esquecer-se-á...

— Julgas isso possível?

— Por que não? E quem sabe o que ele estará fazendo? Os países aonde foi talvez lhe dêem alguns novos amores... É uma por outra.

— Fernanda!

— Esta é a verdade.

— Está bem, Deus te faça feliz.

E, tendo chegado o namorado pintalegrete, Madalena deu-lhe verbal e oficialmente a filha em casamento.

O casamento efetuou-se pouco depois.

Ouvindo esta narração, Fernando estava aturdido. Desfazia-se em névoa a esperança suprema das suas ambições de moço. A donzela casta e sincera que supunha vir encontrar desaparecia para dar lugar a uma mulher de coração pérfido e vulgar espírito.

Não pôde reter algumas lágrimas; mas poucas foram; às primeiras palavras de sua mãe adotiva pedindo-lhe coragem, Fernando ergueu-se, enxugou os olhos e prometeu não abater-se. Procurou mesmo ficar alegre. A pobre Madalena receou alguma coisa e consultou Fernando sobre os seus projetos.

— Oh! descanse, minha mãe, respondeu este; supõe talvez que eu me mate ou mate alguém? Juro-lhe que não farei nem uma nem outra coisa. Olhe, juro por isto.

E Fernando beijou respeitosamente a cabeça encanecida e veneranda de Madalena.

Passaram-se alguns dias depois da chegada de Fernando. Madalena, vendo que pouco a pouco se tranqüilizava o espírito de Fernando, tranqüilizou-se também.

Um dia Madalena, ao entrar Fernando para jantar, disse-lhe:

— Fernando, sabes que Fernanda vem hoje visitar-me?

— Ah!

Fernando não pensara nunca que Fernanda podia visitar sua mãe e encontrar-se com ele em casa. Todavia, depois da primeira exclamação, pareceu refletir alguns segundos e disse:

— Isso que tem? Ela pode vir; eu cá estou: somos dois estranhos...

Madalena ficou desta vez plenamente convencida de que Fernando não sentia mais nada por sua filha, nem amor, nem ódio.

À noite, com efeito, na ocasião em que Fernando se preparava para ler à sua mãe uns apontamentos de viagem que estava escrevendo, parou à porta um carro conduzindo Soares e Fernanda.

Fernando sentiu palpitar-lhe violentamente o coração. Duas lágrimas, as últimas, saltaram-lhe dos olhos e correram pelas faces abaixo. Fernando enxugou-as ocultamente. Quando Madalena olhou para ele, estava completamente calmo.

Entraram os dois.

O encontro de Fernando e Fernanda não foi sem alguma comoção em ambos; mais apaziguada em seus amores por Soares, Fernanda entrava já na reflexão, e a vista de Fernando (que aliás ela sabia já ter voltado) era para ela uma exprobração viva do seu procedimento.

Era mais: a presença do primeiro amante lembrava-lhe os primeiros dias, a candura do primeiro afeto, os sonhos de amor, sonhados por ambos, na doce intimidade do lar doméstico.

Quanto a Fernando, sentia também que lhe voltavam estas lembranças ao espírito; mas, ao mesmo tempo, unia-se à saudade do passado um desgosto pelo aspecto presente da mulher que amara. Fernanda estava uma casquilha. Ar, maneiras, olhares, tudo era característico de uma revolução completa em seus hábitos e em seu espírito. Até a palidez natural e poética do rosto desaparecia debaixo de umas posturas de carmim, sem tom nem graça, aplicadas unicamente para afetar um gênero de beleza que não tinha.

Esta mudança era resultado do contato de Soares. Com efeito, desviando os olhos de Fernanda para cravá-los nos do homem que lhe roubara a sua felicidade, Fernando pôde ver nele um tipo completo do pintalegrete moderno.

Madalena apresentou Fernando a Soares, e os dois retribuíram friamente o cumprimento do estilo. Por que friamente? Não é que Soares já soubesse do amor que houvera entre sua mulher e Fernando. Não quero deixar supor aos leitores uma coisa que não existe. Soares era de natural frio, como um homem cujas preocupações não vão além de certas futilidades. Quanto a Fernando, compreende-se bem que não era o mais próprio a cumprimentar calorosamente o marido de sua ex-amada.

A conversa entre todos foi indiferente e fria; Fernando procurava e requintava nessa indiferença, nos seus parabéns a Fernanda e na narração que fazia das viagens. Fernanda estava pensativa e respondia por monossílabos, sempre com os olhos baixos.

Tinha vergonha de fitar aquele que primeiro lhe possuíra o coração, e que era agora o remorso vivo do seu amor passado.

Madalena procurava conciliar tudo, aproveitando a indiferença de Fernando para estabelecer uma intimidade sem perigo entre as duas almas que um terceiro divorciara.

Quanto a Soares, esse, tão frio como os outros, dividia a sua atenção entre os interlocutores e a própria pessoa. A um espírito atilado bastavam dez minutos para conhecer a fundo o caráter de Soares. Fernando no fim de dez minutos sabia com que homem lidava.

A visita durou pouco menos do que costumava. Madalena tinha por costume conduzir sua filha à casa todas as vezes que esta a visitava. Desta vez, quando Soares a convidou a tomar lugar no carro, Madalena pretextou um ligeiro incômodo e pediu desculpa. Fernando compreendeu que Madalena não queria expô-lo a ir também levar Fernanda até à casa; interrompeu a desculpa de Madalena e disse:

— Por que não vai, minha mãe? É perto a casa, creio eu...

E dizendo isto interrogou Soares com o olhar.

— É perto, é, disse este.

— Pois então! continuou Fernando; vamos todos, e depois voltamos nós. Não quer?

Madalena olhou para Fernando, estendeu-lhe a mão e com um olhar de agradecimento respondeu:

— Pois sim!

— Devo acrescentar que eu não posso ir já. Tenho de ir buscar uma resposta daqui a meia hora; mas apenas estiver livre lá vou ter.

— Muito bem, disse Soares.

Fernando informou-se da situação da casa, e despediu-se dos três, que entraram para o carro e apartaram-se.

A mão de Fernanda tremia quando esta a estendeu ao moço. A dele não; parece que a maior indiferença reinava naquele coração. Fernanda ao sair não pôde deixar de soltar um suspiro.

Fernando não tinha resposta alguma a ir buscar. Não queria utilizar-se de objeto algum que pertencesse a Soares e Fernanda; desejava trazer sua mãe, mas em carro que não fosse daquele casal.

Com efeito, depois de deixar correr o tempo, para verossimilhança do pretexto, vestiu-se e saiu. Chamou o primeiro carro que encontrou e tomou a direção da casa de Soares.

Aí o esperavam para tomar chá.

Fernando mordeu os beiços quando lhe declararam isto; mas, cobrando o sangue-frio, disse que não podia aceitar, visto ter já tomado chá com a pessoa de quem fora buscar a resposta.

Não escapou a Madalena o motivo das duas recusas, a do carro e a do chá.

Às dez horas e meia Madalena e Fernando estavam de volta para casa.

Passaram-se vinte dias depois destas cenas, e sempre que elas se repetiam Fernando era o mesmo, respeitoso, frio e indiferente.

Madalena, tranqüila até certo ponto, sentia profundamente que Fernando não voltasse à franca alegria dos tempos passados. E para fazer-lhe entrar alguma nova luz no espírito, a boa mãe instava com ele para que entremeasse os estudos e os trabalhos de sua profissão com alguns divertimentos próprios da mocidade.

— Por que não passeias? Por que não vais aos bailes? Por que não freqüentas as reuniões a que és convidado? Por que foges do teatro, de tudo o que a mocidade procura e precisa?

— Não tenho gênio para essa vida agitada. A solidão é tão boa! ...

Enfim, um dia Madalena conseguiu que Fernando fosse ao teatro lírico com ela. Cantava-se a Favorita. Fernando ouviu pensativo e absorto aquela música que em tantos lugares fala à alma e ao coração. O ato final sobretudo deixou-o comovido. Estas distrações repetiram-se algumas vezes.

De concessão em concessão, Fernando achou-se repentinamente freqüentando com assiduidade os bailes, os teatros e as reuniões. O tempo e as distrações iam apagando no espírito de Fernando os últimos vestígios de um destes ressentimentos que, em certo grau, é amor disfarçado.

Já se aproximava de Fernanda sem comoção nem acanhamento: sua indiferença era mais espontânea e natural.

Afinal de contas, pensava ele, aquele coração, tão volúvel e estouvado, não devia ser meu; a traição mais tarde seria mais funesta.

Esta reflexão filosófica era sincera e denotava bem como a razão dominava já, no espírito de Fernando, as memórias saudosas do passado.

Mas Fernanda? Oh! o estado dessa era outro. Aturdida a princípio com a vista de Fernando; um pouco arrependida depois, quando lhe pareceu que Fernando morria de dor e pesar; mais tarde, despeitada, vendo e conhecendo a indiferença que respiravam as maneiras e as palavras dele; finalmente combatida por mil sentimentos diversos, o despeito, o remorso, a vingança; desejando fugir-lhe e sentindo-se arrastada para o homem que desprezara; vítima de um conflito entre o arrependimento e a vaidade, a esposa de Soares sentiu que se operava uma revolução no seu espírito e na sua vida.

Em mais de uma ocasião Fernanda fizera sentir, em palavras, em olhares, em suspiros, em reticências, o estado do seu coração. Mas Fernando, a quem já não causava comoção a presença de Fernanda, não dava fé das revelações, às vezes demasiado eloqüentes, da esposa do pintalegrete.

Mas quem dava fé era o pintalegrete. Sem dispor de grande atilamento, o jovem Soares chegara a perceber que o espírito de sua mulher sofria alguma alteração. Começou a suspeita pela indiferença com que Fernanda o acompanhara na discussão dos méritos de duas novas qualidades de posturas do rosto, assunto grave, em que Soares desenvolvia riquezas de dialética e grande soma de elevação. Prestou mais atenção e convenceu-se de que Fernanda tinha alguma coisa no espírito que não era a pessoa dele, e como marido previdente, tratou de indagar o motivo e o objeto da preocupação.

Seus esforços foram vãos ao princípio. Despeitado interrogou Fernanda, mas esta não só não o iluminou na dúvida, senão que o desconcertou com uma apóstrofe de simulada indignação.

Soares julgou dever-se recolher aos quartéis da expectativa.

Estavam as coisas neste pé quando o parente de Madalena que levara Fernando à Europa deu um sarau por motivo do aniversário de sua mulher.

Não só Fernando, como Soares e Fernanda, foram convidados para aquele sarau.

Fernando, como disse, já ia a essas reuniões por vontade própria e natural desejo de aviventar o espírito.

Neste alguma coisa mais o esperava, além da simples e geral distração.

Quando Fernando chegou ao sarau, seriam onze horas da noite, cantava ao piano uma moça de 22 anos, alta, pálida, de olhos e cabelos pretos, a quem chamavam todos Teresa.

Fernando chegou a tempo de ouvir toda a canção que a moça cantou, inspirada e febril.

Quando ela acabou, um murmúrio de aprovação soou em toda a assembléia, e no meio da confusão em que o entusiasmo deixara todos, Fernando, mais instintiva que voluntariamente, atravessou a sala e foi dar o braço a Teresa para conduzi-la à sua cadeira.

Nesse momento o anjo dos destinos escrevera no livro dos amores mais um amor, o de Teresa e Fernando.

O súbito efeito produzido no coração de Fernando pelo canto de Teresa não foi só resultado da magia e do sentimento com que esta cantara. Durante as primeiras notas, isto é, quando a alma de Teresa ainda se não tinha derramado toda na voz argentina e apaixonada, Fernando pôde conversar com alguns rapazes a respeito da cantora. Disseram-lhe que era uma donzela desprezada no amor que votara a um homem; profetizaram a paixão com que ela cantaria, e por fim indicaram-lhe, a um lado da sala, a figura indiferente ou antes zombeteira do traidor daquele coração. A identidade das situações e dos sentimentos foi o primeiro elo da simpatia de Fernando para com Teresa. O canto confirmou e desenvolveu a primeira impressão. Quando Teresa acabou, Fernando não se pôde ter e foi prestar-lhe o apoio do seu braço para voltar à cadeira que ficava junto de sua mãe.

Durante a noite Fernando sentiu-se mais e mais impressionado pela bela desdenhada. No fim do sarau estava decidido. Devia amar aquela mulher e fazer-se amar por ela.

Mas como? Ainda no coração de Teresa existia alguma coisa da flama antiga. Era aquele o estado em que o seu coração ficou logo desde que soube da perfídia de Fernanda. O moço contava com o apaziguamento da primeira paixão, de modo que um dia os dois corações desprezados se ligassem em um mesmo amor e envergonhassem por uma união sincera aqueles que os não tinham compreendido.

Esta nova mudança no espírito de Fernando escapou, a princípio, à mulher de Soares. Devo dizê-lo, se ainda algum leitor não o compreendeu, que Fernanda estava de novo apaixonada por Fernando; mas agora era um amor egoísta, calculado, talvez misturado de remorso, um amor com que ela pretendia, resgatando a culpa, quebrar de uma vez a justa indignação do seu primeiro amante.

Não reparando o moço nas reticências, nos suspiros, nos olhares, em todos esses anúncios do amor, ficando insensível às mudas revelações da esposa de Soares, resolveu esta ser mais explícita um dia em que conversava a sós com Fernando.

Era um mau passo que dava, e em sua consciência de mulher casada, Fernanda conhecia o erro e temia as conseqüências. Mas o amor próprio leva longe quando se apossa do coração humano. Fernanda, depois de hesitar um pouco, determinou-se a tentar o seu projeto. Fernando foi de bronze. Quando a conversação tomou um caminho mais positivo, Fernando fez-se sério e declarou à mulher de Soares que não podia amá-la, que o seu coração estava morto, e que, mesmo que revivesse, seria pela ação de um hálito mais puro, à luz de um olhar mais sincero.

Dito isto, retirou-se. Fernanda não desesperou. Pensou que a constância seria uma arma poderosa, e acreditou que só no romance ou na comédia podiam existir tais firmezas de caráter.

Esperou.

Esperou em vão.

O amor de Fernando por Teresa crescia mais e mais; Teresa atravessava, uma por uma, as fases por que passara o coração de Fernando. Era outra; o tempo trouxe o desprezo e o esquecimento. Uma vez esquecido o primeiro amor, que restava mais? Cicatrizar as feridas adquiridas no combate; e que melhor meio de cicatrizá-las que aceitando o concurso de uma mão amiga e simpática? Tais foram os preliminares do amor de Fernando e Teresa. O conforto comum trouxe a afeição recíproca. Um dia descobriu Teresa que amava aquele homem. Quando dois corações se querem entender, ainda que falem hebraico, descobrem-se logo um ao outro. No fim de algum tempo foi jurada entre ambos uma sincera e eterna fidelidade.

Fernanda não foi das últimas a saber da nova paixão de Fernando. Desesperou. Se o coração entrava por pouco no amor que confessara ao médico, se era mais o amor-próprio a razão de ser dessa paixão culpada, foi ainda o amor-próprio, e mais indomável, que se apoderou do espírito de Fernanda e induziu-a a queimar o último cartucho.

Desgraçadamente, nem o primeiro nem o último cartucho eram de incendiar, com um fogo criminoso, o coração de Fernando. O caráter de Fernando era mais elevado que o dos homens que rodeavam a esposa de Soares, de maneira que, supondo dominar, Fernanda achou-se dominada e humilhada.

Neste ponto devo transcrever uma carta de Fernando ao parente em cuja casa vira Teresa pela primeira vez.

Meu bom amigo, dizia ele, está na sua mão concorrer para a minha felicidade, ou antes completá-la, porque foi em sua casa que eu comecei a adquiri-la.

Sabe que amo a D. Teresa, aquela interessante moça abandonada no amor que votava ao F... Conhece ainda a história do meu primeiro amor. Somos dois corações igualados pelo infortúnio; o amor pode completar a nossa fraternidade.

E deveras nos amamos, nada se pode opor à minha felicidade; o que eu desejo é que me ajude neste negócio, assistindo o meu acanhamento com o seu conselho e a sua mediação.

Tenho ânsia de ser feliz; é a melhor ocasião; entrever, por uma porta aberta, as glórias do paraíso, sem fazer um esforço para gozar da luz eterna, fora loucura. Não quero para o futuro um remorso e uma dor.

Conto que as minhas aspirações sejam satisfeitas e que eu tenha mais um motivo de ser-lhe eternamente grato. — Fernando.

Daí a dois dias, graças à intervenção do referido parente, que aliás fora desnecessária, Teresa estava prometida a Fernando.

O último lance desta simples narrativa passou-se em casa de Soares.

Soares, mais e mais desconfiado, lutava com Fernanda para conhecer as disposições do seu coração e as determinações de sua vontade. Andava escuro o céu daquele casamento, realizado sob tão maus auspícios. Desde muito que a tranqüilidade desaparecera dali, deixando o desgosto, o tédio, a desconfiança.

— Se eu soubera, dizia Soares, que no fim de tão pouco tempo a senhora me faria beber fel e vinagre, não teria prosseguido em uma paixão que foi o meu castigo.

Fernanda, muda e distraída, mirava-se de quando em quando em um psyché, corrigindo o penteado ou simplesmente admirando a esquivança desarrazoada de Fernando.

Soares insistia no mesmo tom meio sentimental.

Afinal, Fernanda respondia desabridamente, exprobrando-lhe o insulto que fazia à sinceridade dos seus protestos.

— Mas esses protestos, disse Soares, é que eu não ouço; é exatamente o que eu peço; jure que eu estou em erro e fico contente. Há uma hora que lho digo.

— Pois sim...

— O quê?

— Está em erro.

— Fernanda, juras-me isso?

— Juro, sim...

Entrou um escravo com uma carta para Fernanda; Soares deitou um olhar para o sobrescrito e reconheceu a letra de Fernando. Contudo, depois do juramento de Fernanda não quis ser o primeiro a ler a carta, esperou que ela começasse.

Mas Fernanda, estremecendo à vista da letra e do mimo do papel, guardou a carta, mandando embora o escravo.

— De quem é essa carta?

— É de mamãe.

Soares estremeceu.

— Por que não a lês?

— Já sei o que é.

— Oh! é demais!

E levantando-se de sua cadeira dirigiu-se para Fernanda.

— Vamos ler essa carta.

— Depois...

— Não; há de ser já!

Fernanda resistiu, Soares insistiu. Depois de algum tempo viu Fernanda que lhe era impossível guardar a carta. E por que a guardaria? Fernanda cuidava ainda que, melhor avisado, Fernando voltasse a aceitar o coração ofertado e recusado. A vaidade produzia este erro.

Aberta a carta, eis o que Soares leu:

Mana. Sábado dezessete caso-me eu com D. Teresa G... É um casamento de amor. Peço-lhe que dê parte disto a meu cunhado, e que ambos venham ornar a pequena festa desta união. Seu irmão. — Fernando.

A decepção de Fernanda foi grande. Mas pôde dissimulá-la algum tempo; Soares vendo o conteúdo da carta e acreditando que sua mulher apenas quisera entretê-lo com um engano, pagou-lhe em beijos e carícias a felicidade que semelhante descoberta lhe deu.

É inútil dizer que Fernanda não foi assistir ao casamento de Fernando e Teresa. Pretextou moléstia e lá não pôs os pés. Nem por isso a festa foi menos brilhante. Madalena estava feliz e contente vendo o contentamento e a felicidade de seu filho.

Daí para cá, vai para três anos, o casamento de Fernando e Teresa é um paraíso, em que ambos, novo Adão e nova Eva, gozam da paz do espírito, sem intervenção da serpente nem conhecimento do fruto do mal.

Não menos feliz é o casal Soares, ao qual voltaram, depois de algum tempo, os dias saudosos da pieguice e da puerilidade.

Se algum leitor achar esta história muito nua de interesse, reflita nestas palavras que Fernando repete aos amigos que costumam visitá-lo:

— Consegui uma das coisas mais raras no mundo: a perfeita conformidade das intenções e dos sentimentos entre duas criaturas, tão longe educadas e tanto tempo separadas e desconhecidas uma para outra. É que aprenderam na escola do infortúnio.

Vê-se, ao menos nisto, uma máxima em ação.










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