domingo, maio 30, 2021

Aventura na História, Julie d''Aubny e suas aventuras entre os espadachins e cantores de ópera

 

A história que vou contar para você hoje é de uma mulher muito diferente. Julie d''Aubny (1670/1707), que era conhecida pela alcunha La Maupin ou ainda Mademoiselle Maupin.

O texto que trago é traduzido da Página de Curiosidades La Pedra de Sisifo, que sigo por causa de minhas aulas de Espanhol.

E a história de La Maupin mostra que mesmo quando alguém pode ser contado entre os patifes e canalhas do mundo, se for mulher, tende a ser esquecida - seja pela ideia do patriarcado, seja pelas próprias mulheres que gostam de manter sua imagem de doçura e bondade. 

La Maupin é contada entre os que tendo um dom natural, procura fazer de sua vida algo diferente do que se espera. Então, segue a narrativa como está registrada na Pedra de Sísifo, em reportagem do professor de Literatura, Alejandro Gamero


"A história de patifes e canalhas está cheia de nomes masculinos, mas esta é apenas mais uma das injustiças de uma visão desordenadamente patriarcal. A vergonha e a vileza não são domínio exclusivo dos homens. Um dos capítulos mais desonestos do livro da infâmia é o estrelado por Julie d'Aubigny, mais conhecida como La Maupin, espadachim, cantora de ópera e a celebridade bissexual mais famosa da França do século XVII Sua vida foi um turbilhão de duelos, seduções, roubos de túmulos e queima de conventos, tão intensos que ela teve que ser perdoada pelo rei da França duas vezes.

Dedicado à esgrima, seu pai se encarregou de treinar os pajens de Luís XIV, o que explica por que a pequena Julie logo aprendeu a manejar a espada. Isso, combinado com seu gosto por visitar antros de jogos, tabernas, bordéis e todos os tipos de círculos esquálidos, explica a educação duvidosa que La Maupin recebeu desde jovem. Ela logo estava deixando a casa da família, tomando um espadachim por amante e vagando sem rumo pela França.

A partir desse momento, passou a ganhar a vida cantando e fazendo demonstrações de espada, geralmente vestida de homem, estilo que manteria por toda a vida. Ela era tão habilidosa com a espada, mais do que seu amante, que o público frequentemente se convencia de que ela realmente era um homem. 

Na verdade, em uma ocasião, quando um espectador bêbado declarou que ela era na verdade um homem, ela arrancou a camisa, deixando claro que o beberrão estava errado.

Se La Maupin tinha um defeito acima dos outros, era uma alergia ao tédio. Na verdade, ela logo deixou seu amante espadachim, declarou-se cansada dos homens em geral e seduziu a filha de um comerciante local. 
O comerciante, desesperado para separar o casal, mandou sua filha para um convento, mas novamente, nossa heroína encontrou uma saída. La Maupin ingressou no convento e assim pôde continuar o relacionamento na casa de Deus. 
Tempos depois, uma freira idosa morreu e La Maupin reagiu como qualquer um teria feito: ela desenterrou o corpo da freira, colocou-o no quarto do amante e colocou fogo no convento. As duas fugiram aproveitando a confusão, embora depois de três meses, La Maupin tenha se entediado e deixado sua namorada na casa de seus pais. Esse crime rendeu-lhe sua primeira sentença de morte, embora La Maupin tenha feito uso de sua influência e conseguido que Luís XIV revogasse a sentença. Nessa época ela ainda não tinha vinte anos.

La Maupin mudou-se para Paris e tentou começar uma nova vida, tornando-se cantora de ópera  - que era a versão do século XVII de uma estrela do rock. 

Praticando sexo ou lutando corpo a corpo de forma alternativa, La Maupin conseguiu se firmar no palco do momento. Houve muitas anedotas sobre  ela  naquela época de sua vida. Em uma ocasião, ela descobriu que outro cantor de ópera, Dumenil, a estava criticando e ela o desafiou para um duelo. Como ele se recusou, ela o atingiu com uma bengala e roubou sua caixa de rapé e relógio. No dia seguinte, ela encontrou Dumenil reclamando que havia sido atacado por uma gangue de ladrões e ela, depois de chamá-lo de mentiroso, jogou a caixa de rapé e o relógio nele. 
Outra noite, enquanto ela estava em uma festa, um homem chamado d'Albert começou a flertar com ela e tudo terminou em um duelo no qual La Maupin enfrentou ele e dois de seus amigos. No final, o homem acabou no hospital, mesmo assim, o episódio acabou por dar  início de uma amizade duradoura entre ambos. D'alberte era nada menos que Louis-Joseph d'Albert Luynes, filho do duque de Luynes. 

Em outro momento, ela compareceu a um baile real vestida de homem e passou a maior parte da noite cortejando uma jovem, provocando a ira de três de seus pretendentes. Quando La Maupin beijou a jovem bem à vista, os três a desafiaram para um duelo. Ela lutou com todos ao mesmo tempo e venceu. 
Segundo alguns relatos, no final ela os matou, embora esse confronto tenha entretido Luís XIV, tanto que ele decidiu perdoá-la por qualquer punição. Apesar disso, as leis contra o duelo eram cada vez mais severas e, embora o rei a tivesse perdoado, Maupin pensou que era o caso de se refugiar em Bruxelas até que as águas se acalmassem, onde, claro, ela continuou sua vida de infâmia.

Cinco ou seis anos depois de seu exílio, tendo há muito já retornado à Paris, ela morreu de causas desconhecidas. Ela tinha 37 anos. Como costuma acontecer nesses casos, sua morte deu lugar a todo tipo de conjecturas e La Maupin se tornou uma espécie de lenda. Foi dito, embora não se saiba ao certo, que nos últimos anos de vida ela viveu em paz, que os passou casada e que até deu uma guinada religiosa na vida e voltou a um convento. Em todo caso, ela é uma figura não suficientemente conhecida ou lembrada, provavelmente por ser mulher e, portanto, vale a pena reivindicá-la."

E por hoje é só
Boa semana.

sexta-feira, maio 28, 2021

Mais sobre Mim, dona Eulina e as fofocas.

 Mais de #DonaEulina e #SobreMim

Tem uma pergunta rondando por aí sobre "qual seria seu nome se fosse o mesmo de sua vó preferida".
Pois bem.
Eu me chamaria #Eulina. E gostaria muito.
A minha avó Eulina era uma mulher maravilhosa e livre, nunca deixava ninguém atrapalhar seus passos. E ainda assim manteve um casamento de 50 anos.
Sua força nunca a impediu de ter fé. E sua fé nunca a impediu de fazer o que achava certo, mesmo que esse certo fosse totalmente contra a ideia geral.
Ajudava o próximo, fosse ele um crente ou um ateu, uma mulher casada ou largada, uma jovem solitária ou uma prostituta.
Passávamos pela rua das "primas" e elas a saudavam sorridentes e com respeito.
Vi muita gente virar o rosto para elas, minha avó, não. E vi minha vó oferecer comidas e chás para as doentes. Nunca as tratou com desdém e, embora falasse de Jesus, nunca deixou de falar com elas ou com qualquer um por não aderia à nossa religião.
Foram esses exemplos que me fizeram ir para o trabalho social anos depois. Nunca perguntei qual o papel social de nenhuma das pessoas que atendi nas igrejas, associações e prefeituras que trabalhei. E isso devo à minha avó-mãe Eulina.
Lembro que para desespero geral, o melhor amigo da minha avó era o jovem Bil. Ele devia ter uns 40 anos, tendo portanto metade da idade de meus avós.
E ele era Se-pa-ra-do. pior! Desquitou-se sendo amigos de nossa família. gente muito mais nova deixou de falar com ele e até trocava de calçada quando o via vindo. O pobre ainda ficou desempregado!
Alguém foi lá contar para vovó e ela: "Que? Pensei que você ia ajudar! Veio aqui fazer o quê?
A pessoa perdeu o rumo e foi sem dar o recado do Cão.
O rapaz estava no quintal com o meu vô e viu quem tinha saído, subiu triste e minha avó, que era sapeca na sabedoria, saiu com essa:
"Essa diaba veio aqui fazer troça. Sei nem que queria, mas despachei logo, para não contaminar minha casa."
Eu era nova, não entendi nem a visita e nem a fala na hora.
Só dias depois alguém da família que achava a vó muito "crente moderna" abriu a boca e fez a crítica completa, obviamente pelas costas dela. E quando eu repeti a frase, a pessoa disse que a "mensageira" tinha boa intenção e que gente como Bill não era de confiança.
Eu nem liguei porque já sabia que o lugar das pessoas "de boa intenção" era o inferno - afinal, minha avó falava isso e o que ela falava para mim, era lei.

sábado, maio 22, 2021

Intelectualidade Negra - Simbolista Pedro Kilkerry

 Simbolismo e o Negro

Foto de sua formatura



Contribuição dos #Negros e seus descendentes na Poesia #Simbolista e prefiguração do Modernismo.

Vamos falar um pouco de Pedro Kilkerry.

O poeta teve uma breve vida, afinal Pedro Kilkerry viveu  exatos  32 anos (25 de março de 1885 25 de março de 1917),  morrendo de uma traqueostomia de emergência, depois de uma vida de pobre, boêmio, tuberculoso. Mas suas dores e não apagam sua escrita e postura de magnífico poeta. 



Para quem curte falar sobre Literatura Marginal, ele foi um de seus maiores vultos já que sua obra considerada como uma representante radical e moderna da Poesia Simbolista brasileira tinha na época a vantagem da marginalidade  frente à elite baiana de fins do século XIX, isso, obviamente por sua condição de mestiço. Ele estudou Direito na Bahia e apesar de exercer o jornalismo e ter uma vida intelectual agitada, nunca editou um livro.


O pouco que chegava a público era em revistas da época e, anos depois, seus poemas e manuscritos  foram reunidos por Augusto de Campos, que em 1970 lançou o livro Revisão de Kilkerry e o resgatou para a crítica, atrasada em 50 anos. Pois até mesmo quando Pedro Kilkerry usa formas mais convencionais, sua articulação e sua palavra fogem do estipulado. Sua escrita prefigura o Modernismo e, nas quadras intituladas Evoé, 1910 florescem a coloquialidade de forma brilhante.

Outro Poema seu "O verme e a estrela", virou música na voz de Adriana Calcanhotto. Pedro Kilkerry, nasceu em Santo Antônio de Jesus, Bahia, em 1885 como Pedro Militão dos Santos Kuilkuery .

Ascendência direta e seu reflexo em sua escrita:

Filho de pai irlandês, o engenheiro John Kilkerry e da mestiça alforriada baiana Salustiana do Sacramento Lima, Pedro cresceu perto dos dois mundos e teve acesso às duas realidades, formando-se advogado, exerceu o jornalismo e tornou-se poeta e compositor. Colaborou com diversos jornais e revistas e sua escrita .

Como alguns jovens de sua época, Pedro Kilkerry tinha proficiência em francês, inglês, italiano, espanhol, alemão, latim, grego e mesmo já adoentado,  aprendia árabe nos seus últimos dias. Seu amigo e também escritor Jackson de Figueiredo, declara que ele era um leitor apaixonado. Entre suas leituras estava Homero, Dante, Shakespeare, Milton, Wordsworth, Sterne, Nietzsche, Emerson, Poe, Baudelaire, Verlaine, Mallarmé, Rimbaud, Laforgue, Corbière, Villiers de L’Isle Adam, Maupassant, Flaubert. E essas leituras fazia com que ele fosse um intelectual  bem informado no que tange às novidades literárias europeias. Mesmo que tenha se tornado um poeta brasileiro anônimo, sua importância como estudioso e homem  muito interessado nas formas da poética canônica europeia o coloca em vantagem em relação aos outros poetas de seu tempo. É justamente seu estudo constante que o coloca como um vanguardista do Modernismo que só se efetivou no Brasil na Semana de 22, portanto, 5 anos de sua partida precoce. 

Deixo-vos 2 poemas para que o conheça.

Abraços e fui



Pedro Kilkerry: O Verme e a Estrela

Agora sabes que sou verme.
Agora, sei da tua luz.
Se não notei minha epiderme...
É, nunca estrela eu te supus.
Mas, se cantar pudesse um verme,
eu cantaria a tua luz!

E eras assim... Por que não deste
um raio, brando, ao teu viver?
Não te lembrava. Azul-celeste
o céu, talvez, não pôde ser...
Mas, ora! Enfim, por que não deste
somente um raio ao teu viver?

Olho, examino-me a epiderme,
olho e não vejo a tua luz!
Vamos que sou, talvez, um verme...
Estrela nunca eu te supus!
Olho, examino-me a epiderme...
Ceguei! Ceguei da tua luz?



Fontes: 
Cultura FM, programa "Pedro Kilkerry: O Verme e a Estrela"


sexta-feira, maio 14, 2021

Dona Margarida, descanse em paz.


 

No dia primeiro de Abril pp. Dona Margarida se foi. E não foi uma viagem até ali ao Japão, Terra de seus ancestrais, foi mais além e com bilhete só de ida.

Para você Dona Margarida é só essa senhorinha japonesa da foto, mas para meu Bairro, em São Paulo, ela faz parte de muitas histórias. No dia que soube de sua passagem, escrevi no Facebook, hoje transcrevo aqui o que lá deixo registrado:

Dona Margarida tinha uma lojinha minúscula ali em frente ao Colégio Estadual Professor Luiz Rosanova. Nós íamos ali comprar desde lápis até letras vasadas da #Compactor para preparar capa de trabalhos.
Eu fazia capas para ganhar uns trocadinhos e ia lá comprar sulfite. Era lá também que íamos comprar cadernos de brochura pra as canções do #JóiasDeCristo, lá da #AdBrás do 180 A, no Jardim São Paulo. Era lá na Dona Margarida que eu comprava material para as aulas das meninas da Ad Belém Setor 7 (Paulo Ramos), para as Escolas de Férias com a Turminha da Tia Dilene (Adilene Maria da Silva), para as sextas-feiras infantis da ICO-Guaianases. evoluímos com ela nos oferecendo seu trabalho e seu sorriso. Nosso Bairro progrediu, a lojinha dela também. 
Dona Margarida atrás de seu balcão evoluiu a loja, colaborou com o crescimento do Bairro, ensinou a gente optar por pen drives e protegeu muitos de nós da chuva em sua loja que crescia igual seu coração.
Era fechada, no primeiro contato, mas guardava linhas e fitas que sabia que algum cliente estava usando em algum projeto artesanal. Nunca empurrou uma agulha em cliente, mas sabia mostrar as vantagens de uma compra, muitas vezes oferecendo um produto pouco conhecido mas de maior qualidade.
Se desconfiasse de algum adulto estranho rondando alunos, ela disfarçava e não permitia que a criança saísse da loja.
Lembrarei com carinho dela.
Depois do acidente, meu rosto ainda machucado, ela demorou horas para conseguir uma foto em que eu ficasse menos inchada - era uma foto 3/4 para meu RG e ele sabia que depois eu ficaria triste de mostrar aquele rosto...
Dona Margarida era mulher de detalhes. Atitudes sutis, mas que melhorava nosso dia. E de algumas broncas quando ajuntávamos todos a tagarelar nos corredores.
É triste saber que partiu.
Aos familiares, amigos e clientes desejo que seus corações se aqueçam com boas lembranças, que nada ofusque o brilho dessa batalhadora que nos deixa.
Descanse em Paz, Dona Margarida. 
Por Elisabeth Lorena Alves


terça-feira, maio 11, 2021

Sobre Iraci Ciritelle, Palhaços da Alegria, Capelães hospitalares e meu acidente de 2007


 

Quem me conhece sabe que em 2007, logo depois do acidente passei 1 (Hum) mês inteiro dentro do Hospital.

Foram dias sombrios à espera da Cirurgia, esperando que meu organismo se acostumasse com os remédios e a alergia cedesse.
Como estava longe de meu bairro no dia do acidente fui socorrida à um Hospital distante dos amigos e assim tive poucas visitas.
Os doutores da Alegria, os capelães e um serviço lindo de acompanhantes foram visitas frequentes.
Se a mim , que sou adulta - e pouco dadas a sorrisos frouxos - estas pessoas trouxeram alegria e jamais serão esquecidas, que dizer a importância deste trabalho junto às crianças queridas, que isoladas de seu convívio familiar, passam anos de suas vidas dentro do Hospital.
Iraci Ciritelle é uma estrela divina, que faz o que faz por amor e se capacita cada dia mais para fazer o bem de forma extraordinária.
Nós, enquanto Sociedade, temos uma dívida eterna à estes heróis anônimos que levam alegrias aos hospitais e às vidas de pessoas - crianças ou não - que em um momento de dor precisam tanto de afeto.
Este carinho faz bem aos pacientes e aos seus familiares.
Obrigada, querida, estenda aos seus companheiros de trabalho o meu carinho e agradecimento.

quinta-feira, maio 06, 2021

Velas, por quem? - Maria Lúcia Medeiros

 Olá! 



Faz tempo que não posto na Tag Vozes Femininas aqui no blog, mas não tinha tido tempo de pensar em uma autora que mexesse comigo de verdade. Agora vou me obrigar a esse tempo. Vou publicar ao menos um conto de MLM - Maria Lúcia Medeiros, escritora paraense que é um primor de autora e de mulher, suas marcas, deixadas na Literatura e na história das mulheres são importantes e devem ser lançadas ao mundo. 

Vou começar com "Velas, por quem?, de seu livro "Antologia de Contos", de 2011, portanto póstumo, já que ela que nasceu em 1942, nos deixou em 2005.  

O texto que lhes comparto hoje é muito significativo. Espero que gostem dele e o sintam como eu senti. 
E se quiser falar sobre ele sabem que podem me procurar em todas as minhas redes sociais. 

Agora vamos vê-lo:



VELAS. POR QUEM?¹


     Fatal foi teres chegado de manhãzinha, teus olhos de sono, quando ainda a cidade se espreguiçava e teres visto o casario, as ruelas tortuosas, os homens a gritar nomes e coisas. O cheiro do café e o cheiro das frutas, o abafado cheiro das roupas a entranhar na tua descrença a resina, o último cheiro do abraço que deixaras dias atrás entre o espanto e a euforia. Fatal foi a má comparação que fizeste das velas de encardido colorido com o tecido que mal escondia teus pudores. Tuas unhas entre o roxo e o vermelho copiaste de onde? Ao saltares dessas águas barrentas, ao abandonares sem saudade, rápido se perdeu o teu barco entre os tantos aportados naquele cais. Fatal foi tropeçares e seguires aos solavancos pelas ruas achando que eram de boas‐vindas os olhares. Ao pé do casarão mal iluminado fatal foi pensares que ofereciam vida nova, pois ouviste os sinos.

      A família dormia ainda. Soubeste logo que havia menino, que havia menina, um doutor e sua mulher a quem devias servir, branca e alta mulher.

     Mas te alimentaram antes, botaram à tua frente o pão que molhaste cuidadosamente no café preto para não acordar a tua eterna dor de dentes. Fatal foi ignorares os deveres tantos que ressoavam nas campainhas pelo casarão inteiro e pudeste rir, sorrir e te alegrar tantas eram as correrias, o leiteiro, o padeiro, o telefone... Pela janelinha lá do sótão era possível ver o rio, os pombos em revoada pelos telhados e até dizias “chô bacurau, chô bicho” e rias do teu próprio riso doido doido, e te apoiavas ora num pé ora no outro.

     Mas ao ouvir a voz “Ó pequena”, desabalada era tua carreira pelas escadas, era a hora de retirar o urinol de porcelana com a urina da branca senhora que um dia ficou roxa porque te pegou dizendo “péra lá que eu vou tirá o mijo da mulhé” e te trancou e quase te esmagou na porta para que consertasses a língua, Ó pequena! Terias que dizer “fazer o meu serviço, cumprir minha obrigação” aprendeste logo sem compreender.

     Fatal foi também isso, aprenderes rápido feito cachorro do sítio, e sair com o rabo entre as pernas repetindo “sim, senhora”.

     Mas havia o sótão e a janelinha e o pedaço de rio, as velas encardidas, o sino das igrejas e as mil e uma vezes que te benzias, mão direita mão esquerda?

   Da janelinha era possível ver se a chuva ia cair já, se não ia, se dava pra menina sair, pro menino brincar, fazias até a tua mágica de dar um nó na barra de tua saia e paravas a chuva, ora se paravas, Ó pequena!

    Nem cor definida nem peitos tinhas, só os carocinhos que doíam e que a cozinheira te ensinou a apertar dois caroços de milho e dar pro galo para que não crescessem tanto. Mas cresceram e logo o doutor e logo o menino, horário estranho, pesada hora, apertavam também, bolinavam, teu corpo ereto, tua cabeça baixa, coração aos pulos. Virou hábito deles, ficou pra costume, nem ousaste compreender, só aprender, Ó pequena!

    Fatal foi tua ligeireza, o trabalho na roça, o leite de cabra que bebeste em tenra idade lá de onde aportaste um dia numa sonolenta manhã.

    Com pouco já ninguém podia passar sem ti sendo pedaço deles, cria, cachorro fiel, Ó boa pequena! Nem cresceste tanto, alargaste sim, pernas rijas, braços fortes e com pouco já morria o doutor, já envelhecia a senhora, já casava a menina e já trocavas de mão e de patrão, pois a menina agora já era a mulher branca e perfumada que também enchia de urina o urinol de porcelana.

    Pras histórias que me contas desses mil novecentos e poucos, fatal foi tua mansidão de bicho: o búfalo, a corsa e o cão. Diante da mão espalmada, retorno ao meu ofício e aceito ler teu destino mas, te adianto, não vejo mais ‐ pesada hora ‐ rastro sequer de fortuna, perdeu‐se a do coração.



    Cheia de pejo e de dó vou te esconder, Ó senhora, que fatal foi te roubarem a linha da vida. 

¹ MEDEIROS, Maria Lúcia. Velas. Por quem?. Belém: CEJUP, 1990, p. 11 ‐ 13.

Serviços
Vou ficar devendo, por enquanto, porque não achei o livro completo nem para comprar físico, nem digital.
Abraços e vou-me embora para Pasárgada, ops, para a cozinha. 

terça-feira, maio 04, 2021

𝙿𝚘𝚎𝚖𝚊 𝙼𝚊𝚝𝚎𝚖á𝚝𝚒𝚌𝚘 - 𝙼𝚒𝚕𝚕ô𝚛 𝙵𝚎𝚛𝚗𝚊𝚗𝚍𝚎𝚜 e um dedinho de prosa

 


Um dedo mindinho de prosa antes: Eu gosto tanto de Millôr Fernandes que uso ele até como Teoria.

Olha se não estou certa? Como seu campo semântico segue a ideia do texto sem escorregar, sem perder a criatividade e o conteúdo, Não há como viver no Brasil sem conhecer nossos escritores. E se alguém que saiba ler não conhece nossos autores, ainda não vive! Meus avós tinham pouca leitura, já que eram de outra época, mas amavam Machado de Assis, Lima Barreto, declamavam Olavo Bilac e Castro Alves para nós, enquanto brincávamos pela sala...

Amo ter tido contato com a Boa Literatura mesmo nascendo em um ambiente tão comum e tão próximo da pobreza total. Meus avós iam à Feira do Jabaquara buscar Cordel e Literatura dos meninos - Literatura Marginal. Eles compravam para ajudar os pobres meninos... pobres meninos que nem pobres eram e hoje são partes do Cânone Brasileiro.

A primeira vez que li "Não há vagas", do Ferreira Goulart, foi no pé de goiaba em um livrinho de folhas mimeografadas.

Agora vou para aula. Beijos




𝙿𝚘𝚎𝚖𝚊 𝙼𝚊𝚝𝚎𝚖á𝚝𝚒𝚌𝚘 - 𝙼𝚒𝚕𝚕ô𝚛 𝙵𝚎𝚛𝚗𝚊𝚗𝚍𝚎𝚜.



......
À𝚜 𝚏𝚘𝚕𝚑𝚊𝚜 𝚝𝚊𝚗𝚝𝚊𝚜 𝚍𝚘 𝚕𝚒𝚟𝚛𝚘 𝚍𝚎 𝚖𝚊𝚝𝚎𝚖á𝚝𝚒𝚌𝚊, 𝚞𝚖 𝚚𝚞𝚘𝚌𝚒𝚎𝚗𝚝𝚎 𝚊𝚙𝚊𝚒𝚡𝚘𝚗𝚘𝚞-𝚜𝚎 𝚞𝚖 𝚍𝚒𝚊
𝚍𝚘𝚒𝚍𝚊𝚖𝚎𝚗𝚝𝚎 𝚙𝚘𝚛 𝚞𝚖𝚊 𝚒𝚗𝚌ó𝚐𝚗𝚒𝚝𝚊.
𝙾𝚕𝚑𝚘𝚞-𝚊 𝚌𝚘𝚖 𝚜𝚎𝚞 𝚘𝚕𝚑𝚊𝚛 𝚒𝚗𝚞𝚖𝚎𝚛á𝚟𝚎𝚕 𝚎 𝚟𝚒𝚞-𝚊, 𝚍𝚘 á𝚙𝚒𝚌𝚎 à 𝚋𝚊𝚜𝚎.
𝚄𝚖𝚊 𝚏𝚒𝚐𝚞𝚛𝚊 í𝚖𝚙𝚊𝚛 𝚘𝚕𝚑𝚘𝚜 𝚛𝚘𝚖𝚋ó𝚒𝚍𝚎𝚜, 𝚋𝚘𝚌𝚊 𝚝𝚛𝚊𝚙𝚎𝚣ó𝚒𝚍𝚎, 𝚌𝚘𝚛𝚙𝚘 𝚘𝚛𝚝𝚘𝚐𝚘𝚗𝚊𝚕, 𝚜𝚎𝚒𝚘𝚜
𝚎𝚜𝚏𝚎𝚛ó𝚒𝚍𝚎𝚜.
𝙵𝚎𝚣 𝚍𝚊 𝚜𝚞𝚊 𝚞𝚖𝚊 𝚟𝚒𝚍𝚊 𝚙𝚊𝚛𝚊𝚕𝚎𝚕𝚊 𝚊 𝚍𝚎𝚕𝚊 𝚊𝚝é 𝚚𝚞𝚎 𝚜𝚎 𝚎𝚗𝚌𝚘𝚗𝚝𝚛𝚊𝚛𝚊𝚖 𝚗𝚘 𝚒𝚗𝚏𝚒𝚗𝚒𝚝𝚘.
"𝚀𝚞𝚎𝚖 é𝚜 𝚝𝚞?" - 𝚒𝚗𝚍𝚊𝚐𝚘𝚞 𝚎𝚕𝚎 𝚌𝚘𝚖 â𝚗𝚜𝚒𝚊 𝚛𝚊𝚍𝚒𝚌𝚊𝚕.
"𝙴𝚞 𝚜𝚘𝚞 𝚊 (𝚛𝚊𝚒𝚣 𝚚𝚞𝚊𝚍𝚛𝚊𝚍𝚊 𝚍𝚊) 𝚜𝚘𝚖𝚊 𝚍𝚘𝚜 𝚚𝚞𝚊𝚍𝚛𝚊𝚍𝚘𝚜 𝚍𝚘𝚜 𝚌𝚊𝚝𝚎𝚝𝚘𝚜, 𝚖𝚊𝚜 𝚙𝚘𝚍𝚎 𝚖𝚎
𝚌𝚑𝚊𝚖𝚊𝚛 𝚍𝚎 𝚑𝚒𝚙𝚘𝚝𝚎𝚗𝚞𝚜𝚊".
𝙴 𝚍𝚎 𝚏𝚊𝚕𝚊𝚛𝚎𝚖 𝚍𝚎𝚜𝚌𝚘𝚋𝚛𝚒𝚛𝚊𝚖 𝚚𝚞𝚎 𝚎𝚛𝚊𝚖 𝚘 𝚚𝚞𝚎, 𝚎𝚖 𝚊𝚛𝚒𝚝𝚖é𝚝𝚒𝚌𝚊, 𝚌𝚘𝚛𝚛𝚎𝚜𝚙𝚘𝚗𝚍𝚎 𝚊
𝚊𝚕𝚖𝚊𝚜 𝚒𝚛𝚖ã𝚜, 𝚙𝚛𝚒𝚖𝚘𝚜 𝚎𝚗𝚝𝚛𝚎 𝚜𝚒.
𝙴 𝚊𝚜𝚜𝚒𝚖 𝚜𝚎 𝚊𝚖𝚊𝚛𝚊𝚖 𝚊𝚘 𝚚𝚞𝚊𝚍𝚛𝚊𝚍𝚘 𝚍𝚊 𝚟𝚎𝚕𝚘𝚌𝚒𝚍𝚊𝚍𝚎 𝚍𝚊 𝚕𝚞𝚣 𝚜𝚎𝚡𝚝𝚊 𝚙𝚘𝚝𝚎𝚗𝚌𝚒𝚊çã𝚘
𝚝𝚛𝚊ç𝚊𝚗𝚍𝚘 𝚊𝚘 𝚜𝚊𝚋𝚘𝚛 𝚍𝚘 𝚖𝚘𝚖𝚎𝚗𝚝𝚘 𝚎 𝚍𝚊 𝚙𝚊𝚒𝚡ã𝚘 𝚛𝚎𝚝𝚊𝚜, 𝚌𝚞𝚛𝚟𝚊𝚜, 𝚌í𝚛𝚌𝚞𝚕𝚘𝚜 𝚎 𝚕𝚒𝚗𝚑𝚊𝚜
𝚜𝚎𝚗𝚘𝚒𝚍𝚊𝚒𝚜.
𝙽𝚘𝚜 𝚓𝚊𝚛𝚍𝚒𝚗𝚜 𝚍𝚊 𝚚𝚞𝚊𝚛𝚝𝚊 𝚍𝚒𝚖𝚎𝚗𝚜ã𝚘, 𝚎𝚜𝚌𝚊𝚗𝚍𝚊𝚕𝚒𝚣𝚊𝚛𝚊𝚖 𝚘𝚜 𝚘𝚛𝚝𝚘𝚍𝚘𝚡𝚘𝚜 𝚍𝚊𝚜 𝚏ó𝚛𝚖𝚞𝚕𝚊𝚜
𝚎𝚞𝚌𝚕𝚒𝚍𝚒𝚊𝚗𝚊𝚜 𝚎 𝚘𝚜 𝚎𝚡𝚎𝚐𝚎𝚝𝚊𝚜 𝚍𝚘 𝚞𝚗𝚒𝚟𝚎𝚛𝚜𝚘 𝚏𝚒𝚗𝚒𝚝𝚘.
𝚁𝚘𝚖𝚙𝚎𝚛𝚊𝚖 𝚌𝚘𝚗𝚟𝚎𝚗çõ𝚎𝚜 𝙽𝚎𝚠𝚝𝚘𝚗𝚒𝚊𝚗𝚊𝚜 𝚎 𝙿𝚒𝚝𝚊𝚐ó𝚛𝚒𝚌𝚊𝚜 𝚎, 𝚎𝚗𝚏𝚒𝚖, 𝚛𝚎𝚜𝚘𝚕𝚟𝚎𝚛𝚊𝚖 𝚜𝚎
𝚌𝚊𝚜𝚊𝚛, 𝚌𝚘𝚗𝚜𝚝𝚒𝚝𝚞𝚒𝚛 𝚞𝚖 𝚕𝚊𝚛 𝚖𝚊𝚒𝚜 𝚚𝚞𝚎 𝚞𝚖 𝚕𝚊𝚛, 𝚞𝚖𝚊 𝚙𝚎𝚛𝚙𝚎𝚗𝚍𝚒𝚌𝚞𝚕𝚊𝚛.
𝙲𝚘𝚗𝚟𝚒𝚍𝚊𝚛𝚊𝚖 𝚘𝚜 𝚙𝚊𝚍𝚛𝚒𝚗𝚑𝚘𝚜: 𝚘 𝚙𝚘𝚕𝚒𝚎𝚍𝚛𝚘 𝚎 𝚊 𝚋𝚒𝚜𝚜𝚎𝚝𝚛𝚒𝚣, 𝚎 𝚏𝚒𝚣𝚎𝚛𝚊𝚖 𝚘𝚜 𝚙𝚕𝚊𝚗𝚘𝚜,
𝚎𝚚𝚞𝚊çõ𝚎𝚜 𝚎 𝚍𝚒𝚊𝚐𝚛𝚊𝚖𝚊𝚜 𝚙𝚊𝚛𝚊 𝚘 𝚏𝚞𝚝𝚞𝚛𝚘, 𝚜𝚘𝚗𝚑𝚊𝚗𝚍𝚘 𝚌𝚘𝚖 𝚞𝚖𝚊 𝚏𝚎𝚕𝚒𝚌𝚒𝚍𝚊𝚍𝚎 𝚒𝚗𝚝𝚎𝚐𝚛𝚊𝚕
𝚎 𝚍𝚒𝚏𝚎𝚛𝚎𝚗𝚌𝚒𝚊𝚕.
𝙴 𝚜𝚎 𝚌𝚊𝚜𝚊𝚛𝚊𝚖 𝚎 𝚝𝚒𝚟𝚎𝚛𝚊𝚖 𝚞𝚖𝚊 𝚜𝚎𝚌𝚊𝚗𝚝𝚎 𝚎 𝚝𝚛ê𝚜 𝚌𝚘𝚗𝚎𝚜 𝚖𝚞𝚒𝚝𝚘 𝚎𝚗𝚐𝚛𝚊ç𝚊𝚍𝚒𝚗𝚑𝚘𝚜 𝚎
𝚏𝚘𝚛𝚊𝚖 𝚏𝚎𝚕𝚒𝚣𝚎𝚜 𝚊𝚝é 𝚊𝚚𝚞𝚎𝚕𝚎 𝚍𝚒𝚊 𝚎𝚖 𝚚𝚞𝚎 𝚝𝚞𝚍𝚘, 𝚊𝚏𝚒𝚗𝚊𝚕, 𝚟𝚒𝚛𝚊 𝚖𝚘𝚗𝚘𝚝𝚘𝚗𝚒𝚊.
𝙵𝚘𝚒 𝚎𝚗𝚝ã𝚘 𝚚𝚞𝚎 𝚜𝚞𝚛𝚐𝚒𝚞 𝚘 𝚖á𝚡𝚒𝚖𝚘 𝚍𝚒𝚟𝚒𝚜𝚘𝚛 𝚌𝚘𝚖𝚞𝚖, 𝚏𝚛𝚎𝚚𝚞𝚎𝚗𝚝𝚊𝚍𝚘𝚛 𝚍𝚎 𝚌í𝚛𝚌𝚞𝚕𝚘𝚜
𝚌𝚘𝚗𝚌ê𝚗𝚝𝚛𝚒𝚌𝚘𝚜 𝚟𝚒𝚌𝚒𝚘𝚜𝚘𝚜, 𝚘𝚏𝚎𝚛𝚎𝚌𝚎𝚞-𝚕𝚑𝚎, 𝚊 𝚎𝚕𝚊, 𝚞𝚖𝚊 𝚐𝚛𝚊𝚗𝚍𝚎𝚣𝚊 𝚊𝚋𝚜𝚘𝚕𝚞𝚝𝚊 𝚎
𝚛𝚎𝚍𝚞𝚣𝚒𝚞-𝚊 𝚊 𝚞𝚖 𝚍𝚎𝚗𝚘𝚖𝚒𝚗𝚊𝚍𝚘𝚛 𝚌𝚘𝚖𝚞𝚖.
𝙴𝚕𝚎, 𝚚𝚞𝚘𝚌𝚒𝚎𝚗𝚝𝚎 𝚙𝚎𝚛𝚌𝚎𝚋𝚎𝚞 𝚚𝚞𝚎 𝚌𝚘𝚖 𝚎𝚕𝚊 𝚗ã𝚘 𝚏𝚘𝚛𝚖𝚊𝚟𝚊 𝚖𝚊𝚒𝚜 𝚞𝚖 𝚝𝚘𝚍𝚘, 𝚞𝚖𝚊
𝚞𝚗𝚒𝚍𝚊𝚍𝚎.
𝙴𝚛𝚊 𝚘 𝚝𝚛𝚒â𝚗𝚐𝚞𝚕𝚘 𝚝𝚊𝚗𝚝𝚘 𝚌𝚑𝚊𝚖𝚊𝚍𝚘 𝚊𝚖𝚘𝚛𝚘𝚜𝚘 𝚍𝚎𝚜𝚜𝚎 𝚙𝚛𝚘𝚋𝚕𝚎𝚖𝚊, 𝚎𝚕𝚎 𝚎𝚛𝚊 𝚊 𝚏𝚛𝚊çã𝚘 𝚖𝚊𝚒𝚜 𝚘𝚛𝚍𝚒𝚗á𝚛𝚒𝚊.
𝙼𝚊𝚜 𝚏𝚘𝚒 𝚎𝚗𝚝ã𝚘 𝚚𝚞𝚎 𝙴𝚒𝚗𝚜𝚝𝚎𝚒𝚗 𝚍𝚎𝚜𝚌𝚘𝚋𝚛𝚒𝚞 𝚊 𝚛𝚎𝚕𝚊𝚝𝚒𝚟𝚒𝚍𝚊𝚍𝚎 𝚎 𝚝𝚞𝚍𝚘 𝚚𝚞𝚎 𝚎𝚛𝚊 𝚎𝚜𝚙ú𝚛𝚒𝚘 𝚙𝚊𝚜𝚜𝚘𝚞 𝚊 𝚜𝚎𝚛 𝚖𝚘𝚛𝚊𝚕𝚒𝚍𝚊𝚍𝚎, 𝚌𝚘𝚖𝚘, 𝚊𝚕𝚒á𝚜, 𝚎𝚖 𝚚𝚞𝚊𝚕𝚚𝚞𝚎𝚛 𝚂𝚘𝚌𝚒𝚎𝚍𝚊𝚍𝚎
......
𝙼𝚒𝚕𝚕ô𝚛 𝙵𝚎𝚛𝚗𝚊𝚗𝚍𝚎𝚜 (🇧🇷𝙱𝚛𝚊𝚜𝚒𝚕, 𝟷𝟿𝟸𝟹.𝟸𝟶𝟷𝟸), 𝚟𝚒𝚊: '𝚋𝚛𝚊𝚒𝚗𝚕𝚢𝚌𝚘𝚖𝚋𝚛' 🎨𝙰𝚛𝚝𝙵𝚑𝚘𝚝𝚘 📸 𝚈𝚞𝚢𝚊 𝙼𝚊𝚝𝚜𝚞𝚘 (🇯🇵𝙹𝚊𝚙𝚊𝚗).
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