domingo, abril 21, 2019

Mário Hashimoto

Não acredito que ele está morto.
E hoje, se aqui estivesse, estaria fazendo 72 anos. Também não dá para acreditar que ele envelheceu...
Quem é ele?
Mário Hashimoto. Levei anos para entendê-lo. A água fazia o curso normal ou subia o barranco, ele continuava na dele, bonachão, complacente.
Duas vezes por semana aparecia no consultório. Tinha uma única exigência: Não marcar nenhum cliente para depois das 19:00.
Era seu horário sagrado: Atender pessoas que não podiam pagar pelo tratamento dentário. Pegava cada caso perdido e transformava em sorriso perfeito.
E não ligava muito para agradecimentos não. Preferia a amizade.
Encontrou algumas verdadeiras e, como todo benfeitor, encontrou muita ingratidão e esquecimento. Aceitava os amigos, era indiferente com os ingratos, tratava a ambos com educação e simplicidade.
Homem culto, jamais desprezou os incultos, pelo contrário, admirava a sabedoria dos que não tinham estudado.
Fiquei muitas vezes até meia-noite no consultório com ele. Só ele, eu e o paciente da vez, a pessoa que ele escolhera para ajudar.
Sabia que o sorriso era uma das formas de refazer as raízes do amor próprio. E como falava sobre isso, como insistia para que as pessoas se amassem mais.
Nunca o vi nervoso. Nem quando o documento de seu carro se extraviou e ele não pode vender.
Não se irritava com as cobranças de horários dos outros sócios, apenas vivia sua missão.
Convivemos alguns anos juntos, fora do ambiente de trabalho. Tinha seu próprio jeito de ajudar o próximo, de entender os aflitos e de respeitar quem sofria.
Um grande homem. Daqueles heróis que existem e mesmo de uniforme, passam despercebidos. Seu heroísmo estava em atender com amor aqueles que por qualquer motivo acabaram perdendo o sorriso, já que era desnecessário, pois perderam antes o motivo de sorrir.
Muitos idosos esquecidos em asilos, menores rejeitados em internatos e angustiados que viviam perdidos, ele socorreu com sua caneta de alta rotação,  Seu boticão e seu olhar meigo.
Era cristão. Daqueles que seguem a Cristo e não homens. Foi o primeiro japonês que vi se confessar cristão.

O conheci quando eu tinha 18 anos e convivi com ele com idas e vindas até os meus 32 anos.
Não o revi mais, depois que voltei do Rio. Nos tornamos amigos de Orkut. Depois veio meu acidente e como nunca partilhei sobre isso na Internet, não nos revimos mais.
Em 2017  ele partiu. Deixou-nos. Mas, sua história, seu testemunho de vida, sua boa obra ficaram com todos os que de uma forma ou de outra, conviveram com ele.
Obrigada, Mário por seu respeito e amizade, por seus ensinamentos, por me ensinar a gostar de boa música, por me incentivar a ajudar ao próximo. Obrigada, acima de tudo, pelos ensinamentos que você me deu com seus atos, eles ficaram comigo e comigo seguirão sempre.
Feliz vida eterna, amigo. Parabéns!

domingo, abril 14, 2019

Gatilho... Um pouco de minha história com a NP

Esse post é para quem conhece o que é Narcisismo Materno ou Família Narcisista. E é para quem quer entender, sem ler em tratato psicológico.
Se você acredita que Toda Mãe é Boa e quer continuar acreditando, fuja de minhas postagens marcadas como Gatilho.
Se ficar aqui depois do aviso, é por sua conta e risco...
Faz tempo que não posto sobre mim...
Hoje eu gostaria de falar um pouco sobre minha vivência como filha de NP. E, sei que esse é um post para afastar muita gente que conhece a adora minha genitora...
Infelizmente, quando um filho de pais abusivos procura ajuda, ele espera apoio, mas, não encontra, principalmente, porque tem muita gente que prefere conciliar que resolver problemas. No caso de famílias abusivas, se alguém ajudar, pode livrar um filho até da morte. O caso dos irmãos João Vitor e do menino Bernardo são exemplos de Abusos Narcisistas que alguém tentou conciliar e, não deu certo, todos os trê estão mortos e seus assassinos daqui a pouco estarão em liberdade...
Buscar apoio e sempre a pior fase. Até porque ela é cíclica. Vivi isso por anos, esperando apoio externo.
Tinha de minha avó, que me salvava quando as coisas ficavam terríveis, mas ela morreu quando eu tinha entre 8 e 9 anos.
Daí em diante, fiquei sozinha no mundo. Fiquei sem ser ouvida e entendida até os 16 anos.
A família que me deu e dá apoio moral, espiritual, emocional e muitas vezes financeiro, é uma família normal e feliz, uma senhora sem estudo nenhum, um dia olhou nos meus olhos e disse: "essa menina sofreu tanto". E me deu colo e ensinou seus filhos me acolherem. Sempre fugi para lá quando as coisas ficavam ruim e eu não tinha piso.
Quando eu desempregava e não tinha como alugar uma casa, ela me aceitava na casa dela. E conversava comigo, ria das minhas asneiras. Nunca disse que minha np era certa. Nem a minha e nem a de outros filhos de np que ele aceitou em casa e amou muito.
Sabe fazer o café como você gosta? Fazer pão caseiro porque você chegou? E sempre dizer que você é importante e que vale a pena? Eu tinha isso com eles. Com todos os 5 filhos dela, com o marido.
As pessoas diziam-lhe que eu mentia sobre meu sofrimento, um dia ela me disse: "Só conte sua dor para quem entende seu sofrimento. As pessoas gostam de saber onde tem a ferida não é para curar, e para jogar álcool e você sentor dor."
Como disse, tia Cândida, que era uma desconhecida, que, junto com sua família, me resgatou na rua, em um dia que minha cunhada me colocou fora de casa, não tem estudo nenhum. Tio João, o marido dela, entrou na Escola depois de aposentado, portanto, também, não tinha estudo. Ambos vieram de famílias amorosas. Na verdade, até os irmàos dos fois me aceitaram quando eu apareci... Foi entre eles que aprendi a me aceitar, a me ver - embora eu ainda hoje me veja desfocada em algumas situações. Afinal, as feridas impostas pelas np's são cicatrizes fáceis de abrir... E foi essa senhorinha quem me ensinou que antes de confiar, tenho que "ler" as pessoas. Que nem todo mundo que exige respeito e amor, ama e respeita.
Não sei porque sempre voltava ao convívio com a np... Sempre voltava. Sempre sofria. Sempre chorava. Mas, sempre tive um lugar para voltar.
Hoje meu contato com essa família linda é pela internet. Estou no grupo da família no whatsapp e Facebook, tenho todos como amigos aqui no Face.
Agora, quero falar porque frisei tanto que essas pessoas não tinham estudo.
Primeiro:  Minha np odeia gente sem estudo. Ela faz amizade com gente assim só para mostrar o quanto é magnânima. Uma mulher estudada, com filhos formados - que ela não formou, mas isso é um detalhe - que aceita conversar com simples mortais. Ela sempre desprezou minha avó, porque minha vómãe foi para a Escola de Alfabetização quando eu nasci, dizia que iria me ensinar ler - aprendi só, mas, vendo ela estudar na sala.
Segundo: Porque muitas vezes esperamos apoio de quem pode entender por estudar e para estudar, é óbvio, a pessoa precisa ler. Mas, não é assim, a empatia não se adquire lendo, ela é um processo de osmose, a pessoa sensível contacta sua dor e sentindo, coloca-se no seu lugar, apreende o significado de seu sofrimento.
Infelizmente nossa Sociedade está exigindo muito edtudo e desvalorizando o conhecimento empírico e é nesse ambiente que existe as experiências reais que você pode buscar para fazer com que outros entendam o Narcisismo. Basta perguntar: "Toda mãe que você conheceu é boa?" "Já ouviu falar de mãe que matou seu filho?"...
Com minha dor e experiência aprendi que muitas pessoas confundem educar com massacar, quando você conta que, por exemplo, sua mãe cantava, enquanto, pisando entre seu cabelo e pescoço, lhe surrava, as pessoas aceitam. Sim, a np cantava enquanto me batia... E as pessoas diziam no outro dia: " Nossa, como sua mãe cantou ontem! Que lindo!
Minha np batia sem deixar marcas visíveis. Já comentei várias vezes que ela nunca gritou. Ela gosta de manter a posse de mulher maravilhosa, que pisa na terra para fazer favor. Acho que o desprezo dela pelos mais pobres foi o que me fez gostar tanto de trabalhar com essas pessoas... Talvez, no fundo, era um jeito de eu me redimir com o mundo... A propósito, minha avómãe e avôpai, eram muito simples e solidários com os outros, ninguém passava fome perto deles, todos saiam com uma braçada de verdura, sacola de fruta, arroz, feijão, farinha e  carne  da nossa casa.
Bem... desculpem se me alonguei.
Bom domingo

quarta-feira, abril 03, 2019

Conto: Dizem que os cães vêem as coisas







Vamos falar de Contos?
          Um dos gêneros literários que mais me atrái é sem dúvida o CONTO. O Conto é uma espécie de Literatura que, mesmo sendo considerada de leitura rápida, prende o leitor e faz ele buscar mais, pensar e viajar. Bem, quem me conhece sabe que comecei minhas leituras com clássicos: Dom Casmurro; a Bíblia; Um certo capitão Rodrigo e outros livros que achava nas coisas de minha tia Ivan ou no lixo. Érico Veríssimo foi um dos que achei no lixo. Como também a Literatura Japonesa, praticamente tropecei em Yukio Mishima e suas Confissões. Mas, a bilioteca da tia, o lixo e a Faculdade me deixaram um vácuo enorme: Moreira Campos.
          Moreira Campos é um escritor que poucos falam, mas, de escrita elementar e, talvez, por isso, incompreendida. Entretanto, uma segunda olhada para seu legado literário daria aos leitores algo mais. E, com certeza, a ilusão de escrita concisa se desfaria. O autor de "Vidas Marginais" trabalha a palavra com certeza e sensibilidade, um verdadeiro engenheiro do verbo, desenha suas personagens com precisão estética, sem estender-se em detalhes, mas, sem perder a poesia. Sim, o Conto de Moreira Campos é marcadamente poético, como definia Monteiro Lobato, ao afirmar, em carta, ao amigo Godofredo Rangel: ''Sou partidário do conto, que é como o soneto na poesia."
           Para a escrita pouco difundida do escritor de "Dizem que os cães vêem as coisas", o Conto era sim, marcadamente "a narração de uma situação passageira na vida de uma personagem, com seu meio normal, só ou em relação com alguém", como vaticinou Silvio Romero, porém, sem perder essas características, amplia as nossas possibilidades de leituras. Entretanto, ao afirmar que sua escrita é poetica, não estou dizendo que seja romântica. Muitos de seus Contos são marcadamente cruéis, como "Os Doze Parafusos"...
          
           
José Maria Moreira Campos era cearense, de corpo, alma e coração, mas, sua escrita é ampla, multifacetada, nacional. É considerado um dos grandes escritores do seu Estado Natal e isso não é um desmérito, como pensam alguns estudiosos da Literatura, ao abominarem as marcas regionais das obras de alguns autores - não é o meu caso, para mim é uma arte saber trazer para a Escrita o seu ambiente, suas características pessoais, mas, não estamos falando de mim.
        O Conto que escolhi para mostrar a vocês poderia acontecer em qualquer lugar. Espero que gostem. 
E até mais...



Dizem que os cães vêem coisas

Moreira Campos

             Ela chegou diáfana, transparente, no vestido branco que lhe descia até os pés calçados pelas ricas sandálias de pluma. Ninguém lhe ouviu os passos. Sentou-se à beira da grande piscina, cruzando as pernas longas. Chegou antiqüíssima, atual e eterna, com a sua cara de máscara. Moldada em gesso? Apenas uma presença, porque pousou como uma sombra. Mas por um fragmento de tempo, um quase nada, reinou entre todos um silêncio largo, que se estendeu pelo vasto terreno murado da mansão ensombrada pelas árvores, dominou a enorme piscina e emudeceu as próprias crianças pajeadas pelas babás de aventais bordados, e vejam que as crianças são indóceis.
              Um presságio.
              Fragmento de tempo apenas, porque o homem gordo, de ventre imenso, saltou dentro da piscina com o copo de uísque na mão. Espadanou água por todos os lados, a piscina transbordou. Muitos se molharam, outros saltaram da cadeira de lona.
              - Bruto! – disse alguém íntimo, sem que ele se aborrecesse, bêbado.
              A onda de água despejou-se sobre Ela, que não se moveu: era trespassável e transparente. Floco de névoa pronto a esvoaçar. Permaneceu parada, a cara imóvel, nenhum ricto. Apenas parecia consultar no pulso um relógio invisível, para marcar o tempo.                  O homem de ventre enorme já estava à beira da piscina, gotejante e trôpego, para uma nova dose de uísque, os dedos graúdos catando no balde os cubos de gelo. Mulheres seminuas, o cordão do biquíni, as nádegas reluzentes de sol e gotas dágua. As rodas, as conversas, os garçons que circulavam, as bandejas de salgadinhos.
              Uns óculos escuros sofisticados no sutiã mínimo:
              - Por favor.
              O garçom atendia, solicito, perdendo os olhos ávidos nos seios mal contidos, oferecidos e inatingíveis.
              - Obrigada.
              O garçom mantinha a dignidade, ereto. A menina chegou e segurou a mãe pelo queixo:
              - Mãe-ê, quero uma coca-cola.
              A mãe não lhe dava atenção em flerte com o recente campeão de vôlei, uma estrutura de tórax (a mãe da menina contrariava-se apenas com o tufo de pêlos que ele tinha no peito, quase imoral). A menina impacientava-se:
              - Mãe-ê, uma coca-cola.
              - Deixa de ser chata!
              O campeão levantou-se para apanhar o refrigerante. Em roda mais distante conversavam os homens graves: a última medida do governo, a crise econômica.
              - O país vai à bancarrota.
              - Vai o quê?
              - A bancarrota.
              - Fazia tempo que eu não ouvia essa palavra.
              - Mas vai.
              Aceitava-se a bancarrota sem muita convicção. Na grande varanda, as senhoras grisalhas e indesnudáveis, pulseiras tilintantes na flacidez dos braços, discutiam os novos valores morais e comentavam o recente desquite.
              - A menina dela não tem um ano de casada.
              - É a segunda que se separa.
              - Como?
              - A segunda.
   maitre, porque era solene) curvou-se ao seu ouvido. Ela se livrou do violão, levantou-se e bateu palmas chamando todos para o almoço à americana, as mesas sob as árvores. Cada um apanhou o seu prato, formaram-se as filas, o homem gentil cedeu lugar a umas nádegas rijas, cortadas sempre pelo cordão do biquíni:


           Aniversário da dona da mansão, que se acompanhava ao violão com graça, aplaudida pelos que estavam em volta. O garçom (ou
              - Faz favor.
              - Obrigada.
              Os cães de raça latiam e uivavam desesperadamente nos canis (e dizem que os cães vêem coisas). Foi preciso que o tratador viesse acalmá-los, embora eles rodassem sobre si mesmos e rosnassem. A distância, a piscina quase olímpica, agora deserta: toalhas esquecidas. O vidro de bronzeador, o cinzeiro sobre a mesinha cheio de pontas de cigarro marcadas de batom.
              As filas. Alguém tangeu o gato que lutava com um pedaço de osso. Lenita fez o prato do marido, preparou também o seu. Mordia a fatia de peru com farofa, quando se lembrou do filho:
              - Cadê o Netinho?
              Certa angústia na voz. Chamou o marido, gritou pela babá, que se distraía com as outras na varanda. Olhos espantados e repentino silêncio talvez maior de qualquer outro. Refeições suspensas, uma senhora mantinha no ar o garfo cheio. Tentavam segurar Lenita. oEla se desvencilhava:
              - Cadê o Netinho? Cadê?
              As águas da grande piscina eram tranqüilas, apenas levemente franjadas pelo vento. Boiava sobre elas uma carteira de cigarros vazia. Mas a moça que se aproximava parecia divisar um corpo no fundo, preso à escada. Voltaram a afastar Lenita, o marido a envolveu nos braços possantes, talvez procurando refúgio também. O campeão de vôlei atirou-se à piscina e veio à tona sacudindo com a cabeça os cabelos longos: trazia sob o braço um corpo inerme, flácido, de apenas quatro anos e de cabelos louros e gotejantes.
              O médico novo, de calção, tentou a respiração artificial, e boca-a-boca (os lábios de Netinho estavam arroxeados), e levantou-se sem palavras e sem olhar para ninguém. Lenita soltou-se e agarrou-se ao filho:
              - Acorde, acorde! Pelo amor de Deus, acorde?
              Conseguiram afastá-la mais de uma vez, quase desmaiou. A amiga limpava-lhe com os dedos a sobra de farofa que se grudava ao seu rosto. Os cães de raça voltavam a a latir desesperadamente, e dizem que os cães vêem coisas.
              Lenita ficou para sempre com a sensação do corpo inerte e mole entre os braços. Uma marca, uma presença, que procurava desfazer com as mãos. Cabelos louros e gotejantes. Às vezes, ela despertava na noite:
              - Acorde, acorde!
              A presença também daquele instante de silencio que pesara sobre a piscina. Um pressentimento apenas? Precisamente o momento em que Ela chegara, transparente e invisível, e se a senhora à beira da piscina, cruzando as pernas longas, antiqüíssima, atual e eterna.
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Fonte: CAMPOS, José Maria Moreira. Dizem que os cães vêem coisas. Fortaleza: Edições UFC, 1987.

terça-feira, abril 02, 2019

Autismo - Precisamos falar sobre isso

     
    Hoje é dia da Conscientização sobre o Autismo.
          Essas datas ferem minha sensibilidade - sim, ainda tenho alguma. E fere-me porque acredito que o fato de sermos humanos e querermos a todo custo fazer outros acreditarem em nossa racionalidade, deveria, por si só, ser  elemento suficiente para aceitarmos o outro. Assim, falar sobre o Autismo, para conscientizar e sensibilizar, não deveria ser necessário. Entretanto, é necessário e obrigatório, porque há muitos que não respeita o próximo e vê as diferenças do outro como um incômodo social
          E eu sei que um autista gera desconforto. Agora, o incômodo é apenas para quem não conhece ou não tem paciência. Então, ainda precisamos falar no assunto. Ainda precisamos conscientizar.
          E nessa data resolvi dar meu depoimento sobre o Autismo.
          Conheci o Autismo e outras "diferenças" em salas de aulas biblicas e fui pesquisar, conhecer e entender o convívio.
         Quando comecei entender um pouco, encontrei barreiras entre quem deveria pensar no "cuidar": Família. Sim, meu problema era que muitas vezes os próprios pais não tinham ainda procurado ajuda. E não se interessavam. Alguém dizia que era deficiência mental, rotulavam de loucos e pronto, remédios fortes paea dormir - mesmo se a criança não apresentasse problemas de insônia. Remédios para limitar comportamento. E por aí vai. Entretanto, teve experiências que mudaram tudo para mim e hoje tenho agradáveis lembranças de crianças autistas que conviveram comigo e me amaram muito.
         Dois exemplos de vivência mais agressivos, foram o Nenezão, que não conseguia nem mesmo andar e o Emerson, que andava, mas, apesar de ter a capacidade de fala, só repetia comandos.
          Ensinar leituras e orações para eles era impossível, entretanto, companheirismo, amizade e troca de carinho foram conquistas grandiosas para eles e para mim.
          Do Reinaldo (Nenezão) afastei-me por mudança quando ele já tinha 18 anos, de todos os casos que acompanhei, foi o que mais me tocou, pois, fui sua professora muito nova, quem me passou o cuidado a ele, passou exatamente como cuidadora, eu que tentei ensinar. Cores, perfumes e texturas transformaram o universo dele. E me preparam para outras experiências.
          Emerson não evolui no plano individual, porém, entendeu o contato com outros, aprendeu fazer amizades além de mim e, mesmo com o vocabulário muito pequeno, consegue manter conversações sociáveis.
          Tudo depende de boa vontade. E lidar com o outro, seja ele considerado igual, também exige boa vontade.

Até a próxima...

IP Casa de Oração - Rua Moreira Neto, 283 - Guaianases - São Paulo

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Gióa Júnior