Não acredito que ele está morto.
E hoje, se aqui estivesse, estaria fazendo 72 anos. Também não dá para acreditar que ele envelheceu...
Quem é ele?
Mário Hashimoto. Levei anos para entendê-lo. A água fazia o curso normal ou subia o barranco, ele continuava na dele, bonachão, complacente.
Duas vezes por semana aparecia no consultório. Tinha uma única exigência: Não marcar nenhum cliente para depois das 19:00.
Era seu horário sagrado: Atender pessoas que não podiam pagar pelo tratamento dentário. Pegava cada caso perdido e transformava em sorriso perfeito.
E não ligava muito para agradecimentos não. Preferia a amizade.
Encontrou algumas verdadeiras e, como todo benfeitor, encontrou muita ingratidão e esquecimento. Aceitava os amigos, era indiferente com os ingratos, tratava a ambos com educação e simplicidade.
Homem culto, jamais desprezou os incultos, pelo contrário, admirava a sabedoria dos que não tinham estudado.
Fiquei muitas vezes até meia-noite no consultório com ele. Só ele, eu e o paciente da vez, a pessoa que ele escolhera para ajudar.
Sabia que o sorriso era uma das formas de refazer as raízes do amor próprio. E como falava sobre isso, como insistia para que as pessoas se amassem mais.
Nunca o vi nervoso. Nem quando o documento de seu carro se extraviou e ele não pode vender.
Não se irritava com as cobranças de horários dos outros sócios, apenas vivia sua missão.
Convivemos alguns anos juntos, fora do ambiente de trabalho. Tinha seu próprio jeito de ajudar o próximo, de entender os aflitos e de respeitar quem sofria.
Um grande homem. Daqueles heróis que existem e mesmo de uniforme, passam despercebidos. Seu heroísmo estava em atender com amor aqueles que por qualquer motivo acabaram perdendo o sorriso, já que era desnecessário, pois perderam antes o motivo de sorrir.
Muitos idosos esquecidos em asilos, menores rejeitados em internatos e angustiados que viviam perdidos, ele socorreu com sua caneta de alta rotação, Seu boticão e seu olhar meigo.
Era cristão. Daqueles que seguem a Cristo e não homens. Foi o primeiro japonês que vi se confessar cristão.
O conheci quando eu tinha 18 anos e convivi com ele com idas e vindas até os meus 32 anos.
Não o revi mais, depois que voltei do Rio. Nos tornamos amigos de Orkut. Depois veio meu acidente e como nunca partilhei sobre isso na Internet, não nos revimos mais.
Em 2017 ele partiu. Deixou-nos. Mas, sua história, seu testemunho de vida, sua boa obra ficaram com todos os que de uma forma ou de outra, conviveram com ele.
Obrigada, Mário por seu respeito e amizade, por seus ensinamentos, por me ensinar a gostar de boa música, por me incentivar a ajudar ao próximo. Obrigada, acima de tudo, pelos ensinamentos que você me deu com seus atos, eles ficaram comigo e comigo seguirão sempre.
Feliz vida eterna, amigo. Parabéns!
Folhei-me, olhe-me com carinho, ou como o desejo te permitir. Sou teu livro, abra-me com cuidado, para que eu possa durar sempre mais. Este não é um blog qualquer, são as páginas de minha vida. Descubra-me aos poucos... Leia-me!
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