sábado, maio 28, 2011

— Ser negro é ruim, perguntou o menino loiro. — Não respondeu o negro: Onde começa o preconceito?

.Existem coisas que acontecem na vida e as pessoas não dão o devido valor.

Criança Branca em
oração
Eu, no entanto, sou observadora do que as pessoas falam. Algumas não conseguem entender, por exemplo, como sou capaz de guardar praticamente todo o diálogo do sermão do Pastor na igreja.E sei que não é comum isto, pois até ele consegue se surpreender com o que consigo captar de seu raciocínio quando posto na pa´gina da Igreja. (http://www.sc-sercristao.blogspot.com/)
Só que vou falar não tem nada a ver com religião, seja ela qual for, é sobre humanidade, sobre quem gera os preconceitos.

O fato se deu por volta de 6 anos já, mas me lembro desde os olhares envolvidos, até as palavras infantis. O Brian, meu sobrinho, era um menino de quase 6 anos então E o caso se deu com ele.
Ele era proibido de ir para a rua, dado a idade e tamanho, e para ficar alguns minutos na pracinha adulava de todas as formas as 3 tias, a Creuza, que Deus já levou, a San (Nil) e eu. Fazia de tudo. Era capaz de nos comprar com chocolates - que ele fazia uma  tia comprar para a outra.

Neste dia vítima escolhida fui eu. Cheguei na casa da Nâno, com um livro debaixo do braço e ele ficou olhando interessado. Perguntas peculiares da idade, mas o interesse era saber se eu já lera. Disse que não, pois vinha de longe, mas neste dia a dor de cabeça - falta de meu café - não deixara abrir o livro. Ele correu conseguir café pra mim e de 5 em 5 minutos voltava perguntando se tinha melhorado.


Na terceira vez vi qual era seu interesse - rua. Dei mais um tempo na conversa e me ofereci logo. Afinal, pobrezinho, tão preocupado, não é?

E lá  esqueci da cabeça, do menino e da vida, me apeguei ao livro como um náufrago à uma madeira e fiquei a ler, deitada na pracinha Gonçalo Ravasco, em frente a nossa casa.

Algum tempo depois chegou uma senhora muito branca e sentou-se por perto. Mantinha a bolsa agarrada ao corpo e o olhar fixo no Brian.
 Sabe instinto? Pois é, acho que foi isto. Tirei os olhos do livro e olhei aquilo. A mulher olhava atenta para o filho, um garoto bem loirinho, que corria pela praça, na verdade, no miolo da praça. O garoto se interessou pelo Brian que nesta época ainda tinha paciência com o resto do mundo.

Logo aquelas duas cabecinhas cheias de ideias estavam a cavoucar o chão. Acho que pretendiam chegar ao Japão ou coisa assim.

A mulher permanecia tensa, agarrada a bolsa como um Judas Iscariotes agarrava a "mucuta' que o Senhor recebia de oferta ou sei lá como. Os olhos temerosos não desgrudava do filho e eu percebia que ela nada dizia pois volta e meia o Brian erguia os olhos e me perguntava: a senhora está melhor?

Olhando para mim, que estava então com os cabelos lisos e curtos, quase Chanel - imagine aí a cara de lua cheia - de pele clara perto de meu sobrinho, meus cabelos extremamente loiros - muita tinta, ela, por certo,  imaginava que eu fosse a mãe ou algo assim.

Terminaria por aí, se não acontecesse algo.

Na conversa dos meninos, o loirinho, mais novo, porém tão esperto quanto meu sobrinho, perguntou pra ele:

— VOCÊ É NEGRO?
— Sim, respondeu.
— E não se importa de ser negro?
— Não - respondeu de novo, agora sorrindo.
— Na sua casa todo mundo é negro? - perguntou o outro.
— Meu pai, meu irmão e eu. Minha mãe não é. Ela usa Henê - (Pelúcia, médio, como eu hoje, para baixar a juba).

Enquanto isto, a mulher nem aí. Com cara de medo estava, com cara de medo continuou.

E os meninos:
O loirinho de novo.
— E ser negro é ruim.
— Não. É legal, respondeu. - Virou-se perguntou sobre minha cabeça e continuou a fuçar o buraco com a varetinha.
— E você gosta de ser negro?
E meu sobrinho, sorrindo perguntou, em resposta:
— E você gosta de ser loiro?
O menino riu e respondeu:
— Sim, todo mundo é loiro.
Meu sobrinho, que ainda não tinha grande percepção de Universo respondeu de volta:

( O Brian - na verdade Braiann em questão - e a prima.
— Não Juninho, todo mundo não. Só você e minha avó.
O menino retrucou:
— Minha mãe também.
E me sobrinho:
— Sim, igual minha tia. Viu? - E me apontou, explicando. - Ela pinta o cabelo. E continuou:  -Loiro de verdade, Juninho, tem olho azul.

A mulher ia falar alguma coisa, mas meu olhar, que sorria para conversa, fechou-se irado em sua direção.

E meu sobrinho, continuou. 
— As pessoas Juninho, são igual caixa de leite. Não importa o que você vê fora. Só interessa é que e é leite.
O menino, sorriu e disse: 
— Que legal.
Pensou um instante e perguntou de novo.
— E todo leite é leite, "né"? 
— Sim, não interessa a marca. ( Aqui na verdade ele citou duas marcas, mas não vou receber desconto, não vou dizer quais).

E a mulher, que não aguentou mesmo ficar calada, levantando, retrucou meu sobrinho:

— Sim tudo é leite, mas tem uns que são de marca melhor.
E meu sobrinho - sorrindo.
— E sim, senhora dona Branca, mas os leites de marca (citou 2) também "estraga".
Ergueu-se, me deu a mão e disse:
— Vamos tia, mamãe vai fazer outro café para você.


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Beleza Negra
Você pode perguntar como foi que deixei este diálogo acontecer. No entanto, quando minha irmã resolveu ter filhos, muitas pessoas disseram que eles sofreriam preconceito já que ela em vez de clarear a família, estava escurecendo casando com uma pessoa "de cor". Ela disse que não permitiria que eles fossem discriminados, mas que isto se daria com inteligência.



E sempre ensinou a eles - são 2 - que se deve respeitar as pessoas pelo que elas representam. E não pelo que elas possuem. Ela diz para els que as pessoas são apenas casca, que o que vale é o que está dentro, que quando pensamos em alguém especial, dificilmente falamos das características físicas, falamos dos sentimentos, das qualidades que estas pessoas possuem.



Não digo que eles não tenham sofrido discriminação, mas em nosso meio - somos pobres - é menor. No entanto, quando acontece, ela deixa a coisa rolar, pois por serem bem embasados os meninos sempre tiveram boas respostas a dar.



O leite mesmo, que estraga, foi ele que teve a ideia ali, quando tentou explicar sobre como as pessoas são iguais, em essência.



E pode crer, enquanto saíamos da praça e seguíamos para nosso lar, de portão velho de madeira, a casa mais pobre da vila, ele seguia rindo de outra coisa. Esquecido do acontecido, pois teve resposta para dar. Mas a mulher ficou lá com a mão estendida para um filho, mas com o olhar fixo no menino de 5 anos que lhe dera a maior resposta que por certo ela recebeu na vida.







Eu tomei meu café delicioso, nem contei o caso em casa. Anos depois sim, mas não naquele dia.



E ela, por certo, ficou ouvindo ricochetear na memória:







— E sim, senhora dona Branca, mas os leites de marca também "estraga".

Por, Elisabeth Lorena Alves






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