quarta-feira, setembro 17, 2008

Dona Djanira Antonio ALves

Anônimos, porém nem tanto
Dona Djanira Antonio Alves

Imagino sempre o que é de fato o anonimato. Milhares de pessoas vivem sonhando com seus míseros 15 minutos de fama, fazendo de tudo para tornarem – se celebridades instantâneas.Jornais, revistas e toda a mídia publicam dia a dia a vida de pessoas e, em muitas das vezes, estas nada acrescentam à nossa História. Deveriam continuar anônimas.
Do outro lado existem anônimos que deveriam ser célebres, pois, esquecidos e desconhecidos da mídia em geral, acrescem à nossa História, pelo pleno exercício da Cidadania.
Pessoas que como a Dona Dja – Djanira Antonio Alves, fundadora da Associação de Moradores de Bairro Guaianases - brasileira comum, costureira por profissão, batalhadora incomum, que ficou esquecida por nosso Bairro.Hoje paraplégica,devido um AVC, vivendo com a família na Bahia.
Ano após ano, esta mulher de fibra, cristã honrada, fez história. O serviço social nasceu nela devido a necessidade de atender aqueles que não tinham sua força e determinação.
Por anos enfrentou com valentia, horas a fio, caminhada pelo CEASA – SP, pedindo doação. Ao fim do dia, caminhão nem cheio, nem vazio, ia de Box em Box, comprando verduras, frutas e legumes e, depois de cheio o carro, partia de volta a Guaianases.
Horas mais tarde, noite a dentro, selecionando ativa, o que dava para aproveitar. Os melhores doava. De vila em vila, de favela em favela, apertada na Azulão – uma piruá trintona que completava tarefa ao amanhecer. Cidade Tiradentes, Nova Guaianases, Vila da Miséria, Malvinas, Roseira, Fanganielo, todos atendidos com suas doações.
Depois de selecionados, ao que aparentemente não eram aproveitados para consumo “in natura” ela transformava em purê, compota, tempero e sopão. Uma nova luta, atrás de Mercados e Padarias para conseguir pão para distribuir com a sopa nas madrugadas e nas favelas. E a sopa era distribuída com bolacha e pão e o povo agradecia.
Provavelmente o prato de sopa da tarde ou madrugada seja hoje uma de suas lembranças, lá na Bahia, onde ela mora hoje. Guaianases não lhe disse um único “Muito Obrigada”.
Quando partiu deste bairro que amava, indo de volta para a sua terra natal, não foi levada pelos carros de Bombeiros, como heroína que é. Foi numa ambulância, de forma anônima.
Até o ano de 2000 tivemos seu trabalho ativo, quando um dia, um surto de hipertensão e uma medicação errada – leite com sal – levaram – na para a cadeira de rodas, sem forças até para articular palavras.
Confesso que sempre esperei que um dia ela se recuperasse e espero ainda.Peço a Deus que permita-me vê-la. Então lhe direi que Guaianases lhe deve ainda.
“Muito obrigada Dona Dja, que Deus te recompense, por que nós, além de pobres que ainda somos, continuamos ingratos.”

Elisabeth Lorena Alves

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