Semana que passou recebi de presente dois textos. Pássaro Azul e Estrangeiro. A autora?
Regina Ruth Rincon Caires.
E o que eu achei deles?
Belíssimos. Ambos entrarão para minha plataforma de aula social. Mas hoje vou falar do primeiro.
Regina Ruth Rincon Caires.
E o que eu achei deles?
Belíssimos. Ambos entrarão para minha plataforma de aula social. Mas hoje vou falar do primeiro.
Pássaro Azul
Pássaro Azul é um relato, com narrador padrão na terceira pessoa e, no entanto, o texto deixa tanto à interpretação do leitor. Abusa da forma escrita elaborada, mas tem um vocabulário acessível, amplo. A repetição do verbo girar, no infinitivo, em uma das frases abre a interpretação extratextual e abarca outros termos já citados no texto: desconforto; invasiva claridade; holofote; desconforto; descompasso. A palavra diferente, separada em sílabas, estabelece uma comunicação com um sofrimento e logo depois a autora apresenta o Estigma, e o faz em força de sentido, dando voz e personalidade a ele: palavra Estigma. E aqui podemos nos lembrar que normalidade é um fenômeno criado pelo homem e que por ela, estabelecemos valores de superioridade e inferioridade:
[...] Somos nós (os normais) que construímos as teorias sobre o estigma, elaboramos uma ideologia que justifica a inferioridade do outro, baseada na idéia que representam para a sociedade. Muitas vezes essas teorias representam racionalizações de animosidadades, baseadas em diferenças como aquelas de classe social”(GOFFMAN, Irving, Estigma, p.5).
Ao apresentar o termo codinome, Regina grava com fogo algo doloroso nos olhos e pele do leitor e reforça a ideia do Estigma, como apresentada no fragmento acima. E continua construindo seu campo de significados com frases como: ecoou nos pensamentos; inocentes nove anos; reiteradamente dita. O texto, sem apresentação externa, já mostra a dor que esse narrador apresenta, e, que essa dor pertence à um Universo específico. Ao entender de que se trata, ele se torna um hino, uma voz que representa o universo Azul, posto no título do Conto.
De forma simples, a autora leva seu narrador a fazer redundâncias perfeitas, dando uma veste de poesia ao seu texto. Só que se engana quem crê que ela introduz esse recurso poético como uma marca estilística. Ela ainda está reforçando o campo semântico ao dizer os dois conjuntos sequenciais: lábios/falavam; olhos/fitavam. E então ela quebra, fazendo um retorno ao tema do estranho: gestos de espanto/ dirigiam. E, é quando ela engana o leitor, apresentando-lhe uma verdade incômoda, que está ali o tempo todo: "E, ironicamente, ele não falava. Ouvia silenciosamente, mudo."
De forma simples, a autora leva seu narrador a fazer redundâncias perfeitas, dando uma veste de poesia ao seu texto. Só que se engana quem crê que ela introduz esse recurso poético como uma marca estilística. Ela ainda está reforçando o campo semântico ao dizer os dois conjuntos sequenciais: lábios/falavam; olhos/fitavam. E então ela quebra, fazendo um retorno ao tema do estranho: gestos de espanto/ dirigiam. E, é quando ela engana o leitor, apresentando-lhe uma verdade incômoda, que está ali o tempo todo: "E, ironicamente, ele não falava. Ouvia silenciosamente, mudo."
Essa ironia ela coloca o tempo todo. Quando começa falar que os brinquedos giram no ar, ela apresenta carros e trens, objetos da terra. A criança que gosta tanto de girar e voar, não encontra no texto nenhum objeto do ar. Falta-lhe aeronaves, pipas, balões e afins. Tudo gira, não voa. É uma busca incessante de liberdade, que no ambiente de casa, dá sempre no mesmo lugar, por isso gira, é cíclico.
Ele só é livre à beira do precipício, quando observa, ansioso, o voar dos pássaros, que descem, sem mover as asas rumo ao chão e quando próximos da terra, abrem-nas e sobem em um voo que maravilha a criança. Incrivelmente é a figura paterna que lhe permite esses momentos de prazer e que também os interrompem. E a entrada do menino ao mundo, mais uma vez é um retorno incomodo, como foi o nascer: confuso; complicado; incômodos, são as palavras que permeiam o instante do retorno.
Ele só é livre à beira do precipício, quando observa, ansioso, o voar dos pássaros, que descem, sem mover as asas rumo ao chão e quando próximos da terra, abrem-nas e sobem em um voo que maravilha a criança. Incrivelmente é a figura paterna que lhe permite esses momentos de prazer e que também os interrompem. E a entrada do menino ao mundo, mais uma vez é um retorno incomodo, como foi o nascer: confuso; complicado; incômodos, são as palavras que permeiam o instante do retorno.
O ensaio para a liberdade é um exercício indolor de contínua vivência. E o final, surpreendente, suspenso e real.
Um texto magnífico para falar de uma situação que aflige muitas famílias: o Autismo.
Ao ler, percebemos a dor de quem vive, de quem é e de quem conhece um autista e não sabe como chegar de fato a ele. Retrata as dificuldades diárias dos dois lados, sem florear uma realidade desgastante. Texto excelente.
Indico a todos.
SERVIÇOS
Em breve em uma livraria próxima de você. O texto faz parte de uma Antologia.
Em breve em uma livraria próxima de você. O texto faz parte de uma Antologia.
PS. Ainda vou montar um plano de aula sobre ele.
PS. 2. Texto será utilizado por outra professora, aqui de Manaus, com Ensino Fundamental e Médio.
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