Pedro Arruda - Fragmentos
Início do Livro 3 – Leonel Arruda.
Pedro Arruda
Era uma manhã fria e chuvosa. Sentada à beira do caminho, uma mulher chorava, tendo no colo um meninozinho magro que dormia. O chão de terra batida, denunciava o passeio diário de carroças e cavalos. Era a passagem central da pequena vila. As árvores outonais perdiam suas vestes diminuindo as copas e eliminando as chances de qualquer ser se esconder sobre seus ramos.
A mulher sentada sobre as pedras tinha os olhos cálidos e mesmo as lágrimas e tristeza não conseguiam apagar o brilho natural de uma beleza impar. A seu lado jazia esquecidos uma mala mal fechada, um véu e um cachorro que conhecera dias melhores que gania triste.
Pedro Arruda andava entretido em sua bela charrete, tocando sua harpa, indiferente as tristezas do dia que nascia sem sol e quase sem vida. Não notava as folhas que caiam pelo chão, a água da chuva fina e o frio. Dentro de sua charrete seguia feliz a meditar no futuro que se descortinava a sua frente. Casando-se com uma Lopes deixaria para trás seus dias de andarilho e artista mal remunerado.
Tudo bem que até a presente data vinha se arranjando com sua arte, mas sabia que havia músicos melhores no país e seu talento não fora devidamente reconhecido. O mundo era sempre injusto com ele. Agora seguia para a casa simples onde morava com sua doce Julia e seu filhinho. Pena Julia ser uma pobre órfã, se fosse uma herdeira como Sara Lopes, já teriam se casado, mas agora, com o casamento com a rica jovem paulista, ele poderia dar apoio a Julia. Dar conforto a mulher que amava.
Quando a charrete passou pela curva da estrada, o condutor parou-a de repente. Pedro irou-se pois tinha presa de chegar ao vilarejo onde estava sua Julia, quando gritou sua indignação ao condutor, ele avisou-lhe que a dama estava na estrada.
A dama? – pensou Pedro confuso. No entanto o choro delicado de Julia entrou em seus ouvidos. Ele ergue-se rápido e a viu ainda sentada na estrada indiferente ao cocheiro que se aproximava dela dizendo que o amo a esperava no carro. Pedro a colocou na charrete aflito e ela começou sua choradeira incrível. Nada do que dizia podia ser compreendido. Era um amontoado de miados forte e nada mais. A única coisa que entendeu fora que a Polícia invadira o casebre deles e exigiram que o deixasse.
Clóvis, o condutor da charrete tomou outro caminho, sem nada perguntar a Pedro e os levou a Estalagem. Ali Pedro hospedou-se com sua pequena família.
Ao ver aquela que amava tão doente, Pedro prometera a Deus em suas orações desesperada que se ela e o filho sobrevivessem aquela enfermidade, ele mudaria e se casaria com ela. Disse-lhe entre um delírio e outro que deveria ser forte pois eles iriam se casar e viver em algum lugar bem bonito, onde criaria Germano.
Seu sonho de se aças a com a rica herdeira sendo esquecido ao ver a doce Julia sofrer dia a dia, sem esperança.
No quinto dia Julia acordou mais corada e o médico, que veio vê-la pela manhã, disse que se ela continuasse a melhorar assim, no final da semana seguinte poderiam seguir viagem.
Na manhã seguinte veio a surpresa que mudaria a vida do esnobe e intratável Pedro, Julia e o pequeno Germano amanheceram mortos. A chuva fina e o frio acabaram por destruir as poucas forças da bela mulher e nem mesmo o tratamento indicado pelo médico da vila pudera restaurar-lhe as forças, nem o menino escapara.
Pedro enterrou a mulher e o filho na mesma cova, no cemitério da pequena vila. Um médico, Clóvis e ele foram as únicas pessoas que prestigiaram o enterro daquela que fora a razão de sua vida e que ele deixara só.para correr atrás da rica herdeira dos Lopes..
Clovis, seu fiel escudeiro e cúmplice em suas atividades ardilosas, viu um vulto no cemitério e o seguiu, mas não conseguiu encontrar a pessoa que observava o enterro de forma tão interessada, escondido entre as árvores.
No momento da dor, Pedro não deu atenção ao fato e assim deixou para trás a oportunidade de criar uma situação favorável para seu intento. A dor de perder seus queridos o impedia de perceber que alguém realmente o seguia e que para livrar-se das especulações futuras deveria criar uma desculpa favorável a seus planos.
Ao voltar a São Paulo encontrou toda a família de Sara revoltada contra ele. Sabiam que ele tinha uma mulher e filho na cidade do Rio e que esta morrera. A cisma de Clóvis era verdadeira. Alguém realmente o seguira e descobrira seu segredo.
Pedro não conseguiu enganar os Lopes, mas ele conhecia as fraquezas da noiva, conseguiu convence-la de que seus familiares não gostavam dele e eram capazes de inventar qualquer desculpa para impedir o casamento.
Não houve nada que a família Lopes dissesse ou fizesse que mudasse o coração de Sara. Assim, numa manhã de inverno, alguns meses depois da morte de Julia, Pedro levou Sara embora da casa de seus pais. Casaram-se escondidos, alegando um amor incondicional, o padre, que conhecia a doce menina, não conseguia ver em Pedro o monstro desalmado que os Lopes viam. Era um dos que torciam pelo amor do jovem e belo casal.
Maria Lopes morreu de desgosto,meses depois, o que veio a ferir o doce coração de Sara. Que não se perdoava pela decisão precipitada.
Meses depois nasceu Jair. Sara o teve sozinha no mesmo casebre que Julia vivera com Germano. Nem um vizinho ou amigo por perto, só a floresta e o lago a cantar pela janela, um canto de morte. Três dias depois Pedro os encontrou, a princípio prensou que ambos estavam mortos, mas logo ouviu o choro fraquinho do menino.
Sara não teve nem mesmo uma cova, seu corpo ficou esquecido na velha casa e Pedro seguiu com a mala e o filho, que pretendia deixar no primeiro orfanato que encontrasse. Na mala que fora de Sara havia apenas algumas roupas de bebe que ela fizera com os forros de seus vestidos de festa e suas anáguas de algodão, uma foto com moldura dourada estava esquecida no fundo falso da mala, junto com uma carta de amor, que não chegara às mãos de Pedro.
Dois anos depois, durante uma apresentação musical, onde ela fazia uma participação tocando ao piano, conheceu Flora Correia. Flora se apaixonou de pronto pelo belo menino e seu pai. Para desespero de sua família, que vinham em Pedro um aproveitador e não um sofrido viúvo, que era como ele se apresentava.
Este era Pedro Arruda, um homem que sabia sempre adequar sua situação de modo a conseguir alcançar seus objetivos. Conseguia transformar qualquer fato contrário a seu favor, como fizera com o nascimento do pobre Jair, que desistira de encaminhar a um orfanato, para utiliza-lo em uma nova conquista
Pedro Arruda
Era uma manhã fria e chuvosa. Sentada à beira do caminho, uma mulher chorava, tendo no colo um meninozinho magro que dormia. O chão de terra batida, denunciava o passeio diário de carroças e cavalos. Era a passagem central da pequena vila. As árvores outonais perdiam suas vestes diminuindo as copas e eliminando as chances de qualquer ser se esconder sobre seus ramos.
A mulher sentada sobre as pedras tinha os olhos cálidos e mesmo as lágrimas e tristeza não conseguiam apagar o brilho natural de uma beleza impar. A seu lado jazia esquecidos uma mala mal fechada, um véu e um cachorro que conhecera dias melhores que gania triste.
Pedro Arruda andava entretido em sua bela charrete, tocando sua harpa, indiferente as tristezas do dia que nascia sem sol e quase sem vida. Não notava as folhas que caiam pelo chão, a água da chuva fina e o frio. Dentro de sua charrete seguia feliz a meditar no futuro que se descortinava a sua frente. Casando-se com uma Lopes deixaria para trás seus dias de andarilho e artista mal remunerado.
Tudo bem que até a presente data vinha se arranjando com sua arte, mas sabia que havia músicos melhores no país e seu talento não fora devidamente reconhecido. O mundo era sempre injusto com ele. Agora seguia para a casa simples onde morava com sua doce Julia e seu filhinho. Pena Julia ser uma pobre órfã, se fosse uma herdeira como Sara Lopes, já teriam se casado, mas agora, com o casamento com a rica jovem paulista, ele poderia dar apoio a Julia. Dar conforto a mulher que amava.
Quando a charrete passou pela curva da estrada, o condutor parou-a de repente. Pedro irou-se pois tinha presa de chegar ao vilarejo onde estava sua Julia, quando gritou sua indignação ao condutor, ele avisou-lhe que a dama estava na estrada.
A dama? – pensou Pedro confuso. No entanto o choro delicado de Julia entrou em seus ouvidos. Ele ergue-se rápido e a viu ainda sentada na estrada indiferente ao cocheiro que se aproximava dela dizendo que o amo a esperava no carro. Pedro a colocou na charrete aflito e ela começou sua choradeira incrível. Nada do que dizia podia ser compreendido. Era um amontoado de miados forte e nada mais. A única coisa que entendeu fora que a Polícia invadira o casebre deles e exigiram que o deixasse.
Clóvis, o condutor da charrete tomou outro caminho, sem nada perguntar a Pedro e os levou a Estalagem. Ali Pedro hospedou-se com sua pequena família.
Ao ver aquela que amava tão doente, Pedro prometera a Deus em suas orações desesperada que se ela e o filho sobrevivessem aquela enfermidade, ele mudaria e se casaria com ela. Disse-lhe entre um delírio e outro que deveria ser forte pois eles iriam se casar e viver em algum lugar bem bonito, onde criaria Germano.
Seu sonho de se aças a com a rica herdeira sendo esquecido ao ver a doce Julia sofrer dia a dia, sem esperança.
No quinto dia Julia acordou mais corada e o médico, que veio vê-la pela manhã, disse que se ela continuasse a melhorar assim, no final da semana seguinte poderiam seguir viagem.
Na manhã seguinte veio a surpresa que mudaria a vida do esnobe e intratável Pedro, Julia e o pequeno Germano amanheceram mortos. A chuva fina e o frio acabaram por destruir as poucas forças da bela mulher e nem mesmo o tratamento indicado pelo médico da vila pudera restaurar-lhe as forças, nem o menino escapara.
Pedro enterrou a mulher e o filho na mesma cova, no cemitério da pequena vila. Um médico, Clóvis e ele foram as únicas pessoas que prestigiaram o enterro daquela que fora a razão de sua vida e que ele deixara só.para correr atrás da rica herdeira dos Lopes..
Clovis, seu fiel escudeiro e cúmplice em suas atividades ardilosas, viu um vulto no cemitério e o seguiu, mas não conseguiu encontrar a pessoa que observava o enterro de forma tão interessada, escondido entre as árvores.
No momento da dor, Pedro não deu atenção ao fato e assim deixou para trás a oportunidade de criar uma situação favorável para seu intento. A dor de perder seus queridos o impedia de perceber que alguém realmente o seguia e que para livrar-se das especulações futuras deveria criar uma desculpa favorável a seus planos.
Ao voltar a São Paulo encontrou toda a família de Sara revoltada contra ele. Sabiam que ele tinha uma mulher e filho na cidade do Rio e que esta morrera. A cisma de Clóvis era verdadeira. Alguém realmente o seguira e descobrira seu segredo.
Pedro não conseguiu enganar os Lopes, mas ele conhecia as fraquezas da noiva, conseguiu convence-la de que seus familiares não gostavam dele e eram capazes de inventar qualquer desculpa para impedir o casamento.
Não houve nada que a família Lopes dissesse ou fizesse que mudasse o coração de Sara. Assim, numa manhã de inverno, alguns meses depois da morte de Julia, Pedro levou Sara embora da casa de seus pais. Casaram-se escondidos, alegando um amor incondicional, o padre, que conhecia a doce menina, não conseguia ver em Pedro o monstro desalmado que os Lopes viam. Era um dos que torciam pelo amor do jovem e belo casal.
Maria Lopes morreu de desgosto,meses depois, o que veio a ferir o doce coração de Sara. Que não se perdoava pela decisão precipitada.
Meses depois nasceu Jair. Sara o teve sozinha no mesmo casebre que Julia vivera com Germano. Nem um vizinho ou amigo por perto, só a floresta e o lago a cantar pela janela, um canto de morte. Três dias depois Pedro os encontrou, a princípio prensou que ambos estavam mortos, mas logo ouviu o choro fraquinho do menino.
Sara não teve nem mesmo uma cova, seu corpo ficou esquecido na velha casa e Pedro seguiu com a mala e o filho, que pretendia deixar no primeiro orfanato que encontrasse. Na mala que fora de Sara havia apenas algumas roupas de bebe que ela fizera com os forros de seus vestidos de festa e suas anáguas de algodão, uma foto com moldura dourada estava esquecida no fundo falso da mala, junto com uma carta de amor, que não chegara às mãos de Pedro.
Dois anos depois, durante uma apresentação musical, onde ela fazia uma participação tocando ao piano, conheceu Flora Correia. Flora se apaixonou de pronto pelo belo menino e seu pai. Para desespero de sua família, que vinham em Pedro um aproveitador e não um sofrido viúvo, que era como ele se apresentava.
Este era Pedro Arruda, um homem que sabia sempre adequar sua situação de modo a conseguir alcançar seus objetivos. Conseguia transformar qualquer fato contrário a seu favor, como fizera com o nascimento do pobre Jair, que desistira de encaminhar a um orfanato, para utiliza-lo em uma nova conquista
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