quarta-feira, janeiro 09, 2019

Saudades da Irmã Maria Dias

   


 O que eu andei nessa vida! De casa em casa, recebendo às vezes muito amor, outras vezes migalhas de afeto, mas há uma história que eu trago comigo.

    Tinha dez anos e vivia o dia todo na casa da irmã Maria Dias. Ao anoitecer voltava para casa. Eu amava ficar lá. Era uma rua pavimentada, com poucos carros passando, atrás da Escola Municipal Madre Joana, no Jardim Soares. Os filhos dela e do irmão Carlos brincavam na rua e eu ficava às voltas do Nenezão (Reinaldo Dias). Ele foi o primeiro Autista que conheci. Obviamente que criado sob remédios, por ordenes médicas, ele me fazia ser alguém alegre. Por motivo que desconheço ele interagia comigo. Eu aprendi entender o que ele queria e isso o acalmava. Brincávamos por horas.

    Acontece que os pais do Nenezão eram os caseiros da Igreja da Rua Inácio Moreira - Assembleia de Deus, Ministério de Mogi das Cruzes. Nessa época o presidente era o Pastor Jorge Leite. Entretanto, a congregação do Jardim Soares era dirigida pelo Pastor Sodré. Ele tinha o hábito de mandar a gente olhar para a esposa dele de um jeito bem humorado - olhas as coisas que lembro! 

  


 Geralmente eu corria para casa quando ele chegava para começar a oração. É que nesse tempo todos os cultos começavam com um tempo de Oração. Falo dele porque ele era outra pessoa que percebia o Nenezão como gente. Porque sim, não é novo  as pessoas tornarem os que são diferentes de si, seres invisíveis.

    Pensar nessa minha fase me traz sentimentos complexos, mas saber que aquele menino lindo recebia meu carinho e eu recebia dele o mais puro amor, me traz uma calma que me deixa bem leve.

  



 Confesso que passar horas ali naquela casa, brincando do Nenezão, até ele dormir. Ajudar, lavando louças e ouvindo disco de vinil, era uma oportunidade de ser feliz que eu nem sabia, de forma consciente, que era por isso que eu me arrastava, apesar de minha tristeza matinal até ali. 

    Tive que esconder desde muito cedo a dor pela perda de minha avó-mãe, Dona Eulina e, de algum modo, a irmã Maria Dias, com toda sua corrida diária, reservava alguns minutos para orar por mim. Era um carinho que eu recebia sem entender bem. Hoje sei que ela conhecia meu sofrimento e por isso aceitava que eu ouvisse Guiomar Victor, Alceu Pires, Ozeias de Paula, porque sim, eu só ouvia eles, todos os dias, por horas!

 


   
A propósito, eu comparava a irmã Maria Dias com a cantora Guiomar Victor,, para mim elas eram parecidas, sendo que a irmã Maria era mais bonita.  Perdi o contato com os Dias no início do ano 2000... Quando voltar a viver em São Paulo, vou procurar sua família lá no Bairro de Miguel Badra, região de Poá.

    Por agora, fico aqui, esperando meu momento "Feliz Aniversário", porque hoje faço mais um aninho...



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