Minha iniciação cultural se deu de forma bem estranha para alguns, curiosa para outros e conhecida dos demais brasileiros.. Isto porque minha primeira leitura foi a Bíblia.
Na verdade aprendi a ler por que queria conhecer aquele livro gigante que habitava a casa de minha finada avó. Ela também aprendera a ler para conhecer melhor seu livro de fé. Ela era uma senhora idosa quando decidiu decifrar as letras que compunham a Bíblia Sagrada. Isto nos idos anos 70. Ela não sabia ler, apesar de falar muito bem. Quando nasci ela estava aprendendo a ler na Igreja (Igreja União Pentecostal – Vila Iolanda- Guaianases). Ia lá quase todas as noites e voltava com seu caderninho de brochura cheio de caracteres indecifráveis para a garotinha de trança, de apenas 3 anos que ali vivia, sob sua sombra e proteção.
Pode parecer poético, mas era assim que eu via mamãe, afinal era assim que todos os adultos da casa a chamavam, exceto vovô que a tratava com carinho por Lina.
Lina na verdade era Eulina Gonçalves dos Santos. Uma senhora de cabeça algodoada que vivia entre a cozinha e a máquina de costura, mas que não despregava seus olhinhos do seu caderno.
Este exemplo de persistência me fez ver que na verdade ler era algo bom e iniciei com dificuldade, mas com rapidez, antes de completar 6 anos já lia muita coisa. Dado meu tamanho avantajado e o fato de ler, muitos achavam que na verdade eu era repetente, quando fui à Escola pela primeira vez.
Na verdade, voltando aos meus hábitos de leitura iniciado na época, para muitos, de forma precoce, comecei por ler as Bíblia, meu segundo livro foi Caminho Suave e me divertia com aquelas historietas curtas para alfabetização. Era um tal de Fábio, Didi e Bebe noite e dia. Tinha outros livros infantis que aos poucos fui descobrindo nas coisas de tia Ivana (Josefa Ivan) que guardava a sete chaves a história da família de gatos, a Cinderela, Monteiro Lobato e outros livros e autores.
Quando fui à escola pública percebi que estava bem adiantada. Imagine que na primeira série a professora me mandou fazer uns traços e curvas e ainda tinha que cantar “sobe e desce, sobe e desce” para aprender a desenhar a letra C. Serra serrador para aprender a escrever o S, tudo inútil, já que nesta época eu já conhecia Machado de Assis, que eu odiava, mas como não tinha o que ler, servia ele mesmo.Hoje é um de meus autores prediletos. Como a gente muda de idéia!
Anos depois conheci Charles Chaplin através de uma figura feita na parede do Espaço cultural. Era um garoto desenhado ao lado de um cachorrinho esquálido. Fiquei encantada olhando a figura, quando um dos garotos que ia ali me disse a quem se referia. Meu horizonte de garota pobre e sem cultura se ampliou naquela tarde. Ai dali direto para a Biblioteca Infanto-Juvenil Cora Coralina para pedir um livro que tivesse o tal de Charles Chaplin. Lembro até hoje que o Luiz – ele ainda estava lá em 2007 – me deu revistas e me deixou lá.
Vários dias lendo sobre Charles Chaplin, quando voltei o Luiz veio com outras coisas, inclusive um dicionário, que eles não deixavam os alunos pegarem. Ali conheci coisas magníficas. Nesta época também conheci Sergio porto, ou melhor, Stanislaw Ponte Preta, pela mãos do mesmo Luiz.
Biblioteca Cora Coralina - Guaianases |
PS. Vale lembrar que de tudo que relembrei aqui, o que mas me marcou foi o esforço voluntário de minha avó em conhecer a língua Portuguesa para ler a Bíblia. Ela falava um pouco de italiano e espanhol, acredito que tivesse maior facilidade nestas línguas pois aprendera em casa.
Anos depois fui voluntária no Projeto Ler e Escrever da Igreja Universal onde ensinava muitos idosos a conhecer nossas letras.E ainda lecionei, como voluntária, na educação de Adultos do CIJ-Guaianases, na ACOFRAPI no Projeto de Pré Vestibular desta instituição. foram experiências magníficas. Que por certo são resultados dos sonhos daquela senhorinha que partiu cedo demais em minha humilde opinião.
PS 2 - Para constar, pelo que sei, a Igreja União Pentecostal de Guaianases foi a primeira lecionar para adultos, ainda na década de 70. Grande exemplo de Cidadania quando ainda este exercício não era moda.
Parabéns para eles.
PS - Reencontrei a partir deste texto o Professor de minha mãe. Seu nome Ezildo Bispo. Este senhor ao lado. Hoje um grande jurista!
Elisabeth Lorena Alves
Olá
ResponderExcluirMe desculpe por tocar em outro assunto, mas eu aprndi a ler, que engraçado, na Igreja União Pentecostal de Guaianases, nos idos anos 70; só para constar.
Parabéns por sua vida.
Abraços
Lucas Eugênio
Bplucaseugennio@hotmail.com
Bp Lucas Eugênio
ExcluirQue bom que tocasse neste assunto, que bom que mais alguém tenha lembrança deste trabalho.
Estou procurando mais informações para postar algo sobre o assunto.
Entre mais vezes e conheça também o meu trabalho como cristã...
É maravilhoso saber que as pessoasn ainda reconhecem um trabalho tão belo como este feito pelo Bispo Ezidio em sua primeira juventude.
Graça e Paz.
Elisabeth Lorena Alves
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir